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'Não tem arrego' e gritos contra Cunha marcam Virada de escolas ocupadas

Janaina Garcia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/12/2015 19h44

Os gritos de “Não tem arrego” e “Fora, Cunha” dominaram neste domingo (6), em São Paulo, a Virada Ocupação, realizada em apoio aos alunos que ocupam as cerca de 200 escolas públicas paulistas desde o começo de novembro. O evento acontece desde o início da tarde em escolas estaduais da capital, mas tem na praça Horário Sabino, no Sumaré (zona oeste), a principal concentração de público e de artistas.

A Virada foi organizada pelo coletivo Minha Sampa, que, em suas redes, informou que cerca de 800 artistas e 700 produtores teriam aderido voluntariamente às atividades. O endereço do palco principal de shows só foi divulgado hoje às 13h por mensagem de texto aos cadastrados no site do coletivo -- uma das preocupações era a de que a Polícia Militar inviabilizasse a Virada. A chuva forte do começo da tarde atrasou o cronograma.

Entre os alunos de ocupações presentes ao evento, o clima ainda era de celebração pelo decreto desse sábado (5) em que o governo do Estado revogou a reorganização escolar. Vários estudantes ouvidos pela reportagem do UOL tomaram como elogio o que, até dias atrás, era citado pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB) com tom acusatório: o de que o movimento dos alunos seria político.

“Não tenho dúvida de que lutar por uma educação melhor e pelo não fechamento de escolas é mesmo um movimento político. Conseguimos dar visibilidade a isso e também trazer à nossa discussão temas como racismo, feminismo e questões LGBT”, avaliou a estudante Manuela, 15, que estuda em escola privada, mas participa da ocupação do colégio estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros (zona oeste).

"O que o governo vinha dizendo sobre fazermos ‘política’ pareceu uma crítica, da forma como foi dito, mas para nós foi um elogio. Tudo o que envolve cidadania, eu acredito, é político”, declarou a estudante Raíssa, 16, da ocupação no colégio estadual Antônio Alves Cruz, próximo à praça. Irmã dela, Lana, também de 16 anos, completou: “Nós, estudantes, conseguimos o que nem os professores ou os metroviários haviam conseguido [em movimentos recentes de greve por melhoria salarial]: conseguimos fazer o governo recuar e mostramos que ninguém é menor do que ninguém”.

Raíssa contou que foi detida em um dos protestos promovidos pelos estudantes com fechamento de vias públicas. “Fiquei chocada com a crueldade usada pela polícia e acredito que, mesmo que a reorganização tenha sido revogada, voltamos agora com muito mais força”, opinou. “Queremos que a escola seja um ambiente mais democrático e plantamos essa semente -- agora é pensar novas formas de mobilização”, arrematou Lana.

Os shows têm previsão de acontecer até as 22h de hoje e serão retomados na segunda-feira à tarde, com outros artistas, em espaços ainda a ser divulgados. Hoje, se apresentaram nomes como Criolo, Maria Gadú, Filipe Catto e 5aSeco.

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da PM não estimou o público reunido no espaço público.

Na próxima quarta-feira (9), os estudantes das escolas ocupadas realizam uma assembleia no vão do Masp para decidir se deixarão as unidades e se seguirão com algum tipo de mobilização. O ato está marcado para as 17h.