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Vídeo mostra alunos em greve interrompendo aula na Unicamp

Fabiana Marchezi

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

22/06/2016 13h19Atualizada em 22/06/2016 16h25

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra alunos grevistas invadindo e interrompendo uma aula de probabilidade do professor Serguei Popov, no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica, na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

A paralisação de estudantes no campus começou no dia 10 de maio, quando um grupo de alunos ocupou o prédio da reitoria em protesto contra o anúncio de corte de verbas e por um programa de cotas étnico-raciais.

Nas imagens, gravadas na última quinta-feira (16), ao menos três estudantes supostamente de outros institutos são vistos invadindo a sala e atrapalhando a aula. Um deles, inclusive, apaga a equação que o docente acabara de expor no quadro.

Popov, que usava um fone de ouvido para ouvir uma música e se concentrar no que estava explicando, ainda tentou dar aula, mas a voz dele foi totalmente encoberta pelo barulho feito pelos manifestantes, inclusive com batuque em tambores. Com a confusão, a aula foi interrompida e teve de ser transferida mais tarde, em outra sala.

De acordo com o professor, os alunos têm todo direito de se manifestar, mas não podem invadir e interromper uma aula que ocorria normalmente. “Eles estão em greve, mas os alunos que estavam assistindo à aula têm todo direito de acompanhá-la sem confusão. Eles têm direito de fazer greve, mas eu tenho direito de dar aula para os alunos que quiserem assisti-la”. 

Popov, que leciona na Unicamp desde 2009, contou que esse tipo de atitude tem sido recorrente. “Eles estão querendo nos intimidar, mas só estão nos desrespeitando, não vamos nos render. Outro dia, invadiram a aula de uma professora grávida de oito meses, xingaram e a empurraram. Fora as ameaças anônimas que temos recebido. Os professores estão se sentindo totalmente inseguros”, comentou o docente.

Em relação às ameaças, ele disse que já registrou dois boletins de ocorrência na Polícia Civil. Após a divulgação do vídeo, o professor tem recebido muitas manifestações de apoio. “Tenho esperança de que as coisas melhorem. A situação na Unicamp está péssima. Os alunos pensam que são donos de tudo. Estamos desprotegidos e a sociedade precisa saber o que está acontecendo aqui. Isso que vocês viram no vídeo não é nada perto do que estamos passando, mas sou russo, sou resistente, não vou me intimidar", concluiu.

Nas redes sociais, há quem peça punição ao aluno que apagou a lousa. A universidade informou, em nota, que “tomou ciência do vídeo que registra um estudante impedindo um professor de ministrar aula no campus de Campinas, e irá tomar providências com base em suas normas institucionais de condutas disciplinares”.

Outro lado

O aluno G.M., 20, que aparece no vídeo apagando a lousa, se justificou afirmando que tentou por diversas vezes pedir para que o professor parasse a aula para dialogar.

“O episódio não se resume a um minuto de vídeo. Foram 40 minutos tentando dialogar com o professor, sem sucesso. Queríamos orientá-lo a liberar os alunos, já que o instituto está em greve e há uma deliberação para que nenhum aluno seja prejudicado com falta ou repasse de conteúdo”, explicou.

Segundo ele, a gravação do episódio foi planejada pelo professor para denegrir a imagem da paralisação, que é legítima. “Já são vários episódios como esse e tenho certeza que foi uma tática para enfrentar a greve, já que no debate eles não estão mais ganhando. A paralisação é legítima”, comentou.

G. disse que após a divulgação do vídeo vem sofrendo ameaças e teme, inclusive, por sua integridade física, mas reforçou que nada vai intimidá-lo. “Não tenho nenhuma intenção de me afastar do movimento, tampouco das manifestações”, concluiu.

Greve

A ocupação ao prédio da reitoria por parte de alunos começou em 10 de maio. No dia seguinte, a Segunda Vara da Fazenda Pública de Campinas expediu um mandado de reintegração de posse do prédio da reitoria da Unicamp, mas a ordem ainda não foi cumprida.

No dia 2 de junho, os docentes da Unicamp decidiram iniciar uma paralisação para reivindicar, dentre outros tópicos, novas negociações para reajuste salarial de 12,3% com o Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo). O Cruesp concedeu 3% de aumento. Entretanto, segundo a Unicamp, a maioria dos docentes não aderiu à greve e continua lecionando. Hoje, a universidade tem 2.165 docentes.

Por meio de nota, a instituição informou que o calendário letivo está mantido e que a adesão ao movimento realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp não passa de 5%. Segundo a Unicamp, a comissão que negocia a desocupação do prédio da reitoria realizou até esta quarta-feira (22) seis reuniões com a comissão dos manifestantes.

“Na última reunião, ocorrida dia 15 de junho, a Comissão da Unicamp apresentou um documento para a construção de um compromisso entre as duas partes objetivando a desocupação do prédio da Reitoria”.