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Exercício sobre 'afinidades' de meninos e meninas gera polêmica no Facebook

O exercício pede para que os alunos relacionem vários itens de acordo com a afinidade de meninos e meninas. - Reprodução/Facebook Mamatraca
O exercício pede para que os alunos relacionem vários itens de acordo com a afinidade de meninos e meninas. Imagem: Reprodução/Facebook Mamatraca

Do UOL, em São Paulo

24/10/2013 16h21Atualizada em 17/11/2013 14h23

O exercício de uma apostila do ensino fundamental da Editora Positivo tem gerado polêmica no Facebook. Chamado por muitos internautas de “sexista” e “machista”, o material pede para que os alunos relacionem vários itens de acordo com a "afinidade" de meninos e meninas.

Entre os itens listados no exercício estão: brincar de boneca, jogar futebol, brincar de carrinho, usar biquíni e sutiã, cuspir no chão, usar gravata, usar cabelo comprido, usar brinco, usar saia, lavar louça e ajudar a arrumar a casa.

A polêmica começou quando Soraya Souza, tia de uma garota de 11 anos, divulgou uma carta e uma foto na rede social criticando o exercício. “Em pleno dia dos professores, minha irmã fez com ela a tarefa da foto que segue em anexo. Minha irmã debateu com ela tópico por tópico [do exercício], mas se horrorizou com o conteúdo e com a aceitação da escola”. A criança, que estuda em uma escola de Natal, marcou quase todos os itens para homens e mulheres.

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No Facebook, o assunto logo virou debate. Na página do site “Mamatraca”, a publicação tinha mais de 2.300 compartilhamentos e mais de mil comentários sobre o caso.

“Reproduzindo o machismo, o sexismo, o atraso... revivendo a idade média, retrocedendo a passos largos!”, comentou uma mulher. “Não sei qual a postura de vocês, mas a imagem acima se refere a um exercício com pretensões didáticas e ideologia sexista sim”, afirmou outra pessoa no link da imagem.

“Lavar louça e arrumar a casa?? Isso foi uma tentativa machista de dizer que lugar de mulher é na cozinha versão pra crianças? Que absurdo”, comentou um leitor na postagem.

Houve, porém, quem defendesse o exercício didático como forma de ampliar o debate sobre relações de gênero na escola. “Eu vi a proposta de atividade como uma excelente maneira de discussão para acabar com esse reforço de comportamentos só de meninas ou de meninos. O que acontece é que nós adultos temos esse reforço internalizado e ao olharmos para a atividade nossa resposta natural seria separar o que é de menino e o que é de menina”, defendeu outra pessoa.

Posicionamento

Em nota, a Editora Positivo disse que a intenção não era impor padrões. Veja a seguir a íntegra do comunicado:

A Editora Positivo considera legítima a preocupação com o tema e a relevância da questão. Entretanto, esclarece que a finalidade do exercício apresentado não é impor padrões ou corroborar com estereótipos de gênero. A atividade é parte de um contexto onde o objetivo é justamente promover o debate para combater relações autoritárias e questionar a rigidez dos padrões.

O manual do professor, que acompanha todos os livros da coleção, contém orientações metodológicas (OMs) ao docente para conduzir essa atividade, com o objetivo de subsidiar a ação do professor e abrir a discussão a todas as possibilidades que possam surgir no decorrer da aula.

Para conhecimento, seguem abaixo as orientações que acompanham essas atividades:

- Conduzir e acompanhar a conversa dos alunos, a fim de que seja mantido o respeito às opiniões, aos hábitos e personalidade de cada um.

- De acordo com os PCN Pluralidade Cultural e Orientação sexual (BRASIL, 2001) "A discussão sobre as relações de gênero tem como objetivo combater relações autoritárias, questionar a rigidez dos padrões de conduta estabelecidos para homens e mulheres e apontar para sua transformação. A flexibilização dos padrões visa permitir a expressão de potencialidades existentes em cada ser humano que são dificultadas pelos estereótipos de gênero. Como exemplo comum, pode-se lembrar a repressão das expressões de sensibilidade, intuição e meiguice nos meninos ou de objetividade e agressividade nas meninas. As diferenças não devem ficar aprisionadas em padrões preestabelecidos, mas podem e devem ser vividas a partir da singularidade de cada um, apontando para a equidade entre os gêneros".

Reiteramos que a Editora Positivo considera importante o debate sobre a questão e informa que o material que será utilizado pelos alunos em 2014 foi alterado a fim de promover um debate mais aprimorado entre os alunos sobre este tema.