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Instituto dos EUA sugere "jeitinho brasileiro" para atraso do CsF

 Artur Rodrigues,20, estudante do Ciência sem Fronteiras que recebeu o e-mail sugerindo "jeitinho brasileiro" para lidar com atraso de bolsa - Arquivo pessoal
Artur Rodrigues,20, estudante do Ciência sem Fronteiras que recebeu o e-mail sugerindo "jeitinho brasileiro" para lidar com atraso de bolsa Imagem: Arquivo pessoal

Jéssica Nascimento

Do UOL, em Brasília

07/05/2015 12h44Atualizada em 08/05/2015 08h38

Os 11.741 estudantes que participam do programa "Ciências sem Fronteiras" nos Estados Unidos receberam um e-mail na quarta-feira (06) do IIE (Instituto de Educação Internacional) informando sobre o atraso do pagamento referente a moradia, alimentação e auxílio deslocamento durante o verão (Inverno no Brasil).

A mensagem foi recebida como um desrespeito aos intercambistas -- e não apenas pelo atraso na verba, mas também porque a instituição recomendou que os alunos usassem "o método brasileiro de resolução criativa de problemas", o famoso "jeitinho brasileiro" enquanto o dinheiro não chegasse. A recomendação causou revolta e aflição entre os bolsistas.

O IIE é responsável pelo repasse dos auxílios e a verba é de responsabilidade do governo brasileiro. A mensagem informa que o Instituto não pode confirmar a data em que os pagamentos serão efetuados, nem pode fornecer fundos de emergência ou bolsas adicionais.

"Enquanto isso, pedimos que para que você use o método brasileiro de solução criativa de problemas para trabalhar com seus amigos brasileiros, seus  novos amigos americanos, sua família, contatos formais e informais, seu assessor e funcionários da universidade para angariar recursos. Ofereçam hospitalidade uns aos outros, peçam gentilmente para ficar com os amigos, utilize mais os dormitórios e refeitórios do seu campus ou use sua bolsa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para arranjos temporários", afirma um trecho do e-mail.

Revolta

Karolina Solano,22, estudante do Ciência sem Fronteiras - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Karolina Solano,22, estudante do Ciência sem Fronteiras que recebeu o e-mail sugerindo "jeitinho brasileiro" para lidar com atraso de bolsa
Imagem: Arquivo pessoal
Para os estudantes da Western Kentucky University Karolina Solano,22, e Artur Rodrigues,20, a utilização do termo "jeitinho brasileiro" foi de péssima escolha.

"Pareceu um deboche com a gente e também com todos os brasileiros que lutam todos os dias por oportunidades e por vitórias na vida. Tenho que receber cerca de U$ 2.800 do IIE", desabafa Karolina. "A indignação está na falta de cuidado e respeito. A quantia que recebi da Capes já dá para me sustentar até o pagamento."

Já o estudante de odontologia Artur teve uma reação mista ao ler a mensagem: "Não sabia se ria pela cara de pau ou se ficava com raiva. O jeitinho brasileiro é um termo estereotipado e um eufemismo para caloteiro".

Um estudante de engenharia mecânica que preferiu não se identificar, conta que está nos Estados Unidos há pouco mais de um ano e nunca teve problema com atrasos. "Essa é a primeira vez, mas, fui completamente ofendido. Eles, ao mandarem esse e-mail, perderam a oportunidade de ficarem calados".

Procurada pela reportagem, a Capes, responsável pelo programa Ciências sem fronteiras no País, disse que a nota divulgada pelo IIE é "descabida". "O próprio IIE já prestou esclarecimentos aos estudantes e pediu para que o texto anterior fosse desconsiderado. A Capes informa que está em dia com todas as bolsas do Ciência sem Fronteiras e liberou na quarta-feira (6) os recursos relativos ao pagamento das taxas e despesas das universidades", informou.