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Problemas para se enturmar podem atrapalhar vida na faculdade

William Maia

Do UOL, em São Paulo

11/03/2013 06h00Atualizada em 09/04/2015 19h08

A mudança da escola para a faculdade é cheia de percalços. A escolha da profissão, a "via crucis" do vestibular, a decisão de sair ou não da casa dos pais. Desafios que fazem desse um momento de transição na vida do jovem. E quando finalmente se chega na universidade, podem surgir outros problemas, como a dificuldade de se enturmar em um ambiente novo e altamente competitivo.

Segundo Alessandra Turini Bolsoni Silva, professora de psicologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), pesquisas mostram que estudantes com dificuldade de fazer amigos e de se inserir no novo grupo de colegas podem ter seu desempenho acadêmico prejudicado. “Se a socialização e o desempenho ficam prejudicados, a probabilidade de abandonar o curso também é bastante alta”, diz a pesquisadora.

Alessandra observa que a chegada na faculdade representa uma transformação significativa na rotina do estudante, o que traz obstáculos adicionais para a sociabilidade. “Essa mudança implica em ter que cuidar das próprias coisas, interagir com pessoas que não conhece, deixar de estar com os pais e com o namorado todos os dias. Não é simples”.

O psicoterapeuta Leo Fraiman alerta que o estudante deve ter calma na hora de se enturmar, para evitar comportamentos que incomodem ou causem antipatia nos demais colegas. "Da mesma forma que uma pessoa leva anos para formar seus amigos na escola, há todo um processo para criar laços de valor na vida universitária  Isso leva tempo, até mesmo para encontrar pessoas com valores afins aos seus", afirma.

O ambiente universitário também pode ser um desafio segundo Maria Fátima Olivier Sudbrack, professora da faculdade de psicologia da UnB (Universidade de Brasília). “Na universidade, muda muito a forma como o aluno é acolhido. No ensino fundamental e médio, eles são muito tutelados, na universidade é exigida uma maior autonomia. Muitas vezes um estudante pode confundir essa autonomia com autossuficiência e se isolar, o que não é positivo”, argumenta.

Faculdades e os professores também poderiam ter o papel proativo de facilitar essa socialização, afirma a professora, especialmente nos primeiros semestres do curso. Para ela, as instituições tem falhado em planejar essa “chegada” dos calouros.

No entanto, Maria Sudbrack adverte que não se deve confundir indivíduos com problemas de socialização com alunos com personalidade mais reservada. “Não são todos os alunos que precisam ser comunicativos e ter muitos amigos. É preciso ter cuidado para não patologizar uma conduta que pode ser apenas um traço da personalidade do aluno”.

A-E-I-O-U das relações

Fraiman aponta cinco dicas para uma boa integração na chegada à faculdade: 
 

  • A de afeto - Ser afetuoso, gentil e bem educado sempre abre portas
     
  • E de entusiasmo - Ser aquele que se empolga com as aulas e atividades mostra que você não será qualquer um, e isso atrai gente boa por perto
     
  • I de inteligência - Quem lê, se interessa, mostra saber a importância do bom rendimento, ganha pontos com os bons colegas e ainda abre mais portas de empregabilidade
     
  • O de organização - Seja disciplinado, mantenha uma boa rotina de estudos e seja focado. Estar entre os cinco primeiros de sua turma, ajudando, claro, aos demais. Seu espaço no mercado começa com atitudes assim
     
  • U de ultrapassar limites - Vá alem, leia os livros indicados na íntegra, entre na internet e estude as aulas antes mesmo antes delas serem ministradas para participar proativamente. Isso é charmoso e garante uma visibilidade diferenciada, como aquele que se torna útil de estar por perto

Timidez e terapia

Para Alessandra Silva, nos casos em que o estudante se sente frustrado por não conseguir se enturmar não deve ser descartada a possibilidade de procurar acompanhamento psicológico, que muitas vezes está disponível na própria universidade.

Mas antes é possível tentar superar a timidez. “Num primeiro momento, é importante buscar ajuda da família para suprir essa atenção e esse afeto”, sugere. “Isso até que novas relações sejam feitas. O aluno deve tentar fazer novas amizades, se aproximar de pessoas da sua turma para ter com quem conversar e trocar experiências”.

“Se a pessoa durante toda a sua vida teve boas interações sociais, a chance de continuar tendo na universidade é maior. Mas nunca é tarde para desenvolvê-las”, garante a pesquisadora da Unesp.