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Brasil na Segunda Guerra - terror no Atlântico - Navios torpedeados e declaração de guerra

Túlio Vilela, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

(Material atualizado em 18/11/2013, às 11h38)

O Brasil teve 34 navios torpedeados pelos submarinos do Eixo durante a Segunda Guerra. Com exceção do navio Taubaté (torpedeado em 22 de março de 1941, no Mediterrâneo, próximo ao Egito, o que causou a morte de uma pessoa), todos os torpedeamentos ocorreram depois de o Brasil romper relações diplomáticas com o Eixo.

De fevereiro a agosto de 1942, dezenove navios brasileiros foram torpedeados, o que causou a morte de 742 pessoas. Os torpedeamentos continuaram a ocorrer depois de agosto de 1942, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista.

O último navio brasileiro a ser torpedeado foi o Vital de Oliveira, em 19 de julho de 1944, quando seguia em direção ao Rio de Janeiro, após escalas no litoral do Nordeste e em Vitória. A maioria das embarcações brasileiras torpedeadas era de navios mercantes. As exceções foram o Vital de Oliveira, que era um navio de guerra (por causa do ataque, da sua tripulação de 275 pessoas morreram 99) e o Shangri-lá, um barco pesqueiro, atacado em 22 de julho de 1943 (as dez pessoas que estavam nesse barco morreram).

Centenas de mortes

Ao todo, os torpedeamentos de embarcações brasileiras causaram a morte de 1.081 pessoas. Para termos uma ideia do impacto e do pânico gerado por esses ataques, é preciso levar em conta as opções de transporte então disponíveis, na década de 1940, entre as regiões do Brasil: a qualidade e a quantidade das rodovias brasileiras deixavam a desejar; faltavam ferrovias que interligassem as várias regiões; quase não havia aeroportos.

Portanto, para a maioria dos brasileiros que precisasse viajar de um estado para outro ou de uma região para outra, uma das poucas opções disponíveis era utilizar navios. Era comum navios mercantes transportarem passageiros, que aproveitavam as escalas para viajar de um ponto a outro do país. Assim, qualquer família brasileira que estivesse viajando de navio naquela época corria o risco de ser vítima de um ataque submarino.

E para quem morava no litoral do Nordeste, a guerra não parecia uma realidade tão distante quanto poderia parecer para os brasileiros de outras regiões. Um exemplo disso é o que ocorreu com o navio Baependi, afundado por volta das 19 horas do dia 15 de agosto de 1942. Somados tripulantes e passageiros, o navio transportava 306 pessoas, das quais 270 morreram.

No dia seguinte, cadáveres (inclusive de crianças) apareceram, trazidos pela correnteza, na praia próxima à vila de Mosqueiro, na costa do Sergipe. As ondas também trouxeram malas com pertences dos passageiros e pedaços do navio.

Poucas horas depois, chegaram notícias dos afundamentos de outros dois navios brasileiros: o Araraquara (cujo torpedeamento também ocorreu no dia 15 de agosto, causando a morte de 131 pessoas - apenas onze sobreviveram ao ataque) e o Aníbal Benévolo (cujo torpedeamento ocorreu no dia 16 de agosto, causando 150 mortes - apenas quatro pessoas sobreviveram).

Num curto intervalo de tempo, os três navios foram destruídos por um único submarino alemão, o U-507, comandado pelo capitão Harro Schacht. Em 15 de janeiro do ano seguinte, o U-507 acabou sendo afundado por um avião da marinha dos Estados Unidos.

Boatos da quinta-coluna

Existe farta documentação comprovando que foram mesmo submarinos alemães os responsáveis pelo torpedeamento da grande maioria dos navios brasileiros durante a Segunda Guerra. A única exceção é o navio Cabedelo, que "desapareceu", após ter sido afundado por um submarino alemão ou italiano. O Cabedelo foi o quarto navio brasileiro a ser torpedeado (a data mais provável desse afundamento é 25 de fevereiro de 1942).

Pesquisadores europeus já atribuíram a autoria do afundamento do Cabedelo ao Da Vinci, um submarino italiano. Também foi considerada a possibilidade de que o Cabedelo tenha sido torpedeado por outro submarino italiano, o Torelli.

Apesar de todas as evidências comprovando que submarinos do Eixo torpedearam os navios brasileiros, ainda há quem acredite na absurda ideia de que submarinos norte-americanos teriam sido os verdadeiros responsáveis pelos ataques, com a intenção de obrigar o Brasil a entrar na guerra.

Tal ideia não passou de um boato criado pela propaganda dos quinta-colunas (os colaboradores do Eixo infiltrados entre a população brasileira). As matérias-primas transportadas pelos navios brasileiros eram de vital importância para os Aliados, portanto, só interessaria aos países do Eixo atacar esses navios.

Além disso, naquela época, a maior parte da frota dos submarinos norte-americanos não estava no oceano Atlântico, mas no Pacífico, torpedeando navios de guerra japoneses. Observe-se também que a marinha dos Estados Unidos preferia investir na construção de navios porta-aviões do que na guerra submarina, uma especialidade da marinha alemã nas duas guerras mundiais.

Reações violentas

A notícia dos ataques contra navios brasileiros comoveu a população brasileira na época. Também motivou reações violentas de cidadãos que, indignados e desejando vingança, se voltaram contra imigrantes alemães, italianos e japoneses.

Em muitas cidades brasileiras ocorreram episódios de depredações de estabelecimentos comerciais pertencentes a imigrantes vindos de países que faziam parte do Eixo - e até tentativas de linchamento desses imigrantes.

Após a entrada do Brasil na guerra, esses imigrantes passaram a ser vigiados pelas autoridades brasileiras - e não foram poucos os que foram vítimas de perseguições e arbitrariedades. Tais imigrantes costumavam ser suspeitos de espionagem.

Passeatas de estudantes

Aproveitando a indignação popular com os ataques alemães a navios brasileiros, a União Nacional dos Estudantes (UNE) organizou passeatas nas principais cidades brasileiras, exigindo a entrada do Brasil na guerra ao lado dos Aliados. Nessas passeatas era comum que alguns estudantes aparecessem fantasiados de Hitler, com o objetivo de ridicularizar o ditador nazista. Tais passeatas acabaram recebendo adesão popular.

Ao exigir a entrada do Brasil na guerra contra as ditaduras da Europa, a UNE estava pressionando o governo brasileiro a deixar de "ficar em cima do muro" (o presidente Getúlio Vargas tentou manter a neutralidade do Brasil no conflito até onde pôde, mesmo após os primeiros ataques alemães contra navios brasileiros) e manifestando seu repúdio às ditaduras: as da Europa (Alemanha e Itália) e a brasileira, do próprio Vargas, o Estado Novo.

Vargas, aliás, temia que a entrada do Brasil na guerra, ao lado das democracias, abrisse condições para que os opositores do regime exigissem o fim do Estado Novo e a realização de eleições diretas para presidente.

Em 22 de agosto, após uma reunião ministerial, o Brasil finalmente declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista. O Brasil estava oficialmente na guerra.