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Orfeu e Eurídice - Mitos inspiram a arte

Valéria Peixoto de Alencar*, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Um dos mitos mais populares é o de Orfeu. Ele teria sido o mais talentoso dentre todos os músicos. Orfeu era filho da musa Calíope e, segundo alguns, do deus Apolo, que presenteou o filho com uma lira. Quando Orfeu a tocava, os pássaros paravam para escutar, os animais selvagens perdiam o medo e as árvores se curvavam para pegar os sons que o vento trazia.

Orfeu se apaixonou pela bela Eurídice e se casaram. Ela era tão bonita que despertou o interesse de outro homem, Aristeu. Depois de recusar Aristeu, este passa, contudo, a persegui-la. Durante a fuga, Eurídice tropeça em uma serpente. O animal pica Eurídice - e, sob o efeito do veneno, a jovem morre.

Desesperado e sofrendo, Orfeu foi até o mundo dos mortos com sua lira para resgatar Eurídice. A canção emocionada que entoa convence o barqueiro Caronte a levá-lo e, em seguida, faz adormecer Cérbero, o cão de três cabeças que vigia a entrada do mundo inferior.



Reprodução
Orfeu rodeado de animais, mármore.

Quando Orfeu chega perante Hades, o deus do submundo fica muito irritado ao ver que um vivo conseguira penetrar no mundo dos mortos, mas a música de Orfeu o comove. Perséfone, que estava com Hades, o convence, então, a atender ao pedido do músico.

Hades concorda, mas coloca uma condição: Eurídice pode sair seguindo Orfeu, mas ele só deve olhar para ela novamente quando estiverem à luz do sol.

Orfeu parte, então, pela trilha íngreme que leva para fora do mundo inferior, tocando músicas de alegria e celebração, a fim de guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele não olha nenhuma vez para trás, até atingir a luz do sol. Mas, então, vira-se, procurando se certificar de que Eurídice o está seguindo. Por um momento ele a vê, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas, enquanto ele olha, ela se torna de novo um fantasma, seu grito final de amor e pena não mais do que um suspiro na brisa que sai do mundo dos mortos. Ele a perde para sempre.



A arte interpreta o mito

Por que Orfeu olhou para trás? Por que não esperou só mais um pouco? Curiosidade? Desconfiança? Medo? Amor?

A história de amor de Orfeu e Eurídice inspirou artistas ao longo do tempo. Poetas, pintores e escultores tentaram representar uma das histórias de amor mais antigas e comoventes da cultura ocidental, cada um de acordo com o estilo de sua época.



Reprodução
Jean-Baptiste Camille Corot. Orfeu guiando Eurídice do submundo, 1861.

Na obra de Jean-Baptiste Camille Corot (acima), temos as características do paisagismo realista, embora apresente como tema um trecho do mito de Orfeu. O cenário traz detalhes de uma natureza imaginária existente no submundo do deus Hades. Para criar essas imagens, Corot utiliza com maestria os contrastes de luz e sombra. Também é possível perceber nas pinceladas elementos que influenciariam, posteriormente, os impressionistas.

A representação de cenas do mito de Orfeu e Eurídice não se esgota na Antiguidade ou nos períodos do Renascimento e do século 19. Os modernistas também se apropriaram do tema. Dentre eles, temos o exemplo do russo Marc Chagall. Em seu O mito de Orfeu (abaixo), vemos Orfeu no mundo de Hades, numa representação em que as cores fortes e as figuras rementem à fantasia.



Reprodução
Marc Chagall. O mito de Orfeu. Óleo sobre tela, 1977.

No Brasil, o poeta Vinicius de Morais escreveu a peça Orfeu da Conceição, que foi premiada em 1954, no concurso de teatro do 4º Centenário de São Paulo, e que serviu de inspiração para o filme Orfeu, de Cacá Diegues, em 1999.



Dicas


  • Leia também o texto Mito e arte - Representações de Deméter e Perséfone.

    O Museu de Arte de São Paulo (MASP) tem a proposta de apresentar sua coleção sob novos conceitos. Dentre eles, A arte do mito.