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Pais de alunos usam correntes contra agressões perto de escolas no Rio

Mãe leva corrente ao buscar filhos em escola do Rio. "Para me defender, não para machucar alguém" - Arquivo Pessoal
Mãe leva corrente ao buscar filhos em escola do Rio. "Para me defender, não para machucar alguém" Imagem: Arquivo Pessoal

Silvia Baisch

Do UOL, no Rio

11/03/2015 14h54

O começo do ano letivo está marcado por assaltos e agressões a alunos de escolas particulares do bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Amedrontados, alguns pais tentam se proteger por conta própria e circulam nas redondezas portando pedaços de paus e correntes.

As instituições estão próximas à avenida Conde de Bonfim, na altura da rua Uruguai, importante corredor de comércio e edifícios residenciais. Chama a atenção o fato de os agressores, segundo relatos, utilizarem camisetas da rede municipal de ensino.

“É um terror, um circo de horrores, especialmente para quem tem filhos adolescentes que querem ter liberdade de ir e vir. Fazem corredor polonês e batem gratuitamente”, relatou Alice, 52 anos, que preferiu não ter o sobrenome revelado por dizer que já está “marcada” pelos agressores.

Ela é mãe de dois meninos, de 14 e 17 anos, e afirma que, na última semana, próximo ao horário de saída das aulas do turno da manhã, levou uma corrente consigo e acompanhou, à distância, a volta dos filhos para casa. “Para me defender, não para machucar alguém”, afirma. Um dos filhos de Alice, que sempre voltou sozinho da escola, chegou a ser assaltado três vezes no intervalo de uma semana, no ano passado. “Mas no último mês a situação piorou muito”.

Há pouco mais de dez dias, um adolescente de 17 anos voltava da escola para casa quando apanhou de um grupo de cinco jovens, por volta do meio-dia. “Ele recebeu um tapa na cabeça e, quando olhou pra tás, começou a receber socos. Foi uma agressão gratuita, não tentaram roubar nada”, relata o pai do garoto, Luiz Cláudio, 50, que também prefere manter o sobrenome em reserva. Todos os agressores utilizavam camiseta da rede municipal, mas não é possível afirmar se eram realmente alunos.

Após levar o filho ao médico e à delegacia para registrar queixa, Cláudio conversou com o adolescente e fez questão de que ele não mudasse a rotina. “Mas pedi que passasse a andar em grupo com os amigos”, afirma. “Agressões como essas são praticadas com a certeza de que a vítima não vai revidar. Meu filho tem o perfil da vítima: baixinho, magrinho e usa óculos. Nunca se envolveu em confusão e nunca havia relatado nenhum tipo de provocação na rua”.

Providências

O coordenador do Colégio Palas, Nelson Duarte Jr. –onde estudam os filhos de Alice e Cláudio–, disse que vem conversando com diretores de escolas municipais para definir ações de orientação com os alunos em sala de aula, em ambas as redes. “O bairro precisa de uma política de união. Já nos reunimos com o 6º BPM para traçar estratégias e criarmos um grupo de superação desses problemas”.

Duarte faz questão de ressaltar, no entanto, que o problema não acontece apenas com os alunos da instituição, mas também com estudantes de outras escolas e transeuntes em geral. “O que estão fazendo está muito longe do colégio. Ameaçam pessoas, puxam cabelo, cospem. As instituições responsáveis precisam pensar em políticas sociais, em uma forma de integrar esses adolescentes”, acredita.

De acordo com o titular da 19ª Delegacia de Polícia, na Tijuca, Deoclécio de Assis, não havia nada relevante em relação a agressões sofridas especificamente por estudantes das escolas particulares da área até a última terça-feira (10/3). “De concreto, temos apenas o registro de um aluno que apanhou de um grupo de estudantes que usava camiseta de escola municipal”. Assis disse ser preciso que os pais registrem as ocorrências na delegacia.

O comando do 6° Batalhão de Polícia Militar (BPM - Tijuca) informou, por meio de nota, que “os diretores das escolas da localidade estão sendo contatados para que a unidade escute suas demandas”. O texto diz ainda que o policiamento da região foi reforçado desde a última segunda-feira (9/3), “através de motopatrulhamento em locais e horários determinados, já de acordo com os primeiros contatos realizados pelo batalhão com os diretores”. A nota não informa, no entanto, o quantitativo desses policiais, já que a assessoria de imprensa da PM alega não divulgar o efetivo por uma questão estratégica.

Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Educação não se pronunciou até o fechamento desta matéria.