Topo

Dia de volta às aulas é o que mais tem suicídio de jovens no Japão

De 1972 a 2013, 131 alunos em média tiram a vida no dia 1º de setembro; governo e ONGs oferecem apoio a alunos para combater problema - Reunters/Thomas Peter
De 1972 a 2013, 131 alunos em média tiram a vida no dia 1º de setembro; governo e ONGs oferecem apoio a alunos para combater problema Imagem: Reunters/Thomas Peter

Mariko Oi

01/09/2015 11h57Atualizada em 01/09/2015 13h17

No Japão, a volta às aulas no segundo semestre é marcada por tragédias: segundo o governo japonês, o dia 1º de setembro é historicamente o dia do ano em que o maior número de jovens com menos de 18 anos comete suicídio.

De 1972 a 2013, mais de 18 mil crianças se suicidaram. Em média anual, foram 92 no dia 31 de agosto, 131, no dia 1º de setembro e outros 94, no dia 2.

No ano passado, o Japão registrou pela primeira vez o suicídio como primeira causa de morte para pessoas entre 10 e 19 anos.

A volta às aulas em abril também marca um pico no número de mortes de crianças.

Assustado com as estatísticas, um bibliotecário da cidade de Kamakura causou polêmica ao tuitar recentemente:

"O segundo semestre está quase chegando. Se você está pensando em se matar, porque você odeia a escola tanto, por que não vem para cá? Temos quadrinhos e romances leves. Ninguém vai brigar com você se passar o dia inteiro aqui. Lembre-se de nós como um refúgio, se estiver pensando em escolher a morte em vez da escola."

'Armadura pesada'

Em apenas 24 horas, a nota de Maho Kawai foi retuitada mais de 60 mil vezes.

A iniciativa foi criticada, já que na prática se trata de um funcionário municipal incentivando crianças a não irem à escola. Mas para muitos, ele pode ter ajudado a salvar vidas.

"O meu uniforme escolar parecia tão pesado quanto uma armadura. Não podia aguentar o clima da escola, o meu coração disparava. Pensei em me matar, porque teria sido mais fácil", escreveu o aluno Masa, cujo nome real não pode ser publicado para preservar a sua identidade.

Ele afirma que, não fosse a mãe compreensiva, que o deixou ficar em casa "matando aula", teria se suicidado no dia 1º de setembro.

A declaração de Masa foi dada a um jornal para crianças que decidem não ir à escola.

"Começamos essa organização não-governamental há 17 anos, porque em 1997, tivemos três incidentes chocantes envolvendo alunos de escolas pouco antes do começo das aulas", afirmou o editor da publicação, Shikoh Ishi.

Duas das crianças citadas por Ishi se mataram no dia 31 de agosto. Mais ou menos na mesma época, outros três alunos atearam fogo à escola que frequentavam, porque não queriam voltar às aulas.

"Foi aí que percebemos como havia crianças desesperadas e queríamos dar o recado de que não existe esta escolha entre escola ou a morte", disse Ishi.

Apoio a suicidas

Para muitas crianças japonesas, a competitividade da sociedade japonesa é insuportável.

O governo japonês também lançou uma série de iniciativas - entre linhas telefônicas e outros serviços - para dar apoio a potenciais suicidas de todas as idades.

Mesmo assim, na semana passada, um jovem de 13 anos se matou no dia da cerimônia de abertura do segundo semestre.

O próprio Ishi chegou muito perto de se matar nesta idade.

"Me sentia desamparado, porque odiava todas as regras, não só as da escola, mas também aquelas entre as crianças. Por exemplo, você precisa observar cuidadosamente a estrutura de poder para evitar os bullies", disse. "Mesmo assim, se você decide não se juntar a eles, corre o risco de virar a próxima vítima."

Para ele, no entanto, o problema maior é a competitividade da sociedade japonesa. Ele próprio começou a pensar em suicídio quando não conseguiu entrar em uma escola de elite.

"O pior de tudo é uma sociedade competitiva, na qual você tem que derrotar os seus amigos."

Ishi acrescenta que, em japonês, o termo usado para exames de admissão inclui a palavra "guerra".

O que o salvou da morte foi que os seus pais encontraram o bilhete de suicídio e não o obrigaram a ir à escola.

"Quero que as crianças saibam que você pode escapar da escola, e que as coisas vão melhorar."