Topo

1º em medicina na USP e Unicamp trancou engenharia e trabalha 7h por dia

Guilherme Murari (centro) passou em 1º lugar em medicina na USP e na Unicamp - Arquivo pessoal
Guilherme Murari (centro) passou em 1º lugar em medicina na USP e na Unicamp Imagem: Arquivo pessoal

Thiago Varella

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

22/02/2017 04h00Atualizada em 22/02/2017 15h01

Em toda reportagem sobre os campeões dos vestibulares, o comum é trazer a história de um estudante que passou mais de 15 horas por dia enfurnado em uma sala, cheio de livros ao redor, totalmente absorto no universo das provas. Guilherme Murari, 21, passou em 1º lugar no curso de medicina da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e na USP (Universidade de São Paulo), mas ele não segue o clichê. No ano passado, diariamente, ele acordava às 5h30, tomava café e entrava no trabalho às 6h30 onde ficava até as 13h30. Só então, ele começava sua rotina de estudos.

Murari, que cresceu em Morungaba, interior de São Paulo, e vive em Campinas, não pode abrir mão de seu emprego. A vida em uma cidade grande é cara e ele precisava bancar sua moradia e os estudos em um cursinho da cidade. Depois que saía do trabalho, o jovem ia direto para o curso preparatório. Chegava no começo da tarde, ficava estudando sozinho e, então, às 19h30 entrava na aula. Saía às 23h e ia direto para casa tomar um banho e dormir para encarar a mesma rotina no dia seguinte.

Aos sábados, assistia às aulas de manhã no cursinho e, à tarde, fazia simulados. No começo da noite voltava para Morungaba, cidade que fica a 42 km de Campinas. No domingo, estudava das 7h até as 21h30. Para "descansar", a cada oito domingos tirava um de folga. E aí dedicava seu tempo para a família.

"Acho que minha principal válvula de escape era minha família. Moro sozinho desde os 16 anos e tinha pouco contato com eles. Nem que fosse pra limpar a casa, eu queria ficar com eles", contou Murari que tem mais dois irmãos, um de 17 e outro de 16 anos.

A rotina pesada deu resultados. Além dos primeiros lugares na Unicamp e na USP, Murari também passou em medicina na Unesp, na Unifesp e na USP Ribeirão. O jovem não acha que é superdotado ou que tem uma facilidade fora do comum para os estudos. Sua "fórmula do sucesso" é simples.

"Não acho que eu tenha algo de genial. Acho que o que aconteceu é fruto de dedicação e foco. Eu gosto de estudar. Sempre gostei de tirar as melhores notas e de estar entre os melhores alunos da sala. Estou sempre estudando, lendo", contou.

Nesta terça-feira (21), acompanhado da mãe, Elisabete Cristina, foi fazer a matrícula na Unicamp, a universidade escolhida por ele para se formar médico.

"Escolhi a Unicamp porque vejo como um centro de excelência que forma médicos humanizados. E também, claro, penso que para ser um bom médico preciso estar perto da minha família", afirmou.

Mas, não é só isso que fez o jovem optar por Campinas. Ele conhece tanto a cidade quanto a universidade de maneira íntima. Até o fim do ensino fundamental, Murari permaneceu em Morungaba, onde estudou em uma escola estadual. Mas, no ensino médio, prestou vestibulinho e passou para estudar no Cotuca (Colégio Técnico de Campinas), uma concorrida instituição ligada à Unicamp que oferece ensino técnico gratuito.

Por conta disso, Murari se mudou para Campinas. Durante três anos, estudou o médio em um horário e o técnico em informática em outro. Quando se formou, conseguiu emprego como desenvolvedor de aplicativos móveis - onde está até hoje - e passou no vestibular da Unicamp para cursar engenharia da computação. Ficou dois anos no curso, até desistir no final de 2015.

"Eu sempre quis medicina, mas não acreditava em mim. Eu olhava as notas e a lista de aprovadas e achava que era um sonho distante. Tinha gente fazendo cinco, seis anos de cursinho e desisti. Meus pais me orientaram a seguir na área. Prestei engenharia da computação, passei e fiz dois anos. Achei que não era meu lugar. Me senti deslocado", contou.

No fim de 2015, prestou pela primeira vez o vestibular da Unicamp para medicina, mas não foi nem classificado para a 2ª fase. Por isso, no ano passado, entrou nessa rotina pesada de trabalho e estudos. Murari acha até que os dois anos de engenharia o ajudaram no vestibular deste ano. "Não acho que os dois anos de graduação foram jogados fora. As questões de física e matemática depois da faculdade ficaram mais fáceis", contou.

Durante os estudos, de vez em quando, ainda sobrava um tempinho para curtir a namorada que também fazia cursinho durante a noite com o jovem. "Ela acabou de sair do ensino médio e está na lista de espera de medicina na Unifesp. Se não passar, vai fazer cursinho", disse, já contando que, neste ano, o namoro vai continuar restrito a algumas poucas horas durante os finais de semana.

Agora, Murari espera o início das aulas na Unicamp para começar a concretizar seu sonho de ser médico. Ainda não saiu do trabalho, mas já avisou a chefia que não vai dar para conciliar sua função com a faculdade e, por isso, vai ter de sair. Sem problemas para o jovem que já imagina a área que vai seguir na medicina.

"Meu objetivo maior é ajudar as pessoas. Eu escolhi medicina para estar com pessoas e fazer a vida um pouco melhor. Tenho também muita vontade de ir para a área de pesquisa e gostaria de me dedicar a isso. Me fascina também a área de neurociência", contou.