Mapa de Nós
Sob o sugestivo título “Mapa de Nós”, que tanto pode significar “mapa da gente”, daqueles que são iguais, como também “mapa dos entraves” que as pessoas com deficiência enfrentam, a NBS Rio+Rio, negócio social da agência de publicidade NBS, e o CIEDS – Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável – divulgaram na terça-feira, 13, algumas conclusões de um mapeamento de pessoas com deficiência nas principais comunidades pacificadas do Rio de Janeiro.
A íntegra do mapeamento deve ser publicada ainda em setembro, mas pelas informações recebidas, alguns aspectos se destacam. Chama atenção a sensibilidade com que o projeto foi conduzido. A equipe de pesquisa foi formada por portadores de deficiência, que mapearam 12.456 domicílios de dez favelas durante um ano, o que resultou em 945 pessoas entrevistadas.
O estudo revelou, por exemplo, que reclusão e locomoção dificultada se fazem presentes, a despeito das diferenças geográficas, segundo Aline Pimenta, diretora da NBS Rio+Rio: “Imaginávamos que a diferença geográfica entre as comunidades pesquisadas, íngremes e planas, pudesse refletir em maior ou menor dificuldade de mobilidade. Mas a pesquisa mostrou que a acessibilidade e a qualidade de vida dentro das comunidades são tão precárias que essas pessoas ficam presas em casa e, assim, as diferenças geográficas não exercem tanto impacto”.
Realidade e desejos
Jovens são a maioria dos entrevistados. Deles, 47% são portadores de deficiência congênita e 34% possuem a chamada deficiência adquirida. Entre esses, 25% em decorrência de acidentes ou violência urbana. Curiosamente, 19% não souberam dizer qual a origem de suas limitações. Do total de pessoas entrevistadas, 46% apresentam algum tipo de deficiência física ou motora.
Respostas às opções de lazer indicaram cinema, praia e shopping como preferências. No entanto, como a maioria tem dificuldades de locomoção e vive reclusa, os responsáveis pelo mapeamento acreditam que as escolhas declaradas sejam mais condizentes com os desejos do que com a realidade dos entrevistados.
A falta de oportunidades de emprego também é um dado de realidade que pesa no cotidiano das pessoas com deficiência. Dos entrevistados, 76% não estão trabalhando, embora muitos tenham condições para tanto. Entre os 24% em atividade, não há quem tenha trabalho condizente com a área em que se formou ou com a qualificação profissional que possui há mais de cinco anos. Além disso, a maioria apresenta baixa escolaridade, um traço comum à população com deficiência em todo o país. Como se não bastassem as dificuldades inerentes à condição de pessoa com deficiência, a baixa escolaridade tolhe as expectativas de realização profissional.
Vencer barreiras
Para Vandré Brilhante, diretor-presidente do CIEDS, “A principal barreira a ser superada pelas empresas ao contratar pessoas com deficiência ainda é o preconceito. Esse tipo de contratação não exige apenas que a empresa adapte banheiros, escadas e elevadores, mas também as equipes. A inserção deve ser gradual. Mas, os benefícios para a pessoa com deficiência e para os colaboradores que trabalharem com ela são infinitamente maiores”.
De acordo com Brilhante, o “Mapa de Nós” mostra que não existem pessoas com deficiência que não tenham sonhos, que não desejem trabalhar, casar, ter filhos: “O que existe é a crueldade do preconceito, as dificuldades físicas para se locomover, uma cidade não acessível e, acima de tudo, a indiferença social. Ao serem abordados por outras pessoas com deficiência, os entrevistados perceberam que é possível ter emprego, uma renda e desafios profissionais”.
Ainda sob os efeitos dos resultados obtidos pelos atletas brasileiros na Paraolimpíada, o mapeamento de pessoas com deficiência no ambiente das comunidades cariocas é um estímulo para a busca de soluções.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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