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"Nunca apanhei tanto na vida", diz professora que denunciou aluna por surra

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Eduardo Schiavoni

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto (SP)

18/11/2015 19h07

Uma professora denunciou uma aluna de 16 anos depois de ser agredida, dentro da sala de aula, em uma escola estadual de Mogi das Cruzes. Segundo a educadora, a agressão começou depois que ela impediu, em três diferentes momentos, que a aluna deixasse a sala. Com hematomas por todo o corpo e também no rosto, ela procurou a Polícia Civil nesta quarta (18) e registrou o caso. A aluna foi suspensa.

"Tomei tanto soco que nem sei ao certo quantos foram. Acho que uns 15. Meus alunos presenciaram tudo. Eu nunca apanhei tanto na minha vida", disse a professora Ana Paula Lemos Fernando Bonomo de Aquino, 41. A educadora relatou, ainda, que não sabe se conseguirá voltar a dar aulas. "Estou bem traumatizada, não sei se consigo entrar em uma sala de aula de novo".

Segundo Ana Paula, que é professora eventual, a agressão ocorreu na última segunda-feira (16). Ela foi chamada para substituir uma professora e dar aulas para o primeiro ano do ensino médio na Escola Estadual Pedro Malozze. Na sexta aula do período letivo da manhã, por volta das 12h, uma das alunas, que já tinha ficado fora da sala na quarta aula, foi colocada para dentro, mas insistiu em sair.

"Primeiro, ela disse que queria tomar água. Depois, que precisava falar com a diretora e, por último, que precisava ir na secretaria. Como há uma orientação que os alunos só podem sair em casos extremos, não deixei", conta.

Com as negativas, a aluna "ficou enfurecida", segundo a professora. "Ela disse que queria sair e que eu não podia proibir. Quando vi, ela estava com o dedo colado no meu rosto e, num segundo, acertou o primeiro soco. Aí foi um atrás do outro, e também chutes. Tentei me defender, mas como não sou nenhuma mocinha e não estou acostumada a lutar, com certeza eu apanhei muito", disse Ana Paula.

Ameaça

Ana Paula relatou que a filha dela, de 14 anos, também estuda na mesma escola e, alertada por colegas, presenciou parte da agressão. Por conta disso, a professora relatou ainda que a menor também foi ameaçada. "Em uma rede social, ela postou que já tinha batido na mãe, e que o próximo passo era dar uma coça na filha", conta.

Ainda segundo a professora, a agressão mostra a falência do sistema educacional. "Parece que professor merece apanhar calado, que deve ceder aos caprichos de filhos que foram abandonados pela família. Meu corpo dói, mas a minha alma sangra. Não sei se voltarei pra sala de aula, estou assustada e com medo", disse.

Diretoria

Depois das agressões, a aluna foi levada à sala da diretoria. Houve uma fracassada tentativa de conciliação mas, no fim das contas, nem a agressora nem a professora concordaram com os termos. A Polícia Militar foi chamada e a professora foi levada a um posto de saúde, onde recebeu atendimento.

O caso, entretanto, só foi registrado na Polícia Civil nesta quarta-feira. A agressão foi qualificada como lesão corporal e a menor pode ser apreendida e enviada à Fundação Casa. Procurada, a polícia informou que irá ouvir as testemunhas antes de determinar qualquer medida contra a menor.

De acordo com o delegado Paulo Henrique Sinatura, o caso agora será encaminhado para a Promotoria de Justiça da Infância e Juventude do Ministério Público. "O MP irá definir quais os próximos passos", disse. A reportagem tentou contato com a instituição, no fim da tarde de ontem, mas ninguém foi localizado para comentar.

Outro lado

A reportagem tentou falar com a adolescente identificada como agressora, mas ninguém atendeu as ligações. À polícia, a jovem, que também registrou um boletim de ocorrência, informou que, além das recusas aos pedidos para sair da sala, a educadora também proferiu ofensas verbais contra ela. Na versão da aluna, as agressões foram mútuas.

Procurada, a Diretoria Regional de Ensino de Mogi das Cruzes informou que a direção da Escola Estadual Pedro Malozze está prestando atendimento aos envolvidos. "A unidade de ensino conta com professor-mediador, profissional capacitado a traçar estratégias preventivas aos conflitos, que já acompanhava a aluna. A direção da unidade tomou todas as medidas cabíveis: acionou os responsáveis pela aluna, o Conselho Tutelar e reunirá o Conselho de Escola para definir medidas educacionais com base no regimento escolar para a estudante, que foi suspensa".

A diretoria ressalta, ainda, que repudia qualquer ato de violência e entende que o enfrentamento deve ocorrer em diversas frentes, que englobam comunidade escolar e família.