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Alunos de medicina do Prouni reclamam de atrasos no pagamento de bolsa

Marcelle Souza

Do UOL, em São Paulo

21/02/2014 16h30Atualizada em 21/02/2014 18h23

Bolsistas de medicina do Prouni (Programa Universidade para Todos) de várias instituições de ensino do país ainda não receberam a bolsa permanência de R$ 400 referente ao mês de fevereiro. O valor é pago mensalmente a estudantes do programa matriculados em cursos de carga horária integral e que tenham renda familiar de até um salário mínimo e meio (cerca de R$ 1.000) por pessoa.

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Segundo os alunos, até meados de 2013 a bolsa era paga até o dia 15 de cada mês, mas a data tem variado muito nos últimos meses. Rodolfo Lopes, aluno do 5º ano de medicina da Estácio de Sá, diz que em dezembro o valor foi pago no dia 26, enquanto o depósito de janeiro foi feito antes do dia 10.

No site do Prouni, o MEC (Ministério da Educação) não define uma data fixa para o pagamento. Há uma referência apenas à necessidade de atualização dos dados pela instituição de ensino até o dia 15 de cada mês.

A reportagem apurou que o problema atinge várias instituições em diferentes Estados do país. Os estudantes ouvidos pelo UOL dizem que já procuraram as instituições de ensino e foram informados de que toda a documentação foi enviada dentro do prazo para o MEC.

MEC não se compromete a pagar

O problema é que no site do programa e no contrato da bolsa permanência, o MEC diz que assinatura do termo "assegurará apenas a expectativa de direito ao recebimento mensal da bolsa, ficando seu efetivo pagamento condicionado à disponibilidade orçamentária e financeira do Ministério da Educação".

No site, o MEC informa ainda que, caso a bolsa não seja paga em um mês, não há previsão de depósito retroativo.

"Esse benefício não é um favor, é dinheiro de tributos que a gente paga e tem que ter objetivos. Se você coloca um candidato em um programa contínuo e diz que apenas aqueles que cumprem os requisitos podem entrar no programa, não pode parar a bolsa no meio do caminho", afirma Anis Kfouri Júnior, presidente da Comissão de Fiscalização da Qualidade do Serviço Público da OAB/SP.

O especialista diz que, se o aluno assina um termo com o MEC, o órgão precisa sim se comprometer com o pagamento e a manutenção do estudante no programa. "É também um problema do ponto de vista da política pública, porque o dinheiro é para formar um profissional justamente na área que temos carência", diz o especialista.

Alunos sofrem com atraso

"Fico fora de casa o dia todo por causa da faculdade e não dá para ter um emprego fixo. Até vendo Avon na faculdade para complementar a renda, mas eu preciso da bolsa para pagar alimentação, transporte, xerox e material", diz. Rodolfo mora com a tia e o irmão é bolsista integral do Prouni desde 2010, quando começou o curso de medicina. Na Estácio de Sá, a mensalidade do curso é de R$ 4.813,03.

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Pior é o caso de Amanda Figueiredo Martins, 25, que saiu de Goiânia para estudar medicina na Estácio da Sá, no Rio de Janeiro. A realização do sonho só foi possível porque ela não paga a faculdade (bolsista integral) e recebe a bolsa permanência do governo --dinheiro que dá conta das despesas mais importantes.

"Eu moro com mais duas bolsistas do Prouni e estamos com contas atrasadas. Com a pouca ajuda que nossos pais conseguem mandar, a gente prefere comprar comida a pagar as contas", diz. "Sem a bolsa seria impossível me manter no Rio", completa Amanda.

"Na semana passada, eu tinha R$ 2 na carteira. A sorte é que almocei na casa de uma amiga todos os dias. No fim de semana, minha mãe conseguiu me mandar R$ 100. Fui ao mercado, comprei o mínimo e o que sobrou é o que tenho até o pagamento da bolsa", diz Thaís Ferrarini Tavares, 20, aluna de medicina da Unimar (Universidade de Marília) e bolsista integral do Prouni.

Na página dos bolsistas de medicina do Prouni no Facebook, que tem quase dois mil membros, os estudantes relatam atrasos e até a falta de pagamento em meses anteriores.

Atraso

Em nota enviada por volta das 18h desta sexta-feira (21), o MEC disse que o pagamento da bolsa permanência é feito com regularidade. "No ano passado, por exemplo, todos os pagamentos foram efetuados até o dia 7 de cada mês. Este mês, por conta de um problema operacional, o pagamento atrasou. O pagamento já está sendo regularizado".