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Desgaste interno influenciou saída de presidente do instituto do Enem

Francisco Soares em coletiva do Inep - Valter Campanato/Agência Brasil
Francisco Soares em coletiva do Inep Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil

Karina Yamamoto

Do UOL, em São Paulo

01/03/2016 20h15

Falta de entendimento sobre os rumos da gestão do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) levou Francisco Soares a um desgaste com os servidores do instituto. A falta de apoio interno levou Soares a pedir demissão da presidência nesta terça (1) conforme o UOL apurou. Além da situação complicada no órgão, houve motivação pessoal, como foi divulgado.

Desde dezembro de 2015, Soares vinha sofrendo forte oposição interna à sua proposta de reorganização do Inep. Naquele mês, havia sido imposto um corte de 14% dos cargos comissionados (cargos de confiança) do Inep e Soares propôs uma nova estrutura para o instituto responsável pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Entrou 2016 e os cortes foram suspensos. Mas uma reestruturação ainda seria feita -- e os servidores fizeram forte oposição ao plano da presidência do Inep. Para a diretoria executiva do Assinep (Associação dos Servidores do Inep), "foi fundamental a mobilização massiva dos servidores do Inep contra uma proposta que desestruturava o Inep e comprometia as finalidades deste órgão, um dos principais da educação nacional".

"Entendo que ele perdeu condições de governança", diz o presidente do Assinep, Alex da Silveira.

"A discussão sobre a reestruturação do órgão não soube envolver os servidores. Isso gerou desgaste, certamente", opina Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e blogueiro do UOL. "Mas deve haver outros motivos também".

Mudanças

Soares propunha que três das seis diretorias existentes sofressem alteração: em vez de serem temáticas (uma para ensino superior, outra para educação básica e uma para as estatísticas), elas estariam vinculadas a processos (uma de instrumentos pedagógicos, que lidaria com as provas e seus conteúdos, uma de monitoramento e avaliação de políticas educacionais e uma de operações logísticas, que cuidaria da cadeia de procedimentos para aplicação e correção das provas nacionais, como o Enem).

À época, os servidores se mobilizaram contra a proposta principalmente por ela ter sido elaborada sem a participação deles, segundo um dirigente sindical. Do ponto de vista da presidência, havia resistência dos servidores em dialogar: em carta aos servidores, Soares prestou esclarecimentos e lamentava que não lhe tenha sido "concedida oportunidade" de se explicar em uma reunião de servidores.

O Inep tem muitas atribuições: é responsável pela preparação, pela aplicação e pela correção de provas nacionais como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), a Prova Brasil para educação básica e Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) para o ensino superior. Com os resultados das provas, o Inep elabora ainda indicadores de qualidade de educação como o Ideb (Índice da Educação Básica), o IGC (Índice Geral de Cursos) e o Enem por Escola. Além disso, faz levantamentos nacionais como o Censo da Educação Básica e o Censo da Educação Superior.

Novo presidente

Segundo nota publicada pelo Inep nesta terça, "o novo nome para presidir a autarquia será anunciado nos próximos dias". Circulam especulações em torno de alguns nomes: um diretor da atual gestão do Inep, um ex-presidente do instituto e um secretário do MEC (Ministério da Educação).

O Assinep entende que "o Inep necessita agora de um(a) presidente que consiga abrir o diálogo com os servidores e com a sociedade, respeitando a história da autarquia e as atribuições que o Inep realiza como autarquia de avaliação, estatísticas e pesquisas".

Para Cara, o próximo presidente "precisa ser alguém que entenda de educação, saiba aproveitar o potencial dos servidores do órgão e tenha clareza de que o Inep deve produzir estudos, pesquisas, análises e fazer avaliações que vão além da mensuração de aprendizagem".