A marcha do clima
Início da primavera no Hemisfério Sul, terça-feira, 23 de setembro de 2014. Data perfeita para mais um esforço da ONU em defesa do meio ambiente. As notícias nos dão conta de que, no domingo, 21, entre 350 mil e 400 mil pessoas saíram em marcha pelas ruas de Nova York, com personalidades na linha de frente das câmeras. Mobilizações pró-clima também ocorreram em mais de uma centena de países.
Na segunda, 22, a manifestação nova-iorquina seguiu em frente. Ganhou ares de protesto contra o setor financeiro e marcou presença na região de Wall Street.
Na terça, 23, a ONU abriu portas e microfones para dar voz a representantes de 125 países. O noticiário da semana repercutiu conclusões do encontro e compromissos assumidos. Deve prosseguir nos próximos dias.
Para os mais céticos, tratou-se apenas de mais um evento repleto de discursos, promessas, acordos de intenções e nada de atitudes efetivas. De certa maneira, eles têm razão, mas essas reuniões são mais importantes do que aparentam. Elas dão visibilidade aos sérios problemas que o meio ambiente enfrenta e que prejudicam a todos, no mundo todo, sem exceção.
Neste caso, inclusive, há algo mais a considerar: a Cúpula do Clima, como foi chamado o encontro, serviu como que de ensaio para a Conferência do Clima que será realizada em Paris em 2015.
A qualquer momento, em qualquer lugar
Os países em desenvolvimento, o Brasil entre eles, anseiam conquistar padrões de consumo já experimentados por outros países e em outras épocas. Aqueles que já alcançaram a zona de conforto, principalmente através da industrialização movida a combustíveis fósseis, hesitam em abrir mão de seus ganhos materiais.
Em lugares mais áridos, populações famintas dependem do aumento da produção de alimentos em outras partes do mundo. Igual dependência também afeta regiões densamente povoadas.
Produzir alimentos corresponde a desmatamento na prática mais disseminada pelo planeta, inclusive no Brasil, onde ainda perdura a ação criminosa das queimadas. Isso, sem falar na pesca e na caça predatórias. As montanhas de lixo que nos cercam completam o cenário. Poluem as águas e inviabilizam a vida.
Com mais ou menos ênfase, as questões do desenvolvimento estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano. O que antes era apenas notícia de um fato isolado em local distante pode acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar.
Em vez de ouvir falar, agora podemos ser a próxima vítima, pois estamos cada vez mais vulneráveis aos extremos do clima: secas, inundações, elevação do nível dos oceanos, temperaturas alarmantes para mais ou para menos...
Em busca de equilíbrio
A lista dos abalos provocados por uma natureza maltratada e em processo de saturação é de amplo conhecimento. O que precisamos fazer para chegar a um nível de equilíbrio, também. A grande expectativa é para o “como” fazer, porque isso implica mudanças profundas na maneira como países conduzem o seu desenvolvimento.
Por isso, reuniões como a Cúpula do Clima e outras tantas que se seguirão são significativas. Elas colocam os dirigentes do mundo na vitrine e são um convite à tomada de posição. De pronto, sabemos onde há ufanismo, retrocesso, resistências. Mas não só isso. Bons exemplos surgem aqui e ali e inovações bem-sucedidas tendem a ser adotadas.
Outro aspecto relevante é a crescente participação popular em defesa da saúde ambiental. A Marcha do Clima, seja em Nova York, seja em outras cidades do mundo, é um chamado ao exercício da cidadania.
Não devemos esquecer que, individualmente, a marcha segue todos os dias com a responsabilidade que temos de fazer a nossa parte: não esgotar os recursos naturais; não poluir as praias, as águas, as ruas; cuidar da destinação do lixo; respeitar os espaços públicos e preservar as reservas ambientais.
Para nos inspirar, sugiro colocarmos as palavras de ordem do “Trio do R” no estandarte de nossa marcha. Vamos Reduzir, Reutilizar, Reciclar.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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