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Banheiros da Unicamp são pichados com mensagens contra transexuais

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

08/12/2014 15h38Atualizada em 30/04/2015 13h54

Alunas transexuais da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) denunciaram supostas ameaças e atitudes preconceituosas que teriam ocorrido em banheiros femininos da instituição. Fotos registradas pelas estudantes mostram que os sanitários têm sido palco de pichações transfóbicas, como “Vamos cortar a sua pica”; “Ser mulher não é calçar os nossos sapatos”; “Não deixe que os machos invadam seus espaços”.

Nesta segunda-feira (8), a doutoranda em teoria literária Amara Rodovalho, 29, que encabeça o movimento contra a transfobia na universidade, contou que as pichações começaram há cerca de duas semanas e vêm provocando revolta e ódio entre as quatro alunas transexuais do campus. “Quando eu vi as pichações no banheiro, fiquei com muito ódio. O banheiro é o lugar onde a gente vai para se sentir protegida. Eu estudo na Unicamp há dez anos e, no começo, eu chegava a evitar os banheiros femininos coletivos”, diz a doutoranda, que é transexual.

Amara afirma que já encaminhou o caso à Diretoria Acadêmica. “Vamos levar o caso ao Centro de Referência de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais de Campinas para que eles exijam que a Unicamp faça um programa de conscientização das pessoas que frequentam o campus”, disse.

A estudante acredita que é preciso conscientizar toda a comunidade, já que muitas vezes o preconceito vem inclusive de funcionários e professores. “Alguns têm dificuldade de aceitar nosso nome social, por exemplo. Além disso, há casos de pessoas que querem nos tratar como se fossemos do sexo que não reconhecemos. Nós somos do gênero que reconhecemos, independentemente do órgão genital”, disse.

Amara diz que uma estudante transexual abandonou o mestrado por não aguentar a pressão sofrida na instituição. Um outro colega trans entrou em depressão profunda após ter problemas com a família e não encontrar ajuda na assistência social da universidade. "No lugar de dar apoio, a assistente social o tratava no feminino todo o tempo. Com certeza, isso piorou a situação dele, que no momento é bastante delicada". Ela também informou que ele chegou a ser internado, mas já deixou o hospital. O aluno não tem frequentado as aulas.

Para a pesquisadora, o preconceito deve deixar de existir com a conscientização. “Como somos só seis em uma comunidade de cerca de 40 mil estudantes, falta o costume de ver pessoas trans no dia a dia. Infelizmente, a maioria dos estudantes ainda está acostumada a ver travestis e transexuais só na marginalidade ou em subempregos. Quando nos veem circulando pela universidade, trabalhando em bons empregos, se assustam e reagem”, comentou.

A doutoranda também disse acreditar que as pichações são manifestações individuais e isoladas. “Eu não acho que as pichações venham de grupos feministas, mas de mulheres isoladas, que se julgam feministas ao defenderem os interesses das pessoas que portam vagina original de fábrica”, concluiu.

Em nota, a Unicamp rechaçou os atos de preconceito e ameaças, mas não informou se vai adotar alguma medida para combater os atos. “A Unicamp repudia toda manifestação ou ato que implique em discriminação de qualquer natureza. O acesso aos banheiros do campus é franqueado a estudantes, professores e funcionários independentemente da identidade de gênero”.