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Para sindicato, expansão criou universidades de ponta e "escolões"

Cristiane Capuchinho

Do UOL, em São Paulo

10/06/2013 06h00

A grande expansão das universidades federais implementada através do Reuni, a partir de 2007, criou dois tipos de instituições públicas de ensino superior: universidades tradicionais estruturadas com tradição em pesquisa de pós-graduação e instituições mais recentes focadas nas aulas de graduação. Essa é a avaliação do Andes-SN (sindicato de professores do ensino superior), responsável pela organização de uma greve que durou quase quatro meses nas federais em 2012.

“O Reuni criou dois tipos de universidades diferentes, as instituições de elite, que fazem pesquisa, e os ‘escolões de terceiro grau’, em que o foco são as aulas da graduação. O Reuni aprofundou um desmonte da universidade pública baseada no tripé do ensino, pesquisa e extensão”, afirma Marinalva Silva Oliveira, presidente do Andes-SN.

Entre 2007 e 2011, as federais aumentaram em 63,7% o número de vagas presenciais oferecidas. As vagas passaram de 159.448 a 261.090 postos, segundo o Censo da Educação Superior.

No mesmo período, o crescimento no número de professores foi de 25,2%, chegando a 70.710 professores, segundo estudo feito pela Andifes (associação de reitores das federais), MEC e UNE (União Nacional dos Estudantes): "Análise sobre a Expansão das Universidades Federais 2003 a 2012" (veja em .pdf).

O aumento de vagas sem o crescimento proporcional de professores, técnicos e infraestrutura levou instituições antigas e com infraestrutura criada, como a UFMG e a UFRJ, a intensificarem o uso de seus laboratórios e de seus professores.

“Na UFMG, foi adotado com sucesso um modelo de aulas em que o professor tem o apoio de tutores da pós-graduação, normalmente doutores, para dar as aulas da graduação, fazer atendimentos e aplicar atividades”, explica o professor aposentado Jacques Schwartzman, que estudou o Reuni na instituição. De acordo com o pesquisador, é um modelo já usado em instituições nos EUA ou na Europa.

“A primeira impressão é de que não haveria uma sobrecarga sobre os professores, mas isso precisa ainda ser estudado e medido muito bem”, pondera.

Já em instituições novas ou unidades criadas, não havia uma estrutura a ser intensificada. Assim, para dar conta das aulas necessárias para os alunos ingressantes, tiveram de dar atenção prioritária ao ensino, dizem professores.

“Os concursos não estão suprindo a quantidade necessária de docentes, os professores estão tendo que se sobrecarregar com as atividades da graduação, para dar andamento aos cursos, isso prejudica a dedicação à pesquisa e esta acontece por compromisso e teimosia do professor, que fazendo jus a sua qualificação de mestre ou doutor deseja dedicar-se às atividades de pesquisador”, afirma Kátia Lima, professora da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) que pesquisa o programa de expansão. 

Outro lado

O secretário da educação superior do MEC, Paulo Speller, discorda da avaliação. "Você tem diferentes categorias de universidades. A situação de falta de professores ou laboratórios acontece em casos pontuais. De uma forma geral, as universidades federais têm condições que as permitem atingir níveis de excelência", disse. 
 
"Não se trata apenas de uma expansão quantitativa, mas uma expansão também qualitativa", afirma. "[As universidades tinham] um déficit muito grande de professores, de técnicos-administrativos e de recursos. Havia todo um passivo de anos anteriores a serem recuperados. O Reuni não é um projeto só de expansão, mas também de reestruturação das universidades".