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Concorrido vestibular chinês usa até drone para evitar cola

Mais de 9 milhões de estudantes chineses fizeram prova este ano - AFP
Mais de 9 milhões de estudantes chineses fizeram prova este ano Imagem: AFP

Tessa Wong

Da BBC News

17/06/2015 09h16

Todos os anos, mais de 9 milhões de estudantes na China fazem o vestibular unificado chinês, conhecido como gaokao. Este ano, a prova foi realizada na semana passada.

Pelo alto número de concorrentes e a importância dada ao diploma na busca por um emprego, dá para entender porque as autoridades usam até drones para evitar fraudes.

Mesmo assim, centenas de pessoas foram desclassificadas em várias províncias por tentativas de burlar o sistema.

Passar no gaokao é a única forma de entrar na universidade na China. Os alunos sofrem pressão não apenas da família, mas da sociedade como um todo.

Muitos estudantes, pais, professores e políticos criticam esse sistema de prova única, dizendo que ela não leva em conta a criatividade dos estudantes, que o gaokao - cujas matérias obrigatórias são matemática, chinês e uma língua estrangeira - privilegia a famosa decoreba.

Guardas usam detectadores de metal na entrada de locais de prova.

Mas o fato é o gaokao praticamente define as chances de sucesso na vida dos jovens chineses, em particular os que vêm de famílias mais pobres, já que, na China, ter um diploma universitário é essencial para conseguir um emprego. E, quanto melhor a universidade, melhor o emprego.

Vigilância

As autoridades usam câmeras de seguranças e detetores de metal na entrada das escolas para evitar que estudantes entrassem com smartphones ou relógios computadorizados.

As provas também são rastreadas por sistema de GPS até serem entregues aos colégios onde serão aplicadas.

Na província de Henan, funcionários chegaram a usar um drone com um scanner de rádio para pegar trapaceiros.

O veículo aéreo não tripulado voou sobre dois centros de exame na cidade de Luoyang em busca de sinais de rádio, segundo o site do Departamento de Educação.

Segundo os funcionários, sinais de rádio poderiam indicar que informações estavam sendo enviadas a dispositivos introduzidos ilegalmente nos locais de prova.

Este ano, nenhuma atividade suspeita foi detectada pelo drone. Mas alguns estudantes foram flagrados tentando colar.

As autoridades de um colégio da região autônoma da Mongólia Interior desclassificaram 1.465 estudantes, incluindo os filhos de vários funcionários do Partido Comunista, após a descoberta de que eram "imigrantes ilegais do gaokao", segundo o Beijing News Daily.

Essa região do norte da China atrai estudantes de todo o país porque a exigência de pontuação para ser aprovada é mais baixa que em outras províncias, por ser uma área menos povoada.

Cada província determina sua própria série de perguntas para o gaokao, e o exame da Mongólia Interior é visto como um dos mais fáceis.

Mas um estudante só pode fazer a prova lá se cumprir a exigência de ter estudado em um colégio local por pelo menos dois anos. Não se sabe ainda como os estudantes desclassificados conseguiram chegar a ponto de fazer a prova.

A polícia também descobriu, nas províncias de Hubei e Jiangxi, um sindicato que pagava pessoas para se fazer passar por estudantes e faziam a prova por eles.

Nove pessoas foram detidas depois que as atividades do sindicatos foram reveladas pelo jornal Southern Metropolis Daily.

Este ano, entre os jovens rostos de estudantes que faziam o exame em Nanquim, estava Wang Xia, de 86 anos, provavelmente o aspirante a universitário mais velho do país.

Wang, cuja educação formal se resume a um curso técnico de enfermeiro, sempre sonhou em ser médico. Ele prestava o vestibular pela 15ª vez após ser reprovado em todas as tentativas anteriores.

"Não jogo, não tenho nenhum hobby particular, mas adoro ler e aprender. Talvez outras pessoa não aprovem, mas quero passar na prova, é meu pilar espiritual", afirma.

Pais

Os organizadores das provas têm de lidar não apenas com o nervosismo dos estudantes, como também com a ansiedade dos pais.

Alguns colégios criaram unidades de assistência para os pais que esperavam do lado de fora dos locais de prova, onde foram colocadas cadeiras sob guarda-sóis e servido água.

Em Pequim, essas unidades estavam equipadas com remédios para casos de insolação, segundo o Quianlong News.

Muitos alunos precisam repetir a prova várias vezes.

Enquanto isso, o Ministério da Educação se viu inundado de queixas de pais na província de Anhui, depois que estudantes reclamaram que era difícil escutar o áudio das provas de compreensão de inglês por problemas no alto-falante.

No final, foi permitido que cerca de 1.200 estudantes refizessem a prova.