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Jovem com Síndrome de Down e sua mãe passam em vestibular para gastronomia

Jacqueline Rotelli (à dir.) e sua filha Tatiane passaram em gastronomia - Reprodução/TV
Jacqueline Rotelli (à dir.) e sua filha Tatiane passaram em gastronomia Imagem: Reprodução/TV

Daniel Leite

Do UOL, em São José dos Campos (SP)

21/11/2014 06h06

Foi como juntar o útil ao agradável: Jacqueline Rotelli, 47, será caloura no curso de gastronomia junto com a filha Tatiane, 19, no primeiro semestre de 2015.

Como a família tem negócios no ramo, a capacitação no curso tecnólogo, de dois anos, será bem-vinda. Ao mesmo tempo, a mãe ficará mais sossegada -- além de feliz -- em acompanhar a filha que tem Síndrome de Down nas aulas.

Moradoras de Andradas, cidade mineira que fica cerca de 485 km da capital Belo Horizonte, mãe e filha devem percorrer diariamente os 25km entre sua casa e a faculdade, em Espírito Santo do Pinhal, que fica a cerca de 190 km de São Paulo. A nova rotina anima a dupla.

"Quero conhecer novas pessoas, aprender muito e ser desafiada”, diz Tatiane. De desafios, Tatiane entende: sempre estudou em escolas regulares e superou os obstáculos a sua inclusão, como o preconceito ou falta de preparo dos professores.

A trajetória sempre teve a participação da família. Quando os Rotelli se mudaram para um sítio na zona rural de Andradas, Jacqueline auxiliou Tatiane nos estudos por mais de quatro anos, sendo sua professora.

O ensino médio foi feito na cidade. E, logo mais, Tatiane participará da festa de formatura, uma "noite mágica", segundo ela, pela qual espera com ansiedade.

Jacqueline e Tatiane Rotelli, mãe e filha (com Down) que passaram juntas no vestibular - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Companheiras: mãe e filha estudavam juntas
Imagem: Arquivo pessoal

Barreiras

As dificuldades se estenderam até no momento de inscrição para os vestibulares. Jacqueline buscou informações com as faculdades e universidades. Segundo ela, a maioria não sabia explicar nem como deveria ser preenchido o campo que identifica deficiências dos candidatos.

“O que nos interessava é que minha filha realmente se sentisse estudante e aluna como todos, e que enfrentasse as mesmas dificuldades no vestibular”, afirma Jacqueline. A Unipinhal, instituição em que as duas farão o curso de gastronomia, ofereceu apoio pedagógico à Tatiane e a garota fez a mesma prova que os outros concorrentes.

Na visão da pró-reitora de graduação da Unipinhal, onde as duas estudarão, a entrada de Tatiane pode significar melhorias para a instituição. “Para nós é muito importante um projeto de inclusão. Temos um núcleo de apoio pedagógico, e a Tatiane pode até nos dar parâmetros para rever processos pedagógicos nossos”, explica Valéria Torres.

Calouras

Tatiane parece estar mais tranquila que a mãe com a nova fase: ela já pesquisa sobre gastronomia e anota tudo em seus cadernos. A jovem também já tem planos de abrir um restaurante com buffet para realizar casamentos, mas promete seguir ajudando os pais na cachaçaria e chocolateria da família.

Já a mãe admite o nervosismo. “Eu estou apavorada mesmo! Não sei como vai ser me tornar aluna junto com minha filha, se conseguirei acompanhá-la, pois ela está pronta para essa fase e eu já passei desse tempo!”, diz Jacqueline.

Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), no Brasil há 29.034 alunos com algum tipo de deficiência matriculados em cursos de graduação de faculdades públicas (9.406) e privadas (19.628). Desses, 566 possuem deficiência intelectual.