Greve nos institutos federais ganha força e tem a adesão de universidades
Sindicatos que representam professores da rede federal afirmam que o diálogo travado com o governo Lula (PT) nos últimos meses os levou à decisão pela greve. A paralisação teve início no dia 2 de abril nos institutos federais, mas ganhou força ontem (15) com a adesão de mais campi e das universidades.
O que aconteceu
"O governo abriu rodadas de diálogo, mas as mesas de negociação se revelaram verdadeiras mesas de enrolação", afirma Gustavo Seferian, presidente do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior). Segundo ele, a "procrastinação" e a recusa das pautas da categoria levaram os servidores a decidir pela paralisação.
A categoria reivindica um aumento salarial de 22% dividido pelos próximos três anos — 7,06% em cada, começando em 2024. Ela também pede a recomposição do orçamento da rede federal, que vem sendo enxugado desde 2016 (leia mais abaixo).
Das 69 universidades federais, 15 estão em greve e cinco em estado de greve — instrumento usado como alerta de que podem aderir à paralisação. Outras 12 instituições decidiram não aderir ao movimento e 18 ainda farão assembleias. As informações foram repassadas ao UOL pela Andifes, associação que reúne os reitores das universidades federais.
Segundo o Andes, são 21 universidades federais em greve ligadas ao sindicato, três com indicativo de paralisação e cinco que não deram previsão para iniciar o movimento. Também há oito instituições em estado de greve.
Dos 687 campi dos institutos federais, ao menos 470 estão em greve, diz levantamento do Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica). A expectativa é que o movimento alcance 500 polos hoje, segundo o coordenador geral do sindicato, David Lobão. Diferentemente das universidades, os institutos têm turmas de ensino médio com cursos técnicos.
A decepção com a falta de respostas do governo Lula foi citada por Lobão, que também é professor de matemática do IFPB (Instituto Federal da Paraíba). "Há uma frustração grande, porque o governo abriu uma reunião com 11 ministros no ano passado, mas depois de todo esse tempo não tivemos resposta para nenhuma pergunta", diz Lobão.
Em uma reunião em fevereiro, o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), pediu para a categoria não fazer greve. O chefe do MEC disse aos servidores que aguardassem até 29 de março, quando o governo daria uma resposta para as reivindicações apresentadas. "Estamos em 15 de abril e não tivemos retorno", afirma o coordenador geral do Sinasefe.
A pasta tem afirmado que "vem envidando [empenhando] todos os esforços para buscar alternativas de valorização dos servidores da educação". Segundo o MEC, o governo deu um reajuste de 9% para todos os servidores no ano passado.
Os sindicatos têm uma reunião marcada para sexta-feira (19) com o governo. O UOL procurou o ministério também para comentar as declarações dos representantes da categoria, mas a pasta encaminhou a nota que vem sendo divulgada desde a semana passada à imprensa.
Foi pífia [a atuação do governo neste tema]. Praticamente nenhuma demanda da campanha salarial 2024 dos servidores foi atendida, e o 0% de reajuste [salarial] é uma grande violência.
Gustavo Seferian, presidente do Andes e professor na UFMG
Esperamos com muita paciência uma resposta. Depois dessa grande frustração, organizamos atos em Brasília, paralisações de 24 horas e um conjunto de ações para sensibilizar, mas o governo manteve uma forma de dialogar muito ruim. Até que chegamos onde estamos e decidimos pela greve.
David Lobão, coordenador geral do Sinasefe e professor do IFPB
Retorno de investimento tímido
Os servidores pedem a recomposição do orçamento de investimento na rede federal de ensino. Segundo Lobão, entre 2012 e 2013, o governo investia cerca de US$ 9.000 por aluno anualmente — ele estima que, atualmente, esse valor chega a US$ 2.000 O cálculo exato não é possível de ser feito, pois, de acordo com o professor, muitos institutos recebem emendas parlamentares para realizar investimentos.
Nas universidades, o cenário financeiro se repete. "Estamos com um orçamento de 2012, com a correção inflacionária em algo em torno de R$ 5,9 bilhões", afirma o presidente do Andes.
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Quero receberPara ele, a expectativa de uma melhora financeira das universidades é baixa. Isso porque, segundo Seferian, mesmo após o governo se encontrar com representantes da Andifes na semana passada, o MEC não fez sinalizações de medidas concretas.
Em nota, a Andifes afirmou que "acompanha de perto" a greve e que a paralisação é um direito constitucional garantido aos trabalhadores. A associação disse estar "comprometida com a democracia e com a educação pública de qualidade" e que "espera que as negociações entre as categorias e o governo federal sejam resolvidas de forma satisfatória para todos e para a sociedade o quanto antes".
O Conif, conselho que reúne os institutos federais, publicou nota para declarar seu apoio ao movimento de paralisação. Trecho do texto divulgado diz que o grupo "conclama o governo federal a atender as demandas do movimento paredista".
"Queremos retomar o investimento da rede federal, mas o governo Lula está fazendo isso muito timidamente", afirma Lobão. A reportagem questionou o MEC, mas também não teve respostas sobre este ponto. O espaço fica aberto para atualizações.
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