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Escola pede atestado para aluna ir à aula; mãe diz que é bullying

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

27/08/2014 17h41

Para permitir que uma aluna de 12 anos, que pesa 146 kg, assistisse às aulas em uma escola da zona rural de Piracicaba, a Secretaria de Educação de São Paulo obrigou a mãe a assinar uma autorização em que isenta o Estado de responsabilidade caso a menor tenha algum problema de saúde. A mãe disse ainda que a garota sofre bullying e que a direção sugeriu que ela fosse retirada da escola.

“O diretor me fez assinar um termo me responsabilizando pela menina, caso a pressão dela suba, enquanto estiver na escola”, conta a vendedora Cláudia de Almeida Martins Rodrigues, 42.

A menina estuda na Escola Estadual Pedro de Mello, no distrito de Tupi, na zona rural de Piracicaba. Além de assinar o termo (o que ocorreu em 8 de agosto), o diretor enviou um ofício à Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), sob número 100/2014, pedindo um laudo que confirme se a menina pode frequentar as aulas.

No documento, a direção afirma que a menor tem problemas "relativos à hipertensão arterial, obesidade e fígado" e que o "comportamento ofegante chama a atenção dos que a presenciam, por ser fora do normal".

'Eu me senti ofendida'

A Unicamp enviou resposta à escola, na qual o médico Cássio Rodrigues Ferraz disse que a paciente "tem limitação temporária para atividades, mas não apresenta contra-indicação médica para as atividades escolares".

"Eu me senti ofendida. Minha filha é obesa e hipertensa, mas faz o controle com medicamentos. Isso não justifica um pedido desses, me senti exposta e humilhada, como minha filha", disse Cláudia. Segundo ela, a escola não pede documentos que atestem a capacidade de assistir às aulas a nenhum aluno.

Segundo a vendedora, a garota fez inúmeros exames para descobrir as causas da obesidade, mas até o momento nenhum problema de saúde foi identificado. Ela contou que a filha tem problemas de bronquite desde que nasceu e que faz tratamento médico na Unicamp há dez meses. “Mas não adianta, ela já engordou 23 kg nesse tempo. Eu tento controlar a alimentação, mas nada dá resultado. E os médicos ainda não acharam nada”, disse.

Ela explicou ainda que a menina já está na fila para fazer uma cirurgia bariátrica, mas que o procedimento só poderá ser realizado quando ela completar 16 anos.

Bullying

A menina usa roupa acima do número extragrande, só pode usar calças do modelo legging. O único calçado que cabe nos pés é um chinelo. Por conta do peso, também sofre bullying dos colegas. A mãe, inclusive, fez uma reclamação formal contra o diretor da escola por, segundo ela, permitir que a aluna fosse importunada.

"Os outros alunos a chamam de 'gorda', 'baleia' e dizem que ela não vai passar na porta do ônibus. E ninguém faz nada”, disse. “Dói muito em uma mãe ver a sua filha com problema de saúde, sofrendo bullying na escola e o diretor sem fazer nada”.

Segundo Cláudia, a situação ficou ainda pior depois que um dos gestores da unidade sugeriu que ela mudasse de escola. “Sei que ela chama atenção por ser muito grande, mas minha filha não é nenhum monstro. É uma criança como qualquer outra. Não entendo como fazem isso com uma criança", relatou a mãe.

A irmã da menina, de 13 anos e peso normal, chegou a ser suspensa após brigar com um colega que chamava a irmã de gorda. “Ela foi suspensa, minha filha, que foi xingada, teve que pedir desculpas, e quem xingou não sofre nenhuma punição. E como vou achar que isso é certo?”, disse Cláudia.

Dificuldades nas aulas de educação física

A Diretoria Regional de Ensino de Piracicaba informou, em nota, que “acompanha o caso junto à Escola Estadual Pedro de Mello e informa que as ações da direção da unidade tiveram como foco o bem-estar da estudante”. “Como a aluna apresentava dificuldades no desenvolvimento de atividades físicas, a escola indicou que a mãe a encaminhasse para avaliação médica a fim de verificar as suas condições de saúde e a possibilidade ou não de que a adolescente participasse das aulas de educação física”, diz a instituição.

Ainda segundo a Diretoria, a escola acatou a orientação médica. “A adolescente não frequenta mais as aulas de educação física e a equipe gestora continua a acompanhar a estudante e sua família. Cabe ressaltar, por fim, que a escola mantém, não apenas para este caso, ações de combate ao bullying desenvolvidas com todos os alunos e as orientações sobre respeito mútuo entre colegas são constantes”, disse.