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Para combater homofobia, alunos da USP usam gravata cor-de-rosa

Eduardo Schiavoni/UOL
Imagem: Eduardo Schiavoni/UOL

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana

06/05/2015 18h13

Com objetivo de debater o preconceito e protestar contra a discriminação de estudantes gays, universitários e professores da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto, passaram a usar gravatas cor-de-rosa durante as aulas. Em nota, a direção da faculdade disse que apoia a iniciativa.

A campanha, nomeada Nossa Faculdade Também é Gay, foi iniciada na quinta-feira passada. Segundo Lucas Henrique Ribeiro, 21, aluno do segundo ano de Economia e diretor do Centro Acadêmico da FEA e um dos organizadores do movimento, a gravata foi escolhida por ser um símbolo do curso de Economia. “É uma faculdade de negócios, majoritariamente composta por homens e que tem uma identidade machista. A gravata é o símbolo do curso, então resolvemos utilizá-la", conta.

De acordo com Ribeiro, a faculdade ainda é bastante sexista e há casos de homofobia no cotidiano dos alunos. "Há preconceito, nem sempre mascarado, com os gays. Como há preconceito contra mulheres. E é por isso que a campanha foi idealizada", conta. Ele mesmo se disse hostilizado por parte de colegas de faculdade incomodados com a postura dele: "Sou gay, sou espalhafatoso, muito bem resolvido. E qual o gay que incomoda? O espalhafatoso, claro.".

Começo

As ameaças a Ribeiro foram feitas pela internet e também presencialmente, segundo ele. "A campanha nasceu aí, resolvemos mostrar que a USP tem lugar para os gays, a USP também é gay, como diz a nossa campanha. Somos contra o preconceito. Ser homofóbico não é uma opção", afirma.

A intenção é trazer o debate para a faculdade, afirma o aluno de administração Felipe Lissoni, 23, que também apoia a medida. "Muitas pessoas não concordam com a forma que foi utilizada, mas são assuntos que precisam de um debate mais profundo", diz.

"Eu decidi colocar uma foto com a gravata rosa e me manifestar como homossexual. Recebi ligação de parentes criticando, e meus amigos aqui na USP também", conta Leonardo Veras, 18. "No fim do dia, me manifestei a respeito, disse que era heterossexual. Mas a questão é: o que importa se eu fosse gay?"

Entre os apoiadores da campanha também estão professores da FEA. É o caso de Jair Silvério dos Santos, que atua no  Departamento de Computação e Matemática. Ele chegou a usar uma gravata rosa durante suas aulas e acredita que o debate é salutar para a instituição. "Sou conta qualquer tipo de intolerância, e percebo que os alunos estão cada vez mais intolerantes, como de resto toda a sociedade. É preciso debater e combater esse cenário", disse.

A direção da Faculdade de Economia e Administração da USP de Ribeirão afirmou, em nota, que também apoia a campanha iniciada pelos estudantes: “Toda forma de debate e troca de ideias sobre essa temática e realidade servem para desconstruir mitos e preconceitos que conduzem qualquer tipo de discriminação”. A direção informou ainda que nenhuma denúncia de homofobia foi formalmente prestada e que trabalha em um projeto de conscientização que abordará “todo o tipo de preconceito”.