Topo

Alunos apostam em aula de pôquer na Unicamp. Não é blefe, é estratégia

Fundamentos do Pôquer da Unicamp teve mais de 200 interessados para 120 vagas - Cristiane Kämpf/Assessoria de Imprensa da FCA Unicamp
Fundamentos do Pôquer da Unicamp teve mais de 200 interessados para 120 vagas Imagem: Cristiane Kämpf/Assessoria de Imprensa da FCA Unicamp

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

05/09/2014 06h00

Quem se inscreve em "Fundamentos do Pôquer" na Faculdade de Ciências Aplicadas, em Limeira já sabe: não haverá mesas de carteado na sala ou apostas. Nem vai aprender a jogar pôquer exatamente. Ainda assim, a sala estava com lotação máxima, 120 alunos, na última quarta-feira (3) quando as aulas começaram.

O que leva os alunos a procurarem a disciplina é a possibilidade de exercitar habilidades de um bom jogador -- boa capacidade de análise e rapidez na tomada de decisões em cenários com muitas informações, o que pode ser bem útil no mundo empresarial e no das finanças.

O blefe, uma das manobras mais conhecidas do pôquer, é um dos exemplos de treinamento para a vida corporativa -- nele, o jogador faz uma alta aposta, mesmo sabendo que não tem cartas muito boas e espera que sua estratégia não seja percebida.

Para quem acha que aplicar um blefe bem sucedido é questão de sorte, Lucas Constantino Delago, 22, ex-aluno da matéria, tenta desfazer essa ideia. "Não se faz um blefe se você não analisa o risco que vai correr de perder uma mão e o retorno que você terá. Blefar, seja nos negócios ou no pôquer, depende do cenário”, diz o estudante de engenharia.

Pôquer na Unicamp - Cristiane Kämpf/Assessoria de Imprensa da FCA Unicamp - Cristiane Kämpf/Assessoria de Imprensa da FCA Unicamp
'Formamos pessoas que irão liderar equipes, que terão que tomar decisões estratégicas', diz o professor Cristiano Torezzan
Imagem: Cristiane Kämpf/Assessoria de Imprensa da FCA Unicamp

Dedicação

O responsável pela disciplina é o matemático Cristiano Torezzan, que é jogador de pôquer. Ele explica que as aulas são teóricas -- a prática se dá no ambiente online com exercícios propostos pelo professor.

Para passar na matéria, os alunos precisam ter 75% de presença e determinada pontuação nos torneios pela internet -- que não envolvem apostas em dinheiro, avisa o professor. "Dessa forma, eles podem aplicar as teorias que aprenderam em sala, tendo como objetivo uma coisa importante, que é a nota”, explica. “Dessa forma, um aluno terá que analisar bem os riscos e os benefícios de uma jogada, se o blefe compensa ou não, por exemplo, para jogar.”

E, não, não tem prova final.

Equipe

Neste ano, a aula inaugural teve a presença de algumas estrelas do esporte, entre elas o campeão mundial da modalidade, André Akkari. Foram mais de 200 interessados para 120 vagas – a matéria mais procurada pelos estudantes pelo segundo ano consecutivo. A disciplina começou a ser oferecida no ano passado.

Akkari é professor convidado, assim como Igor "Federal" Trafane, Confederação Brasileira de Texas Hold'em (uma das modalidades do esporte) e outros nomes que ainda serão confirmados.

Torrezan explica que a aula é uma oportunidade de desenvolver uma atividade multidisciplinar: "Elaboramos um projeto onde juntamos o conhecimento matemático do jogo, a estratégia de negócios que o esporte necessita e o conhecimento de psicologia que é necessário para avaliar os adversários”.

"Em torneios ao vivo, um jogador precisa tomar, em média, duas decisões estratégicas por minuto. Em jogos online, este número pode chegar a mais de 20 decisões por minuto. Este cenário é o que faz do pôquer um esporte da mente que mais cresce no mundo", explica Torezzan.