Protagonistas da vez
O Carnaval faz a alegria dos foliões e dos catadores de materiais recicláveis, que também têm samba nos pés, mas aplaudem a festa por outros motivos: as toneladas de latinhas de alumínio e de garrafas PET que farão diferença na receita do mês.
Apenas no Sambódromo do Rio de Janeiro, foram coletadas 74 toneladas de recicláveis no Carnaval passado. O número de 2014 deve ser ainda maior e beneficiará os funcionários do MNCR, o Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável. Segundo divulgou a Comlurb, a Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro, a renda obtida com a coleta dos resíduos durante os desfiles das Escolas de Samba será revertida para o movimento.
Além do Sambódromo, ruas e praias produziram toneladas e mais toneladas de materiais recicláveis durante o Carnaval, e não só no Rio de Janeiro. Mais blocos colocaram o samba na rua pelas capitais do país e, a despeito das campanhas motivacionais na linha “Jogue o lixo no lixo”, sabemos que a folia passa e o seu rastro fica.
De quase invisíveis a agentes sociais
Recebi do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem) um boletim que dá conta dos principais resultados da feira que os catadores realizam anualmente desde 2009: “A Expocatadores 2013 - realizada pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e a Associação Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (ANCAT) – atraiu cerca de 8 mil visitantes (20% a mais que no ano anterior) ao Parque Anhembi, em São Paulo (SP), de 18 a 20 de dezembro, com a presença de representantes de 14 países como Chile, Argentina, Colômbia e Equador. Foi registrado também aumento de 50% no número de patrocinadores e expositores em relação a 2012”.
Em pouco mais de uma década, a categoria dos catadores de materiais recicláveis se organizou. Tanto que, em visita à Expocatadores 2013, a presidente Dilma Rousseff declarou: “Até pouco tempo atrás os catadores de recicláveis não existiam para as políticas de governo. Hoje, além de existir, vocês realizam uma feira de negócios em pleno Anhembi, lugar onde se realizam as feiras mais complexas do país”.
A atividade acolheu pessoas antes sem perspectivas de trabalho e vem proporcionando a elas a oportunidade de capacitação profissional e de realização de negócios em cooperativas. Outras iniciativas também favoreceram o reconhecimento e a valorização do trabalho do catador. A Política Nacional de Resíduos Sólidos aprovada em 2010 e programas como o Cataforte, do governo federal, aliados aos esforços do empresariado, como o Cempre, são exemplos disso.
Nem tudo são flores
Alguns percentuais mencionados na apresentação do MNCR no programa da Expocatadores 2013 nos dão ideia do quanto o processo de reciclagem no país está aquém de nossa potencialidade para produzir resíduos sólidos: de tudo o que é descartado diariamente, 80% poderiam ser reciclados ou reutilizados das mais diversas formas; reciclamos menos de 10% do lixo urbano, enquanto que Europa e Estados Unidos reciclam 40% dos seus detritos; gastamos R$ 12,8 milhões por dia com a coleta e destinação do lixo.
Para agilizar a reciclagem, há a saída das centrais de triagem mecanizadas a cargo das empresas concessionárias de coleta de lixo nas cidades. A prefeitura de São Paulo investe na ideia, pois assim o volume de reciclagem do município passaria de 2% para 10%.
A novidade mexeu com a situação das cooperativas de catadores, que não atuam só na coleta de rua, mas também na triagem dos resíduos. Representados pelo MNCR, os catadores conversam com a prefeitura. Ambas as partes discutem a necessidade de que as centrais empreguem catadores e haja uma remuneração justa, além de outras possibilidades de capacitação e integração desses trabalhadores às novas tecnologias.
Não é possível deter os avanços tecnológicos, mas não se deve perder de vista o avanço social dos indivíduos que se descobrem produtivos, capazes de gerar negócios e de crescer pessoal e profissionalmente.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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