Astecas - Religião e organização social no Império Asteca
Túlio Vilela
- Civilizações pré-colombianas
- Astecas e espanhóis - Hernán Cortéz e o Império Asteca
- Astecas e espanhóis - A destruição do Império Asteca pelos espanhóis
- Maias
- Império Inca
- Incas
Quais eram os deuses cultuados pelos astecas?
Os astecas eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses. No início, a religião dos astecas era muito simples, mas foi se tornando mais complexa quando eles foram entrando em contato com outros povos vizinhos, dos quais foram incorporando novos elementos. A lista de divindades cultuadas pelos astecas era bastante extensa. Seria praticamente impossível, e sem propósito, falar a respeito de cada uma delas aqui.
Quais algumas das mais importantes?
Quetzacoatl, a serpente de plumas, no início, era uma divindade que representava a fertilidade e, com o passar do tempo, se transformou, passando a representar as ideias de morte e ressurreição; Tezcatlipoca, deus da noite, era invisível e sedento por sangue humano; Tláloc, deus que trazia tanto a chuva, que tornava os campos férteis, quanto o trovão e o granizo; Huitizilopchtli, deus guerreiro que representava o Sol do meio-dia; Xipe-Totec, divindade dos ourives, e que se revestia com a pele de um homem esfolado.
Como e quando surgiu a civilização asteca?
Pouco se sabe a respeito dos primeiros tempos desse povo. Na verdade, o povo que chamamos de "asteca" chamava a si mesmo de "mexica" e era chamado pelos espanhóis de "mexicas". A palavra "asteca" surgiu de aztecatl, que na língua nativa falada pelo povo Mexica designava os que vinham de Aztlán, lugar que, segundo a lenda, era a terra natal do povo mexica. A partir do século 19, autores europeus começaram a usar o termo "asteca", que também foi incorporado por historiadores mexicanos para distinguir os habitantes do México atual dos que viviam na região antes da chegada dos espanhóis. Hoje, o termo "asteca" geralmente é usado para designar todos os habitantes do império fundado pelo povo mexica.
O que se sabe sobre a origem dos astecas?
Segundo a maioria dos historiadores, os astecas deixaram sua região de origem por volta do século 12. Após uma longa caminhada, teriam chegado ao vale de Anahuac (atual vale do México), que era bastante fértil, e ocuparam as ilhas a oeste do lago Texcoco, pois as do lado leste já eram habitadas. Há controvérsias quanto ao local de origem desse povo: a maioria dos estudiosos acredita que o mais provável era o norte do vale do Anahuac (atual Vale do México), outros acreditam que o local de origem dos astecas ficava ainda mais ao norte, no que hoje é o sudoeste dos Estados Unidos. Entretanto, outros estudiosos acreditam que Aztlán não passa de um lugar mítico. Seja como for, na época da chegada dos astecas ao vale existiam várias cidades-Estado. Nessa época, eles absorveram muitos elementos da cultura dos habitantes da cidade-Estado de Culhuacán.
Que momento pode ser considerado um marco decisivo para essa civilização?
Em 1325, os astecas ou mexicas fundaram a cidade de Tenochtlán. A primeira construção da cidade foi o templo, ao redor do qual construíram-se casas, palácios e mercados. Conforme a cidade cresceu, os astecas passaram a atacar e dominar outras povos da região, dentre os quais, os toltecas e os olmecas. O que se tornou conhecido como Império Asteca nasceu da aliança de Tenochtlán com outras duas cidades: Texcoco e Tlacopán.
Existe semelhança entre o modo de os astecas estabelecerem seu império e outros impérios do mundo antigo?
Geralmente, para evitar guerra e destruição, ao chegarem a uma cidade que pretendiam dominar, os astecas propunham que o povo do lugar se rendesse sem resistência. A razão disso era muito simples: o Império Asteca sobrevivia dos impostos cobrados nas cidades dominadas; como esses impostos não eram na forma de dinheiro, mas de produtos (peças de algodão, ouro em pó, artesanato, cogumelos alucinógenos...), não interessava aos astecas que as cidades que eles pretendiam dominar fossem destruídas.
Quantas pessoas viviam no Império asteca na época em que os espanhóis chegaram?
Não se sabe o número exato de habitantes do Império asteca naquela época, mas uma coisa é certa: para os padrões de então, a população do Império era numerosa. Estima-se que, antes da chegada dos espanhóis, havia cerca de 15 milhões de habitantes. Nos anos de 1520 e 1521, o número de habitantes caiu para cerca de quatro milhões, a principal causa dessa queda foi uma epidemia de varíola (o que facilitou a conquista pelos espanhóis). Mas mesmo com essa queda, a população do Império asteca ainda era numerosa se comparada com a de outros países na mesma época. Só para se ter uma ideia, em Tenochtán, viviam cerca de 250 mil pessoas, ou seja, a capital do Império asteca tinha mais habitantes do que várias cidades europeias na mesma época, dentre as quais, Londres e Madri. Após a chegada dos espanhóis, houve uma drástica queda na população que habitava os territórios do que havia sido o Império Asteca: em 1581, a população indígena era inferior a dois milhões de habitantes. Essa queda vertiginosa da população foi decorrente da violência da conquista espanhola, que veio acompanhada de fome e doenças.
Quais eram os principais grupos que formavam a sociedade asteca?
A sociedade asteca era bastante hierarquizada. As roupas indicavam a posição social da pessoa. Quem governava era o imperador, chamado de tlatoani (palavra que significava "aquele que fala" ou "aquele que comanda"). No início, o tlatoani era eleito por uma assembleia de guerreiros, mas, com o tempo, a função passou a ser hereditária, isto é, passava de pai para filho. Entre as responsabilidades do imperador estava a de fornecer alimentos para a população necessitada em períodos de seca ou carestia. Havia também uma espécie de "vice-imperador", o cinacoatl, cargo que era geralmente exercido por um irmão do imperador.
O que vinha abaixo deles?
Os nobres, grupo do qual faziam parte funcionários públicos encarregados da administração, sacerdotes e líderes militares. Geralmente, esses nobres eram parentes do imperador. Entre as tarefas dos sacerdotes, que eram celibatários [não podiam se casar], estava cuidar dos tempos, consultar os astros e guardar manuscritos. Embora não tivessem tarefas administrativas ou militares, os sacerdotes eram um grupo privilegiado, pois, assim como os outros nobres, eles também não eram obrigados a pagar impostos.
E abaixo dos nobres?
Abaixo dos nobres estavam os comerciantes e artesãos, que passavam o ofício de pai para filho. Entre os artesãos existiam ourives, joalheiros e os que trabalhavam com plumas. Cada grupo de artesãos era obrigado a pagar um imposto, que consistia em entregar parte do que se produzia. Apesar disso, eram bem remunerados e muito respeitados. Um dos privilégios dos artesãos é que eles estavam dispensados do trabalho obrigatório nas obras públicas (construção de pontes e templos etc.). Por sua vez, os comerciantes estavam divididos em dois grupos: o comércio local estava nas mãos das pessoas de origem humilde, enquanto o comércio exterior de artigos de luxo estava nas mãos dos grandes comerciantes. Esses grandes comerciantes ocupavam uma posição privilegiada na sociedade asteca, abaixo apenas da nobreza, e tinham um papel importante no expansionismo asteca: ao visitarem as cidades que os astecas pretendiam dominar, eles passavam aos líderes militares astecas informações valiosas a respeito das condições de defesa dessas cidades.
Quem constituía a base da pirâmide social?
Os maceualtin eram os cidadãos comuns, que constituíam a maioria da população. Os que eram agricultores não trabalhavam apenas nas terras para sua própria subsistência, mas também nas terras destinadas ao abastecimento dos nobres. Os maceualtin eram obrigados a trabalhar nas obras públicas. Também podiam ser obrigados a prestar o serviço militar, que, diga-se de passagem, era uma das poucas formas disponíveis de um cidadão comum ascender na sociedade asteca.
Existiam escravos entre os astecas?
Havia a classe dos tlatlacotin, que era formada por prisioneiros de guerra, condenados pela justiça civil, pessoas com dívidas de jogo (ou arruinadas pela bebida) e estrangeiros, remanescentes de povos que foram conquistados ou dizimados pelos astecas. A palavra tlatlacotin costuma ser traduzida por "escravos", mas o termo é inexato. Para saldar uma dívida, eles podiam trabalhar para um senhor. Essa relação estava mais próxima da servidão do que da escravidão por dívidas, pois os tlatlacotin podiam morar em suas próprias residências; no caso dos homens, podiam se casar com mulheres livres, e seus filhos eram considerados livres.