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Currículo da educação básica é avanço, mas falta rigor, dizem especialistas

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

16/09/2015 21h31

O MEC (Ministério da Educação) divulgou nesta quarta-feira (16) a proposta da Base Nacional Comum Curricular, documento que detalha o que precisa ser ensinado aos alunos em cada etapa de ensino e disciplina da educação básica. Para especialistas ouvidos pelo UOL, a iniciativa é um avanço, mas falta rigor no que se espera dos estudantes.

"Há uma baixa expectativa na disciplina de língua portuguesa. É esperado de um aluno do 9º ano em escrita de um texto narrativo a mesma coisa que se espera de um aluno do 5º ano nos Estados Unidos", avalia Paula Louzano, pesquisadora da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).

Ela afirma, ainda, que esperava maior coerência na estrutura do documento. "Nos currículos internacionais de países de bons resultados, existe um foco claro em mostrar de maneira explícita a progressão da complexidade."

Para Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e blogueiro do UOLfoi um erro não envolver na produção do documento atores relevantes, especialmente influentes na formação de professores.

"Para dar certo, qualquer instrumento curricular deve ser validado por professores, formadores de professores e pelo conjunto majoritário da comunidade educacional. Caso contrário, tende a virar letra morta ou mecanismo pouco relevante, ficando restrito a orientar a produção de livros didáticos e materiais pedagógicos", avaliou.

Consulta pública

Anna Helena Altenfelder, superintendente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária), acompanhou a reunião na qual o MEC apresentou o documento. "Fiquei bastante impressionada e animada pelo que vi. Merece destaque o currículo de educação infantil", avalia. Para ela, o currículo de linguagens traz uma abordagem "bastante contemporânea", fazendo relação com a realidade dos alunos.

A proposta do documento preliminar da Base Curricular Comum Curricular agora deve receber críticas e sugestões no site da iniciativa. O objetivo é que a versão final seja encaminhada ao CNE (Conselho Nacional de Educação) no início de 2016.

Cleuza Repulho, do Movimento pela Base Nacional Comum, acredita que o documento foi um bom começo e que agora é preciso ouvir a sociedade. "Não é algo para fazer em pouco tempo. Agora é envolver todos os atores, que são os executores, os professores que estão na sala de aula, as editoras que fazem os materiais didáticos", afirma.

Contudo, Repulho ressalva que a Base Nacional Comum não deve ser encarada como uma "bala de prata que vai resolver todos os problemas".