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"Brasil deve ir além do Ciência sem Fronteiras", diz British Council

Marcos Jorge

Da Unesp

07/11/2013 11h30

John Bramwell tem mais de duas décadas de experiência como gestor do ensino superior no Reino Unido e há quatro anos atua como diretor e consultor de educação superior do British Council para as Américas. Segundo o britânico, o momento da internacionalização das universidades brasileiras é de avançar em relação ao programa Ciência sem Fronteiras.

Bramwell foi responsável pela fala de encerramento do seminário Impactos e Tendências da Internacionalização da Educação Superior, organizado pela Unesp e pelo British Council, no último dia 29 de outubro. O britânico, que morou um ano em São Paulo e atualmente vive no México, argumentou que após o impacto internacional positivo do programa Ciência sem Fronteiras, é hora de as universidades do país focarem na atração de pesquisadores e alunos estrangeiros.

O diretor também comentou o desempenho das universidades brasileiras nos rankings, relativizando a importância destas listas de avaliação, e afirmando que a queda do Brasil se deve à melhora das demais instituições: "quando falamos de internacionalização e qualidade de pesquisa, ficar parado não é uma opção".

O Brasil investiu alto no programa Ciência sem Fronteiras na expectativa de promover a internacionalização do seu ensino superior. China e Índia fizeram o mesmo e já colhem os frutos com indicadores que apontam melhoras na qualidade de suas pesquisas. Existe um modelo a ser seguido quando se fala em internacionalização?

Eu acho que existe um modelo para países emergentes onde você pode começar por um programa de mobilidade externa, como o Ciência sem Fronteiras (CsF), mas em algum momento você precisa buscar a atração de pessoas. E isso é muito mais difícil de fazer. Para a mobilidade externa, você precisa de dinheiro e pagar as pessoas para irem. Para trazer pessoas, você precisa se preocupar com idiomas, adequação do currículo, uma série de novas questões. Acho que é preciso retomar a idéia inicial do CsF que dizia que também é preciso atrair pesquisadores. No momento, o foco principal está em viabilizar o envio de pessoas.

Acho que quando os brasileiros olharem para além do Ciência sem Fronteiras é que o trabalho começará de verdade. É preciso olhar para a atração de estudantes e pesquisadores, entender o que a internacionalização significa para os pesquisadores locais e como estabelecer acordos duradouros com outros países, para não ter que gastar montanhas de dinheiro enviando alguns privilegiados para estudar no exterior.

Para países emergentes conseguirem atrair pessoas é preciso, por exemplo, introduzir o inglês no currículo. É preciso também resolver o problema dos créditos. Os alunos não virão se eles não conseguirem créditos pelos estudos que fizerem aqui. No momento, nós temos um problema com isso.

Acredito que a questão dos créditos pode ser resolvida em curto prazo, mas o problema do idioma inglês é mais complicado. Leva anos até você implantar o idioma no currículo escolar, qualificar professores para ensiná-lo e ainda dar proficiência para pesquisadores, professores e estudantes, não?

Definitivamente não é fácil, mas o inglês se tornou uma língua franca para a internacionalização. Citações de artigos para pesquisa ao redor do mundo são baseadas no inglês, por exemplo. É um equivoco pensar que um curso rápido na universidade pode resolver o problema. É um longo caminho a percorrer e que começa ainda no ensino médio.

É um longo caminho, mas que a China parece estar resolvendo.

Eles estão resolvendo, mas ainda não está completamente resolvido. Mas como a China é um país tão grande, os números sempre surpreendem. Quero dizer, a China poderia ser o país que mais recebe cientistas, mas ainda seria pouco se compararmos com o tamanho da população do país.

Rankings e pesquisas apontam para uma melhora significativa na qualidade das publicações chinesas e isto não está necessariamente relacionado com a população, ou está?

Não, não está. Mas recentemente eles focaram sua atenção na qualidade de suas publicações e na reforma do currículo, por exemplo. Assim como o Brasil, eles tem uma pesquisa muito forte, mas ao publicar em inglês, eles conseguem mais reconhecimento internacional.

Recentemente a THE publicou o seu ranking mundial de universidades e as instituições brasileiras caíram de posição. Qual a real importância desses rankings para a tomada de decisões estratégicas dentro das universidades?

Os rankings preenchem uma lacuna. É o único motivo para as pessoas usarem rankings. O público e os administradores precisam de algo para se informar sobre universidades de outros países de uma forma independente, por isso usam rankings. Mas isto é o mais longe que você deve ir em relação a eles [os rankings]. Os critérios escolhidos podem ser questionáveis, mas eles são interessantes pelo que mostram ano após ano, não pela posição absolutas de determinada instituição. Olhando as informações durante um certo período de tempo, é possível ter uma ideia de como as coisas estão indo. A razão pela qual algumas universidades brasileiras caíram não é porque elas não são tão boas quanto eram antes, mas porque todos os outros melhoraram. Uma das mensagens da internacionalização e da qualidade da pesquisa é que ficar parado não é uma opção. Na realidade, acho que nem avançar vagarosamente é uma opção. Você precisa avançar rapidamente.

Mas será que os critérios de avaliação dos rankings criados por instituições europeias servem às prioridades das universidades brasileiras?

De fato, mas isso está relacionado à pergunta anterior, do motivo pelo qual você está olhando os rankings. Se você está olhando o ranking para analisar uma instituição parceira, então ele não vai lhe contar tudo. Quando o Ciência sem Fronteiras começou, o número de universidades britânicas era 22, hoje são mais de 70. E a razão disso é porque eles reconheceram que o ranking original que eles usavam não era forte o suficiente. Se você quisesse fazer uma conexão com engenharia de alta voltagem ou nanotecnologia, por exemplo, você precisava procurar uma instituição nessa lista, ao invés de procurar a melhor instituição nesta área. Com o aumento, você pode procurar a melhor instituição na área em que você atua. Agora, os brasileiros não estão procurando apenas as grandes universidades do Reino Unido e dos EUA, mas abrindo o leque para outros parceiros