Topo

Pensando na formatura e no vestibular, alunos criticam ocupações no RS

Lucas Azevedo

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

09/06/2016 13h59

As ocupações em escolas gaúchas enfrentam críticas também do lado de dentro das próprias salas de aula. Estudantes do ensino médio e técnico, que estão a ponto de se formar ou prestar vestibular, reclamam do prejuízo que estão tendo com o fechamento dos portões. O caso é sério e os ânimos estão exaltados. Apenas na capital, ao menos duas ocasiões terminaram na polícia.

Embora saiba que é preciso melhorar a estrutura, valorizar os docentes e priorizar a qualidade do ensino público – bandeiras defendidas nas ocupações –, Lucas Sampaio, 17 anos, lamenta o fato de não saber se conseguirá se formar para iniciar a vida acadêmica. Isso ocorre porque a escola em que ele frequenta a 3ª série do ensino médio está com parte das salas vazias, seja pela ocupação dos colegas, seja pela greve dos professores.

“Há uma indefinição sobre quando as aulas vão voltar e, principalmente, quando o ano letivo vai terminar. Mas o vestibular tem data para ocorrer. Não sei como vai ser, mas gostaria de ajudar a melhorar a educação sem me prejudicar”, avalia o aluno da Escola Técnica Senador Ernesto Dornelles, no centro de Porto Alegre.

“Estou há três semanas sem aula. Os ocupantes fecharam aos portões da escola e não tem previsão de retorno das aulas”, lamenta um estudante do curso técnico em administração da Escola Protásio Alves, que preferiu não se identificar. O receio é grande. Isso porque no dia 31 uma discussão envolvendo alunos de cursos técnicos e colegas que estão ocupando a instituição terminou em briga. Duas alunas acabaram feridas por pancadas e arranhões, e o caso foi registrado em boletim de ocorrência na polícia.

Depois da confusão, a instrução é ficarem casa. “O Conselho Escolar está nos alertando por e-mail para que a gente não vá à escola e mantenha nossa integridade. Temos medo de retaliação no colégio. Então os pais e professores preferiram parar com as aulas e esperar o andamento de tudo”, conta o aluno do Protásio Alves.

O jovem tem formatura prevista para agosto, mas não sabe se a data será mantida. “Estou largando nas mãos de Deus. Não sabemos como ficará o calendário escolar. Esse fim de semestre vai ficar muito prejudicado. Acredito que os professores, quando retornarem, vão dar só alguns trabalhinhos, mas nada da matéria que deveria ser dada.”

Conforme o estudante, devido às ocupações e à falta de previsão de retorno alguns colegas decidiram até abandonar o curso. “Na minha turma a maior parte é de pessoas mais velhas, há anos sem estudar, e que moram longe, na região metropolitana. Para eles é ainda mais difícil. Uns quatro já disseram que não vão voltar [para a sala de aula].”

O estudante já está empregado em um escritório de advocacia, mas espera a conclusão do curso técnico para ser promovido. “Seria muito importante eu me formar. Vai ser o meu sexto curso. Quero me capacitar porque o mercado está muito pesado. Se tu não tiver uma formação razoável, não consegue um trabalho digno com um salário descente.”

Responsável por tentar mediar o desejo dos alunos que estão realizando as ocupações, o anseio dos pais e a necessidade de cumprir a carga horária de 200 dias letivos para que os formandos consigam finalizar os estudos e prestar vestibular, a presidente da Federação das Associações e Círculo de Pais e Mestres, Berenice Cabreira, relata que é difícil chegar a um consenso.

“As reivindicações dos manifestantes são extremamente legítimas. Não quero acirrar a animosidade, mas os ocupantes perfazem, no máximo, 10% dos estudantes matriculados. E os outros que não estão em aulas e não podem frequentar o espaço público para ter aula e finalizar o Ensino Médio? Quem defende o direito de estudar?”, questiona.

Ela explica que a recomendação da entidade e que cada pai converse com os alunos manifestantes e professores grevistas para tentar entrar em acordo e liberar as salas de aulas para que as ocupações possam continuar para aqueles que desejam.

“Minha filha não está mais na escola, mas sei de muitos querem ter aula e precisam e não podem. A ocupação é muito danosa e é indispensável um consenso pacífico, através do diálogo”, sustenta.

Confusão

No dia 23 de maio, alunos que teriam aulas com professores que não aderiram à greve da categoria foram impedidos de entrar por colegas que ocupavam a Escola Técnica Parobé, na região central de Porto Alegre. Houve discussão, troca de ameaças e a Brigada Militar teve que ser chamada.

Os alunos que ocupavam a instituição acabaram deixando o prédio depois de uma negociação com a direção da escola, mas sob vaias e xingamentos dos colegas. Policiais escoltaram o grupo enquanto ele era hostilizado.

No mesmo dia, na Escola Estadual Presidente Roosevelt, no bairro Menino Deus, professores que não estão em greve e pais de alunos discutiram e trocaram ameaças com o grupo de ocupantes.

Já no dia 31 de maio, alunos do Colégio Estadual Protásio Alves, no bairro Azenha, se desentenderam e o caso acabou em agressões e um boletim de ocorrência na delegacia. Conforme relato de estudantes da instituição, ocupada desde o dia 15 de maio, a confusão ocorreu depois que o grupo que ocupa o prédio trancou o portão no período noturno, descumprindo o que teria sido acordado em assembleia antes da ocupação.