Topo

Laços de sangue

Lucila Cano

24/06/2016 06h00

Em 2015, o Brasil foi o país anfitrião do Dia Mundial do Doador de Sangue nas Américas. Este ano, o anfitrião na região foi o Equador. Mesmo assim, durante todo o mês de junho, a campanha para conquistar doadores tem sido intensa por aqui.

Anualmente, e desde 2004, a Organização Mundial de Saúde (OMS) escolheu o dia 14 de junho para lembrar a todos a importância da doação de sangue. A data homenageia o aniversário de nascimento de Karl Landsteiner (14/06/1868-26/06/1943), médico e biólogo austríaco, naturalizado americano, que descobriu o fator RH e classificou os grupos sanguíneos pelo sistema ABO. Por essa importante contribuição, ele recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1930.

Em diversas oportunidades, os hemocentros e outras instituições de saúde promovem campanhas em busca de doadores. Além do Dia Nacional do Doador de Sangue, em 25 de novembro, há períodos, como Carnaval e férias de fim de ano, nos quais os apelos são intensificados. O inverno é um desses períodos. O frio naturalmente afasta os doadores, mas não a demanda dos hospitais.

Alguns números

Em 2011, a OMS divulgou números que já confirmavam o descompasso entre quem precisa e quem doa. Segundo a organização, mais de 81 milhões de unidades de sangue eram coletadas por ano. Delas, apenas 27 milhões em países de renda média e baixa, onde viviam 82% da população mundial. Pior ainda, 43% das doações nesses países seriam mediante pagamento ou, então, de familiares de pacientes, a título de repor o volume de sangue que tais pessoas receberam.

Ainda desse total de 81 milhões de unidades por ano, 37,6 milhões, ou seja, praticamente a metade, viriam de doadores regulares, voluntários e não remunerados. Excelente, mas com um senão: 89% desses doadores estariam em países de rendas altas.

Os números da OMS em 2016 são mais animadores – 92 milhões de pessoas doam sangue todo ano – embora saibamos que a população mundial também cresceu. De qualquer modo, é interessante notar que 45% desses doadores têm menos de 25 anos de idade e 40% deles são mulheres.

Um exemplo do Espro – Ensino Social Profissionalizante, que prepara aprendizes para o mercado de trabalho, confirma esses percentuais. A organização, que tem sede em São Paulo, anunciou esta semana a campanha #partiudoarsangue que levará 265 jovens a doar sangue para o Hemocentro da Santa Casa de São Paulo. Segundo o informe, os aprendizes do Espro em outros estados também estão sendo motivados a fazer doações em suas cidades.

Uma boa ação puxa outra

Todas as iniciativas pró-doação de sangue são muito bem-vindas. Somos um povo de solidariedade alta e renda baixa. A população é grande e, em breve, deixaremos de ser um país de maioria jovem. Portanto, para quem tem boa saúde – basta consultar os sites dos hemocentros para conferir os requisitos necessários –, uma doação de sangue pode salvar até quatro vidas.

Mas, como uma boa ação pode puxar outra, fica aqui o recado sobre a doação de medula óssea. As chances de compatibilidade para o transplante de medula óssea são, em média, de uma para cada cem mil pessoas.

Ao doar sangue, quem tiver entre 18 e 55 anos de idade pode se cadastrar como doador de medula óssea no próprio hemocentro. A pessoa deverá preencher uma ficha com dados pessoais e doar pequena amostra de sangue para que um teste específico identifique suas características genéticas.

No site do Hospital Samaritano (www.samaritano.org.br) há um tutorial muito bem elaborado para quem se interessar por mais esta boa ação.

A doação de medula óssea é mais complexa do que a doação de sangue, mas nada que prejudique a saúde do doador. Pode fazer a diferença na vida de muita gente e, assim como a doação de sangue, reforçar nossos laços de solidariedade. Porque, vale insistir, solidariedade não tem sexo, nem cor, nem raça, nem idade, nem religião. É apenas uma vontade grande de provar que podemos ser melhores do que somos.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.