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Mais Educação não tem impacto em matemática, português e evasão, diz estudo

Marcelle Souza

Do UOL, em São Paulo

05/10/2015 19h14Atualizada em 06/10/2015 10h11

Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (5) pelo Itaú Social e o Banco Mundial aponta que as atividades do Programa Mais Educação, do MEC (Ministério da Educação), não têm impacto a curto prazo nas notas das escolas em matemática, português e nos índices de abandono.

O estudo levou em consideração 600 escolas que aderiram ao programa em 2008 e cerca de 2.000 que entraram em 2010. Os resultados dessas unidades, localizadas em vários Estados do país, foram comparados aos de escolas com o mesmo perfil (tamanho, estrutura, desempenho no Ideb etc.), mas que não realizam atividades do Mais Educação.

O desempenho dos alunos em matemática e português na Prova Brasil e os dados de evasão foram medidos em 2009, 2011 e 2013. Os resultados mostram que as escolas com o Mais Educação não tiveram melhores notas nem registraram queda no abandono se comparadas às que não recebem verba do programa.

O Mais Educação foi implantado em 2008 e repassa verbas para escolas interessadas que atendam a uma série de requisitos, entre elas que tenham mais de 50% dos alunos no Bolsa Família. As unidades que participam do programa oferecem, no contraturno e de maneira não obrigatória, atividades de reforço escolar, culturais, esportivas, de educação ambiental, de promoção à saúde, cultura digital e de direitos humanos.

Para Antonio Bara Bresolin, da Fundação Itaú Social, os dados da pesquisa são um indicativo que melhorias devem ser feitas no programa, mas que não são suficientes para avaliá-lo de modo completo. "De fato, é pouco tempo para avaliar o impacto das atividades no desempenho dos alunos na Prova Brasil", disse.

"Por falta de dados, não conseguimos avaliar a efetividade do Mais Educação em outros aspectos, como redução do trabalho infantil, da exploração sexual infantil, e no desenvolvimento de competências socioemocionais", diz.

A pesquisa também fez um estudo de caso em quatro redes municipais e duas estaduais (DF e GO).

A coordenadora do Cenpec, Maria Amábile Mansutti, afirmou que o estudo mostra que o programa precisa olhar mais para a qualidade das atividades oferecidas.

"O estudo de caso mostra que as escolha das atividades estão mais ligadas às possibilidades da escola [de estrutura e pessoal] do que aos interesses dos alunos", afirma. "Os monitores muitas vezes não dialogam com o resto da escola. Mas o contraturno não pode ser um passatempo, tem que ser de fato uma atividade pedagógica."

Procurado, o MEC afirmou que o novo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, definiu que uma de suas prioridades é rever o Programa Mais Educação, "priorizando os conteúdos com maior foco na melhoria do aprendizado, especialmente português e matemática".