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Sem auxílio, bolsistas da Capes pagam passagem do próprio bolso

Por mensagem, a Capes afirmou não ter previsão de quando o montante será liberado - Reprodução
Por mensagem, a Capes afirmou não ter previsão de quando o montante será liberado Imagem: Reprodução

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

27/07/2015 14h20

Estudantes bolsistas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) participantes dos programas Brafitec e Brafagri (parcerias universitárias nas especialidades das engenharias) contaram ao UOL que estão com auxílios atrasados. Sem o dinheiro, alguns tiveram de pagar do próprio bolso as passagens para embarcar para a França.

Entre os benefícios que estariam atrasados, estão o auxílio deslocamento, no valor de 1.255 euros (destinado à compra da passagem aérea), o auxílio instalação (para despesas iniciais), de 1.320 euros, e 11 ou 12 parcelas do seguro-saúde, de 990 e 1.080 euros, respectivamente. As aulas da maioria dos estudantes começam entre o final de julho e o começo de agosto.

Segundo o estudante Rafael Azevedo, os auxílios foram postos em trâmite no financeiro no dia 3 de julho. "Após o pagamento ter sido ordenado, o dinheiro deveria constar na conta do bolsista em até dez dias úteis. E até o momento o dinheiro não foi depositado na conta corrente que informei a Capes", diz. "Ou viajo gastando um valor muito maior de passagem aérea ou perco o início do curso de francês no estrangeiro."

Além disso, os estudantes teriam tido o tempo de aulas intensivas de francês reduzido de 2 meses para apenas um. "A Capes cortou um mês daqueles alunos que tinham direito a dois meses de curso de francês pois disseram que não daria tempo de analisar todos os documentos", conta um estudante de engenharia mecânica da UFS (Universidade Federal de Sergipe) que preferiu ter o nome preservado.

"O processo todo foi bem longo. Tivemos problemas em etapas anteriores, como no atraso no recebimento das cartas de concessão, que precisávamos para tirar o visto, que dura em torno de dois meses", afirma Thiago Serra, estudante de engenharia civil da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Para os estudantes, a Capes afirmou por meio de uma mensagem que não tem previsão de quando o montante cairá na conta. "Tenha em mente que se trata de um repasse do governo federal. Diferente de uma simples transferência, o pagamento é liberado por diferentes setores da Capes até que chegue no financeiro e eles possam pagar", diz a nota.

Alternativas

Glauber Arruda, estudante de engenharia mecânica na UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), afirma que não tem condições para pagar as passagens aéreas. "A princípio, não vejo muita saída senão aguardar. Provavelmente terei que chegar atrasado para o curso", avalia.

É o mesmo caso de Isabella Tilieri, de 21 anos, aluna do curso de engenharia elétrica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). "Toda a parte burocrática, como visto e seguro, está pronta. A faculdade na França já reservou a moradia e aprovou o início do curso. Só que não tenho dinheiro para as passagens", diz.

O estudante da UFS, que quis preservar a identidade, teve de pedir dinheiro emprestado aos pais para pagar a passagem aérea e aos irmãos para custear o calção da residência na França. "Viajo domingo [26] e não tenho dinheiro algum. Tudo financiado pelos meus pais. Tem gente que nem tem lugar certo para ficar", relata.

Com medo do aumento das passagens, Thiago, da UFRJ, bancou a viagem com cartão emprestado dos avós. "Se esperássemos o dinheiro cair no fim do mês, em dois dias teríamos que comprar passagens, contratar seguro, comprar euros, fazer cartão pré-pago", analisa Thiago. "Não é uma viagem de uma semana. É um ano que viveremos do outro lado do mundo. Chegando lá ainda temos que organizar nossa moradia, documentos na faculdade e temos que estar na aula dia 3."

"Caso eu não receba a grana, pretendo não embarcar. Não tenho condições de me manter na França pelo meu próprio bolso", diz Luiz Gustavo, estudante de engenharia elétrica na Unicamp.

Menos um mês

Sem um mês de francês, os alunos acabaram improvisando. Caroline Vilhena, estudante de engenharia biomédica na UFU (Universidade Federal de Uberlândia), teve de continuar o curso que fazia aqui no Brasil. "Convenhamos que a melhor forma de aprender um idioma é estando no país da língua", afirma.

Já Glauber, da UFCG, estudou pela internet e por meio de livros. "Certamente passaremos dificuldades no início do intercâmbio em função da redução desse tempo de curso intensivo de francês", analisa.

Procurada pelo UOL, a Capes informou que não há atraso nas bolsas e que todos receberão os valores dos auxílios até o final do mês de julho.