Temer, concordei com seu discurso
Concordei com o que Michel Temer disse. Acusam-me de “petismo” e de só criticar esse governo. Acontece que discordar veementemente do modo como Temer assumiu a Presidência não impede de concordar com algo que ele tenha falado.
Temer falou que “nós precisamos aprender, no país, a respeitar as instituições --e o que menos se faz hoje é respeitar as instituições”. Disse também que, ao invés do argumento intelectual e verbal (eu usaria o termo “diálogo”), usamos o argumento físico (complemento: a força, a violência). E concluiu afirmando, especificamente em relação à PEC do teto (vale estender para tantos outros textos e contextos): “As pessoas não leem o texto. Não estou dizendo os que ocupam ou não ocupam [as escolas públicas], estou dizendo em geral. As pessoas debatem sem discutir ou ler o texto”.
Exato! Estou plenamente de acordo.
Não temos respeitado nossas instituições democráticas (o direito, o governo, etc). Não temos apego por elas. Só respeitamos quando convém. Francisco Weffort – que já foi do PT, mas que também já foi Ministro de FHC – lembra que as leis, por aqui, confundem-se com privilégios. Só valem quando interessa a quem tem poder, força para aplicá-las.
Assim, enquanto as regras do jogo são dadas pelo nosso partido, atendem às nossas convicções, tudo vai bem e é democrático. Vale o empenho para que sejam cumpridas. Se não é assim, fazemos como o mimado “Caloca”, de Ruth Rocha: “Era só o juiz marcar qualquer falta do Caloca que ele gritava logo: assim eu não jogo mais! Dá aqui a minha bola!”. Se a bola não é nossa, furamos. Apelamos, acabamos com o jogo de alguma forma.
Em nosso debate sobre o respeito às instituições, vale a piadinha antiga e sem graça: “democracia significa eu mandar em você; ditadura, você mandar em mim”.
Respeitar as instituições não tem nada a ver, evidentemente, com aceitar tudo passivamente, omitir-se diante daquilo que incomoda e desrespeita. Não afasta a crítica, absolutamente.
Mas, antes disso, antes de concordar ou criticar, precisamos ler o texto e o contexto. Certamente, não tem cabimento criticar a PEC sem lê-la, como disse Temer. Da mesma forma, não tem cabimento desqualificar o movimento dos estudantes que se opõem à PEC e ocupam as escolas, sem antes conhecer, minimamente, o que estão fazendo e propondo.
Não nos preparamos para o debate público democrático. Ele exige a educação que nunca tivemos. Então, usamos as piores estratégias. Baseados no que ouvimos dizer e acreditando em tudo aquilo que confirma nossa opinião, impomos a nossa verdade, desqualificamos os adversários, xingamos quem não concorda.
Nesse debate sem razões e sem aprendizagem, é o argumento da violência que prevalece. O utilizamos contra os ignorantes (por não concordarem com a gente) que insistem em recusar a nossa evidente verdade.
Temer usou, como exemplo, quem “vai e ocupa não sei o quê e bota pneu velho em estrada para impedir trânsito”. Eu acho significativo, também, o exemplo do governo que abandona o “argumento intelectual e verbal”. Vai e acha que resolve graves problemas sociais, chamando a polícia para dispensar a manifestação daqueles que lutam por seus direitos.
A fala de Temer demanda reflexão e autocrítica de todos. Dele próprio também, é claro.
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