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Docentes das escolas municipais do Rio ficam no lugar dos porteiros

Carolina Mazzi

Do UOL, no Rio de Janeiro

29/07/2014 12h16

Há cerca de dois meses, diversas escolas municipais do Rio de Janeiro estão sem o serviço de portaria. Os contratos firmados com a empresa Vpar, que terceirizava o serviço, chegaram ao fim e, aos poucos, as unidades escolares vão ficando sem os porteiros. A prefeitura afirma que um processo de licitação está sendo feito e, em breve, uma nova empresa deverá assumir o contrato. Em algumas unidades, professores, funcionários e até mesmo pais de alunos se revezam na função.

Como o desligamento da Vpar é feito gradativamente, nem todas as escolas estão sem porteiro. Mas, até o final do ano, quando todos os contratos se encerram, os mais de 600 mil alunos das 1.006 escolas municipais do Rio poderão ser afetados. Até lá, fica a cargo de cada escola decidir como substituir o serviço, afirma a prefeitura.

O sentimento de insegurança entre professores e pais de alunos é visível. Na Escola Municipal Mário Kroeff, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, a fuga de estudantes pelos muros, que já era comum, se tornou prática diária. A entrada de pessoas estranhas, brigas e confusões, dentro e fora do local, também estão mais habituais, segundo Eduardo Serra, professor de educação física da unidade.

“Trabalhar vem sendo frustrante, pois as condições são péssimas. Estamos sobrecarregados e cada um se vira como pode, ajuda, fica um pouco na porta. Temos também uma mãe, dona de casa, que tem nos ajudado voluntariamente, mas é difícil. A segurança aqui é péssima", diz o professor.

Na Escola Municipal Prudente de Morais, na Tijuca, zona norte do Rio, professores tentavam impedir a saída desordenada de crianças na quarta-feira (16). Na porta lateral, o cadeado só era aberto com a chegada de um responsável. Funcionários não quiseram comentar sobre a falta de porteiros na escola, mas os pais dos alunos sentiram muito a ausência dos profissionais.

“As crianças mais novas ficam vulneráveis, além, é claro, do apego afetivo. Elas já sabem o nome, o meu filho, por exemplo, quando entrou na escola, era muito apegado ao porteiro que trabalhava aqui. A gente sente muita falta, além de ficar com medo”, comenta Elaine Santana, mãe de aluno.

Glória Ribeiro é ex-porteira do Mário Kroeff e mãe de um aluno. Ela conta que a situação atual na escola é de caos completo e o sentimento de insegurança perceptível.

“Quando trabalhava lá, já separei muita briga de aluno, eram muitos alunos de outras escolas entrando para brigar com outros, muita confusão. Eles respeitavam mais a autoridade com o serviço de portaria, mas agora está ficando um caos. Peço para o meu filho tomar muito cuidado, inclusive na hora do recreio, tentar ficar dentro da sala”, comenta.

Segundo ela, o trabalho ia além dos cuidados do entra e sai da portaria. “A gente dá apoio ao inspetor, ajuda os alunos quando eles precisam, acaba que, como falta muita coisa na escola, a gente faz um trabalho de suporte grande. E agora eles perderam isso também. Eu lamento muito pelos alunos, mas também pelos professores e funcionários”, afirma.

Para Maria Inácia Barbosa, mãe de uma aluna, o processo foi traumático. “Não avisaram nada para a gente, ficamos sabendo quando chegamos aqui e vimos que eles simplesmente tinham sumido. Não teve nenhuma explicação", relata.

"A gente tem medo. Ter uma pessoa na porta ajuda, a gente sabe que ninguém estranho vai entrar na escola", comenta Laura, do quarto ano da Escola Prudente de Morais.

Secretaria

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que “os contratos com a empresa responsável por todo serviço de portaria, na rede municipal, estão se encerrando. Uma nova licitação está em andamento para dar continuidade ao trabalho nas unidades o mais breve possível”. Ainda não há prazo para a nova licitação.