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MEC diz que vai recolher livro infantil de escolas por falar de incesto

Capa do livro "Enquanto o sono não vem" - Reprodução
Capa do livro "Enquanto o sono não vem" Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo e Brasília

08/06/2017 12h40Atualizada em 08/06/2017 14h54

O MEC (Ministério da Educação) informou nesta quinta-feira (8) que vai recolher de escolas públicas o livro “Enquanto o sono não vem”, que abordaria o incesto e é destinado a crianças de seis a oito anos.

Segundo o ministério informou em nota, um dos contos do livro, "A triste história de Eredegalda", fala sobre um rei que quer se casar com a mais bonita das próprias três filhas. Quando ela se nega, é castigada e acaba morrendo de sede.

A decisão do governo foi tomada a partir de um parecer técnico após questionamentos de pais de alunos sobre a história.

“As crianças no ciclo de alfabetização, por serem leitores em formação e com vivências limitadas, ainda não adquiriram autonomia, maturidade e senso crítico para problematizar determinados temas com alta densidade, como é o caso da história em questão”, afirma o parecer da Secretaria de Educação Básica do MEC.

A pasta informou que serão recolhidos 93 mil exemplares distribuídos a estudantes de primeiro, segundo e terceiro anos do ensino fundamental de escolas públicas. Segundo o MEC, as obras recolhidas das escolas de ensino fundamental serão redistribuídas para bibliotecas públicas em todo o país.

Página do livro "Enquanto o sono não vem" - Divulgação/Editora Rocco - Divulgação/Editora Rocco
Página do livro "Enquanto o sono não vem" explica as histórias contadas na obra
Imagem: Divulgação/Editora Rocco

O livro, de autoria de José Mauro Brant e publicado pela Editora Rocco, fazia parte do Pnaic (Programa de Alfabetização na Idade Certa) e foi selecionado em 2014, na gestão Dilma Rousseff. Na ocasião, o livro foi avaliado e aprovado pelo Ceale (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita) da Faculdade de Educação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Em nota, o Ceale afirmou que "o fato de uma obra tematizar incesto, como é o caso de “A triste história de Eredegalda”, não quer dizer que faça apologia do incesto".

Segundo o centro, o conto tematiza e condena o estupro "ao expor o drama e o sacrifício daquela que poderia ter sido sua vítima".

"É importante lembrar que temas como estupro, pedofilia, fratricídios, violência, alcoolismo, sequestro e incesto, por exemplo, estão tematicamente presentes até na Bíblia", complementa a nota. 

Já a Editora Rocco afirmou que o livro, publicado em 2003, "passou por uma ampla avaliação antes de ser enviado às escolas". Ainda de acordo com a editora, a obra foi adotada em diferentes ocasiões por escolas e comprado pelo Governo Federal em 2005 e 2014. O título faz parte de uma coleção de nove livros, intitulada "E quem quiser que conte outra", que reúne recontos de histórias populares. 

"A história da princesa assediada pelo próprio pai aparece em vários lugares do Brasil com nomes diferentes: 'Silvaninha', 'Valdomira', 'Faustina'. A versão aqui incluída foi inspirada em uma recolhida em Barbacena, Minas Gerais, e foi acrescida dos versos de um acalanto denominado 'Lá vem vindo um anjo'", conta uma descrição da história no próprio livro, explicando a sua origem.

Recolhimentos no ES

A polêmica envolvendo o livro veio de reclamações de profissionais de educação no Espírito Santo, ainda em maio.

No último dia 17, a prefeitura de Vitória decidiu retirar a obra das salas de aula e devolvê-la ao MEC. No dia 1º de junho, as prefeituras da Serra e de Cariacica informaram que também iriam recolher os livros das escolas municipais.

Já a prefeitura de Vila Velha informou que suspendeu o uso da obra em sala de aula para que uma equipe técnica pedagógica pudesse avaliá-la.