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Enem 2014 por Escola: campeã de matemática é melhor colégio 'pobre' do país

Comemorar as vitórias faz parte da estratégia para manter a motivação - Divulgação
Comemorar as vitórias faz parte da estratégia para manter a motivação Imagem: Divulgação

Thiago Varella

Do UOL Educação, em Campinas (SP)

06/08/2015 06h00

A escola de ensino médio Augustinho Brandão, de Cocal dos Alves, no Piauí, teve o melhor desempenho do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2014 por Escola se considerarmos apenas as instituições com indicadores socioeconômicos baixos ou muito baixos. As notas das escolas foram divulgadas pelo MEC (Ministério da Educação) na quarta-feira (5).

O colégio público estadual do interior piauiense é um recordista de prêmios em Olimpíadas Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) com mais de 150 medalhas.

O UOL contou a história da escola Augustinho Brandão em outubro do ano passado. Na época, a diretora Aurilene Vieira Brito afirmou que, para fazer uma instituição de ensino de qualidade, "bastou" juntar um grupo de professores cheios de vontade de mudar uma cruel realidade social.

Dez meses depois da entrevista, Aurilene insiste em dizer que o trabalho tem que ser duro, mas que a equação que leva uma escola de um rincão pobre do país a ter sucesso é simples.

"[O bom resultado no Enem] É simplesmente a continuação de um trabalho focado com objetivos bem definidos. É da nossa responsibilidade de dar aula normalmente e do jeito que tem que ser", afirmou, antes de dar o segredo. "A gente se planeja".

Alunos da escola estadual Augustinho Brandão, de Cocal dos Alves, no Piauí, a melhor entre as mais pobres no Enem 2014 por Escola - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Talvez seja isso. Para manter funcionando a escola estadual piauiense com o melhor desempenho no Enem, Aurilene mantém a motivação elevada.

Do lado dos professores -- que, é bom lembrar, recebem o mesmo salário que qualquer docente da rede estadual de ensino --, o segredo é mostrar como eles fazem diferença em uma comunidade até pouco tempo desesperançada.

Assim que obteve os resultados do Enem por Escola, a diretora convocou uma reunião com os professores para apresentar os números e animá-los a continuar o trabalho.

"Eu disse a eles: 'quando a gente é negligente em relação aos números, somos negligentes em relação às pessoas'. Temos muita consciência disso. Somos formadores de seres humanos para o mundo", afirmou Aurilene.

Claro que não basta motivar apenas os professores. É preciso também deixar os alunos com gana de estudar. E, em relação aos estudantes da escola Augustinho Brandão, haja vontade. Para prestar o Enem, eles têm de pegar um ônibus, fornecido pela escola, e viajar cerca de uma hora e 20 minutos até a cidade de Piracuruca. No ano passado, 34 alunos toparam fazer a aventura.

A escola não apenas ajuda os alunos no transporte, mas, depois que eles conseguem passar em vestibulares no Estado, também continua auxiliando os estudantes em outras tarefas.

"Quando eles conseguem entrar na faculdade, a gente os leva para Teresina (distante 277 km), e os ajuda a fazer a matrícula, preparar a papelada e até a procurar moradia na capital", explicou a diretora.

Aurilene conta que a escola não faz nenhum tipo de preparação especial para o Enem e que apenas prepara simulados ao longo do ano. Além disso, a escola também não faz distinção de alunos. Qualquer um que tem vontade pode procurar a direção para se matricular em período integral ou no noturno.

Trabalho

A história de sucesso da escola Augustinho Brandão começou em 2003, quando um grupo de jovens professores resolveu transformar o colégio. Ao mesmo tempo que implantaram um trabalho intenso em sala de aula, eles foram atrás de qualificação e conhecimento para ensinar – e posteriormente cobrar – os alunos. Tudo isso, enquanto se viravam para lecionar em uma escola sem estrutura.

Em pouco tempo, os professores começaram a notar a diferença. É verdade que, com um ensino mais puxado, as cobranças também se intensificaram. No começo, alguns alunos chegaram até a cogitar desistir da escola, por causa da dificuldade. Mas, algo os motivou a continuar.

Dois anos depois da mudança de mentalidade e de metodologia, um dos professores decidiu inscrever alguns alunos da escola em uma competição de matemática, a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).

Após o sucesso na Obmep, com mais de 153 premiações até o momento, a escola começou a inscrever seus estudantes em outras olimpíadas e já obteve êxito em competições de química, física, robótica, entre outras.

Os alunos da escola também vão muito bem nos vestibulares e têm índice de aprovação entre 70 e 80%. Em 2010, segundo a diretora, todos os alunos que prestaram vestibular passaram. Para se ter uma ideia do sucesso, em Teresina, existe uma república de estudantes formada somente de ex-alunos do colégio de Cocal dos Alves.