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Hiroíto Imperador do Japão (1926-1989)

<p>29/04/1901

Tóquio, Japão</p><p> 07/01/1989- Tóquio, Japão<p>

José Renato Salatiel*<br> Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

06/08/2010 08h27

Michinomiya Hiroíto, chamado pelos súditos de Imperador Showa (nome correspondente ao período de seu reinado), foi o 124º imperador do Japão e o que ocupou o cargo por mais tempo na história do país. Durante seu governo, a sociedade japonesa passou por profundas transformações, saindo de uma economia agrária e um regime despótico para, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) , se tornar uma nação industrializada e mais democrática.

Ele nasceu no Palácio Aoyama, em Tóquio. Era o primeiro filho do príncipe herdeiro Yoshihito (futuro imperador Taisho) e da princesa Sadako (futura imperatriz Teimei). Depois dos estudos, em 1921, passou seis meses em turnê pela Europa, sendo o primeiro príncipe japonês a viajar para o exterior. Ao retornar, em 29 de novembro, encontrou o pai acometido por uma doença mental e teve que assumir o reinado como príncipe.

Em 26 de janeiro de 1924, Hiroíto se casou com uma prima distante, Nagako Kuni (futura imperatriz Kojun). O casal teve sete filhos: dois meninos e cinco meninas.

Com a morte do pai, em 25 de dezembro de 1926, ele assumiu o trono como imperador e inaugurou uma nova era, a era Showa. De acordo com a Constituição Japonesa de 1889, o imperador era considerado uma divindade encarnada (arahitogami) e detinha, como tal, poderes absolutos. Tal condição é baseada em uma crença do xintoísmo segundo a qual os integrantes da Família Imperial Japonesa são descendentes do deus sol Amaterasu.

Invasão da China

O período de reinado de Hiroíto pode ser dividido em duas fases distintas: uma anterior à Segunda Guerra Mundial, marcada pelo ultranacionalismo e imperialismo japonês, que culmina com a invasão da China em 1937; e a fase posterior à Segunda Guerra Mundial, em que o país é ocupado por estrangeiros e Hiroíto é obrigado a abdicar de seu status de divindade e fazer reformas políticas. Ainda que enfraquecido politicamente, ele seguiu como a mais importante figura pública do Japão até sua morte.

Nas duas primeiras décadas do governo de Hiroíto, o Japão era basicamente uma sociedade rural, que atravessava uma crise financeira ao passo em que aumentava o poder militar e alimentava projetos expansionistas. Nos primeiros anos, ocorreram tentativas de golpes de Estado, que terminaram com assassinatos de insubordinados e inimigos políticos.

Em 1931 o Japão invadiu a Manchúria e, seis anos depois, o restante da China. Há documentos que mostram que o imperador japonês autorizou o uso de armas químicas (gás tóxico) contra os chineses, contrariando uma resolução da Liga das Nações que condenava a prática.

Pós-guerra

Durante a Segunda Guerra, o Japão se aliou à Alemanha e à Itália, formando o Eixo. O objetivo dos japoneses era garantir a conquista da China e do Sudeste Asiático. Em 8 de dezembro de 1941 o Exército japonês atacou de surpresa a esquadra americana em Pearl Harbor, no Havaí, obrigando os Estados Unidos a entrar na guerra. Na mesma ocasião, tropas japonesas invadiram a Malásia e ocuparam boa parte do Pacífico Ocidental.

Nas batalhas, ficaram conhecidos os pilotos kamikazes, que cometiam suicídio arremetendo a aeronave contra embarcações inimigas. Hiroíto também incentivou o suicídio entre civis, para evitar que fossem capturados pelos americanos. O imperador garantiu que os cidadãos que cometessem suicídio, para evitar serem feitos prisioneiros, estariam no mesmo patamar espiritual que os soldados mortos em batalhas.

Mesmo após a rendição da Alemanha aos soviéticos, ocorrida em maio de 1945, e a derrota para as tropas americanas nas ilhas do Pacífico, o imperador garantiu que o Japão lutaria até o último homem. Nos bastidores, porém, estudava termos de rendição, sem sucesso. As explosões de duas bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki, respectivamente nos dias 6 e 9 de agosto, fizeram com que Hiroíto aceitasse os termos de rendição dos Estados Unidos.

No dia 15 de agosto, o discurso de rendição incondicional foi transmitido pela rádio japonesa. Após a guerra, o Japão foi ocupado pelos americanos até 1952.

Nesse período, Hiroíto conseguiu se livrar de ser julgado por acusações de crimes de guerra, mas teve que abdicar de sua condição de divindade e aceitar reformas políticas, que tornaram o regime monárquico japonês mais próximo do estilo europeu.

Sucessão no trono

Durante todo o restante de sua vida, Hiroíto manteve uma vida pública ativa. Ele comparecia a cerimônias e eventos, além de desempenhar um papel importante na diplomacia em viagens ao exterior.

Ele também era visto como símbolo do Japão do pós-guerra, que registrou um crescimento econômico e industrial parecido com a China de hoje. A partir dos anos 1960, o Japão se tornou mundialmente famoso por seus produtos tecnológicos.

O imperador também se interessou por biologia marinha e publicou alguns trabalhos nessa área, onde assinava com seu nome de batismo (para demais formalidades, ele era "o Imperador").

Desde 1987, Hiroíto se tratava de complicações causadas por um câncer descoberto no duodeno. Ele morreu em 7 de janeiro de 1989 e foi sucedido pelo seu filho, Akihito. Com ele terminou a era Showa, e no mesmo dia de sua morte começou a era Heisei.