Topo

Professora relata agressão de PM a aluno de ocupação em Caieiras

Aluno da escola estadual Mário Toledo de Moraes mostra marcas no pescoço; PM afirma que não foi registarda ocorrência - Arquivo pessoal
Aluno da escola estadual Mário Toledo de Moraes mostra marcas no pescoço; PM afirma que não foi registarda ocorrência Imagem: Arquivo pessoal

Karina Yamamoto

Do UOL, em São Paulo

26/11/2015 18h20Atualizada em 27/11/2015 14h59

Professores e alunos conversavam na frente da escola estadual Mário Toledo de Moares, em Caieiras, na noite de quarta (25) quando um carro se aproximou na rua com pouca iluminação. Como o veículo estava com o farol alto, um dos alunos jogou a lanterna para tentar identificar o motorista, conta a professora Ellen Coelho.

Era uma viatura da polícia (2605).

Segundo a professora, eles só perceberam isso quando um dos policiais apontou uma arma para o garoto e disse: "Olha aqui minha laterna, seu c..." sem descer do carro. 

A professora conta que se assustou e logo disse que ali "era tudo aluno", que os policiais não tinham com que se preocupar. Conversavam do lado de fora, explica a professora ao UOL, porque os alunos decidiram que na ocupação da escola só os pais podem entrar. O objetivo, disse Ellen, é demonstrar autonomia dos secundaristas no protesto contra a reorganização escolar.

Participantes das ocupações em Caieiras estavam agitados na noite de quarta, com a notificação de reintegração de posse de um das três escolas, a escola estadual Olindo Dartora, horas antes.

quase 200 escolas ocupadas em todo o Estado de São Paulo em protesto contra a reorganização da rede estadual.

Vídeo apagado

Como tem acontecido nas escolas tomadas pelos alunos, assim que começa qualquer situação desse tipo, um dos alunos começou a registrar a cena pelo celular.

A professora conta que, então, "eles desceram e foram para cima do aluno", afirma Coelho. Ele passou o celular para uma garota e os policiais foram "para cima dela". 

Os alunos se amontoaram ao redor dos policiais e levaram gás de pimenta.

"Comecei a explicar que eu era professora, mas, mesmo assim, ele tomou o celular dela e apagou o vídeo", conta Coelho.

Não podiam fazer isso

A mãe do rapaz, que preferiu não se identificar nem dar o nome do filho, disse que "eles [os policiais] não podiam fazer isso [agredir seu filho]". Ela apoia o movimento dos estudantes e disse que pretende fazer um boletim de ocorrência da agressão.

Ela soube do ocorrido apenas na manhã desta quinta (26) quando passou na escola para ver se estava tudo bem na ocupação e saber se os manifestantes precisavam de algo.

Nota da Polícia Militar

A assessoria de imprensa da PM enviou a seguinte nota sobre o ocorrido:

A Polícia Militar informa que acompanhou na noite de ontem (25) a manifestação dos estudantes da Escola Estadual Mário Toledo de Morais e que não foi registrada nenhuma ocorrência grave no local. Cabe salientar que não houve reclamação ou denúncia de abuso de autoridade sobre o trabalho policial realizado.

Reorganização

A reorganização foi anunciada no final de setembro pelo governo do Estado. Desde o começo de outubro, estudantes têm organizado protestos contra as medidas. Eles fizeram algumas passeatas e atos.

Com a mudança da rede, 94 escolas serão fechadas no Estado de São Paulo754 terão ciclo único. A intenção do Estado é ter colégios com ciclo único, ou seja, com alunos de apenas uma das etapas de ensino: fundamental 1 (anos iniciais), fundamental 2 (anos finais) e ensino médio. Por conta da reestruturação, 311 mil alunos serão transferidos.