Desafio para a sustentabilidade
Muitos ainda confundem sustentabilidade com defesa do meio ambiente. Motivos para isso não faltam. Os danos à natureza são frequentes e as consequências desses crimes, devastadoras. Tanto, que basta falar em sustentabilidade para que o meio ambiente monopolize as discussões.
Sustentabilidade é um desafio, talvez o maior que a humanidade já tenha se colocado, porque se trata de uma provocação à nossa capacidade de manter o equilíbrio em todas as frentes. Será que a gente consegue produzir sem poluir; consumir sem esgotar os recursos naturais; lucrar sem explorar a mão de obra?
Esses são apenas os questionamentos mais comuns do complexo emaranhado que significa viver sob a chancela da sustentabilidade. Saberemos ser socialmente justos e respeitosos com a diversidade cultural do planeta? Haja campanha antirracismo para encarar um desafio desses.
Então, devemos desistir de metas tão ambiciosas? Ao contrário. Antes mesmo de ser cunhado, o conceito de sustentabilidade já movia cientistas, pesquisadores, até mesmo aventureiros. Agora que ele está cada vez mais presente em nosso dia a dia, temos é que seguir adiante.
Desenvolvimento em construção
O desenvolvimento sustentável do qual se originou a palavra sustentabilidade tem tudo a ver com a melhoria do nível de educação de um povo. Tanto, que em um mundo no qual 781 milhões de adultos não sabem ler, escrever ou contar como divulgou a Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura), a lembrança do quanto ainda há por fazer deve ser incorporada ao cotidiano de todos.
Estejam alguns países mais adiantados do que outros, o fato é que, em termos globais, nosso desenvolvimento está em construção e temos o dever, o desafio de trabalhar por ele, a partir da educação.
Por isso mesmo, a Unesco alinhou alfabetização e desenvolvimento sustentável ao registrar o Dia Internacional da Alfabetização em 8 de setembro deste ano. Da mensagem de Irina Bokova, diretora-geral da organização, o parágrafo a seguir sintetiza a importância dessa relação:
“A alfabetização ajuda a reduzir a pobreza e permite que as pessoas consigam empregos e obtenham maiores salários. Trata-se de uma das mais eficientes maneiras de melhorar a saúde de mães e crianças, entendendo prescrições médicas e tendo acesso a sistemas de saúde. As vidas de mais de dois milhões de crianças com menos de cinco anos de idade foram salvas entre 1990 e 2009, graças a melhorias na educação para mulheres em idade reprodutiva. A alfabetização facilita o acesso ao conhecimento e desencadeia um processo de empoderamento e autoestima que beneficia a todos. Essa energia, multiplicada por milhões de pessoas, é essencial para o futuro das sociedades.”
Os números assustam
O Censo de 2000 mapeou um país com cerca de 16 milhões de analfabetos absolutos e outros, em torno de 30 milhões, conhecidos como analfabetos funcionais. Esses quase nada aprenderam no pouco tempo que ficaram na escola, mal sabendo escrever o próprio nome e incapazes de interpretar textos ou fazer operações aritméticas básicas.
Já o Censo de 2010 revelou 3,8 milhões de crianças e adolescentes brasileiros entre 4 e 17 anos de idade fora da escola. A maior evasão se concentra nas faixas de 11 a 17 anos, com mais de 2,2 milhões de jovens que deixam de estudar no país.
As vítimas do analfabetismo na infância e na adolescência são as mais vulneráveis ao preconceito, ao abuso, ao descaso e à indiferença: negros, índios, meninas, pobres (não necessariamente nesta ordem). E, se os números ainda assustam, eles não podem nos paralisar. Para que o Brasil atinja um desenvolvimento sustentável compatível com o seu tamanho e ambições, é preciso investir na educação desde o bê-á-bá, seja para crianças e jovens, seja para os adultos.
Para tanto, dinheiro é pouco. Planejamento, um bom modelo a seguir, professores bem formados e de bem com a profissão, regras claras e vontade política para colocar tudo em prática podem ajudar.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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