Topo

Para século 21, o importante é 'aprender a aprender'

Mateus Bruxel/Folhapress
Imagem: Mateus Bruxel/Folhapress

Thiago Varella

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

23/04/2016 06h00

Para enfrentar os desafios do século 21 não basta frequentar as aulas e decorar conteúdo. É preciso mais. Uma das habilidades necessárias é a de aprender a aprender. Ou seja, de maneira autônoma, o estudante precisa saber não só o que, mas também precisa saber como estudar. E, já adiantamos, não basta apenas ler tudo aquilo que o professor orienta em sala de aula.

“Trata-se de desenvolver capacidades para você aprender como disciplina, foco, precisão. E isso pressupõe criatividade, responsabilidade e concentração”, explica o professor Sergio Ferreira do Amaral, da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para quem aprender a aprender está muito próximo do conceito de autodidatismo.

Simone André, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna, tem um conceito parecido. Para ela, aprender a aprender é “a autonomia do estudante em gerir sua própria aprendizagem.”

Ou seja, não basta mais para um estudante ficar sentado na sala de aula, recebendo um amontado de conteúdo e sentir que o trabalho todo está feito ao, simplesmente, estudar para uma prova. Segundo os especialistas, o aluno precisa assumir um papel de protagonista nos seus estudos e aprender como estudar aquilo que é de seu interesse.

“É necessário dar ao aluno a escolha do seu caminho. E isso, claro, passa por dar a metodologia de avaliação, ou seja, a prova, levando em consideração o que o aluno quer aprender”, afirmou Amaral.

Mudanças no ensino tradicional

Mas, se o estudante precisa ser protagonista, desenvolver habilidades de estudo e ter autonomia, como fazer tudo isso dentro de um sistema que continua antigo?

Não é tarefa fácil. Para os especialistas, mais do que orientar um aluno a como estudar, ou um professor a como estimular esse aluno, é preciso mudar o sistema. Para Simone, o ensino médio ainda está pouco conectado à realidade.

Desenvolver habilidades e competências dentro do ensino como ele é hoje é como jogar futebol dentro de um elevador. No máximo, dá para fazer embaixadinhas, mas é impossível jogar bola”

Simone André, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna

O professor Sergio Ferreira do Amaral também faz inúmeras críticas ao ensino médio atual. Segundo ele, atualmente, o aluno se depara com um conteúdo pré-estabelecido e faz um estudo de memorização.

“Hoje, a escola tem um conteúdo programático fechado, uma grade curricular pré-estabelecida e um caminho pré-traçado. Só que o aluno não pode ir à escola para passar no vestibular. O vestibular é só um processo de avaliação. Isso é um grande problema”, afirmou.

Mas, mesmo com métodos convencionais, com aulas tradicionais, expositivas, dentro de sala de aula, o professor tem um papel fundamental de estimular os alunos a aprender a estudar.

Métodos

Segundo Simone André existem algumas metodologias que ajudam o professor a trabalhar com um tipo de ensino mais voltado aos estudantes e suas expectativas. Uma delas é a problematização.

O professor pode trabalhar em sala de aula muito mais por meio de perguntas do que por respostas. São essas perguntas que induzem o aluno ao pensamento e à construção do conhecimento na sala de aula”, diz Simone André.

Outra metodologia é o trabalho colaborativo. Ao apresentar temas mais complexos do que os habituais, o professor pode orientar os estudantes a trabalharem em times. Com isso, os alunos conseguem perceber que mesmo problemas grandes e complicados podem ser resolvidos.

Uma terceira metodologia é a da posição do professor em relação ao aluno. Sem perder o nível de exigência com os estudantes, o professor precisa adotar uma postura de aproximação e construir com cada um uma relação de autonomia.

“A presença pedagógica do professor em aula é de exigência e de acolhimento”, diz Simone.

Uma metodologia que estimula o aprender a estudar é a educação por projetos. O principal é que o estudante aprenda a construir coisas e resolver problemas. E, finalmente, segundo Simone, é fundamental formar leitores e produtores de texto.

E o aluno faz o quê?

Mas, e o estudante? Não há nada que ele possa fazer para aprender a estudar e para assumir um papel de protagonismo na sala de aula? Claro que há. Não é por acaso que os campeões dos vestibulares adotam diversas estratégias e métodos de estudo que vão além da sala de aula.

Ler um jornal diário e livros que não estão na lista dos vestibulares ou visitar museus e mostras de arte também são estratégias de estudo. O problema é que muito disso não é estimulado em sala de aula.

“São poucos os estudantes que têm isso como um aprendizado autodidata. Você tem uma grande parte de estudantes que precisa que a escola desenvolva essas referências. Os bons estudantes utilizaram esse tipo de metodologia por conta própria”, afirma Simone.

“Esses estudantes que vão muito bem no vestibular percebem a educação como algo mais amplo. Por conta própria, acabam incorporando uma obrigatoriedade ou uma disciplina de desenvolver atividades relevantes fora da sala de aula”, afirma Amaral.

Na sala de aula

No dia-a-dia da sala de aula, o professor acaba se deparando com um desafio ainda maior. Edison Lins é professor da rede estadual de ensino em Campinas e sempre buscou ir além do currículo básico com seus alunos.

Visitas a grandes universidades ou a museus na cidade de São Paulo fazem parte do estímulo que o professor vê como fundamental a seus alunos. Não por acaso, neste ano, um aluno seu de uma escola pública de Campinas passou no vestibular de medicina na Unicamp aos 16 anos de idade.

Para Lins, o aluno não percebe automaticamente que é possível buscar por conta própria novos conhecimentos.

“O estudante precisa ser levado a ter interesse e motivação e perceber que é possível aprender a aprender, ou seja buscar novos conhecimentos, aquilo que não sabia e compreender melhor o que já sabia por experiência”, afirmou.

Aprender a aprender, também é apreender, perceber, captar. Isso nunca será dado plenamente pelo professor, o aluno tem de assumir parte ativa no processo que só se realiza com a interação das várias partes envolvidas”,diz o professor da rede estadual de SP.