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Império Inca - Da guerra civil a Francisco Pizarro

Érica Turci

(Atualizado em 30/04/2014, às 17h30)

Em 1492, Cristóvão Colombo, navegador italiano a serviço da Espanha, chegou ao Caribe, na América. Em poucos anos, os espanhóis dominaram grande parte das ilhas caribenhas e passaram a investir na conquista do continente.

Na primeira metade do século 16, essa região, a América Central, era chamada de Castilla del Oro pelos hispânicos; e foi partindo daí que o Império Espanhol passou a explorar e anexar as terras americanas.

Um dos mais conhecidos exploradores da Espanha foi Francisco Pizarro, o conquistador do Império Inca.

Desde 1513, Pizarro já se encontrava na América, mas, no início, apenas como um oficial que trabalhava para outros conquistadores. Em 1522, ele conheceu Pascual de Andagoya, um espanhol que tinha explorado terras ao sul de Castilla del Oro e conhecido um território chamado "Pirú" ou "Birú", ou seja, o atual Peru, onde se localizava Cuzco, a capital do Império Inca.

Andagoya, apesar de não ter conseguido obter riquezas em sua expedição, descrevia as terras incas como cheias de tesouros, despertando a cobiça de vários espanhóis.

Diante desses relatos, Francisco Pizarro, o oficial espanhol Diego de Almagro e o padre Hernando de Luque organizaram duas expedições em busca do Peru, em 1524 e 1526, mas só conseguiram encontrar indígenas dominados pelos incas. Nessa oportunidade, chegaram a prender alguns desses nativos, para que servissem como intérpretes futuramente, e retornaram a Castilla del Oro.

Em 1529, Pizarro conseguiu, do próprio rei Carlos 5º, a autorização para conquistar o Peru. Três anos depois, acompanhado por dois de seus irmãos, além de Almagro e do padre de Luque, contando com pouco mais de 180 homens, Pizarro iniciou a tomada do Império Inca.

A crise de sucessão ao trono inca

Ao mesmo tempo em que Pizarro se aproximava do Peru, o Império Inca vivia uma guerra civil entre os irmãos e herdeiros do trono: Huáscar e Atahualpa.

Os incas eram a elite dominante do Peru desde o início do século 13 e, graças a uma bem-sucedida política expansionista, chegaram a controlar terras numa extensão de 4.500 km, desde a Colômbia até o Chile e a Argentina atuais, submetendo em torno de 15 milhões de pessoas.

Os incas chamavam seu império de Tawantinsuyu, ou seja "império dos quatro cantos", cada um deles administrado por um nobre inca indicado pelo Sapa Inca ou Inca (imperador). A capital era Cuzco, que em quíchua (língua dos incas, ainda hoje falada nos países da cordilheira dos Andes) significa "umbigo do mundo". Como o império era muito grande e controlava centenas de povos que deviam obedecer e trabalhar para os incas, não era difícil que ocorressem rebeliões.

O 11º Sapa Inca, Huayna Capak, deixou Cuzco, por volta de 1513, sob o governo de um de seus muitos filhos, Huáscar, e partiu para Quito, juntamente com outros dois filhos, Ninan Cuyuchi e Atahualpa, a fim de submeter povos rebeldes ao norte dos seus domínios.

Durante mais de dez anos Huayna Capak travou batalhas ao norte, até que, em 1528, veio a falecer devido a uma doença desconhecida dos povos andinos, a varíola, transmitida pelos espanhóis aos americanos. Seu filho e herdeiro do trono, Ninan Cuyuchi, também faleceu, dias depois, de varíola.

Então, Huáscar foi nomeado Sapa Inca pela nobreza de Cuzco, enquanto Atahualpa permaneceu em Quito, juntamente com a elite militar inca. Temendo o poder bélico de seu irmão, Huáscar chamou Atahualpa para ir até Cuzco, mas ele foi advertido por seus generais de que isso poderia ser uma emboscada.

Não sabemos se os militares aliados de Atahualpa estavam corretos, mas, de qualquer forma, Atahualpa se dirigiu a Cuzco com a intenção de tomar o poder. A guerra, então, assolou o império. E, no meio dos conflitos, muitos povos que, havia anos, não aceitavam o domínio inca, aproveitaram para se rebelar. Atahualpa venceu a guerra e foi coroado como 13º Sapa Inca, mas as lutas tinham enfraquecido demais o poder dos incas.

Atahualpa e Pizarro

Atahualpa, logo após vencer Huáscar (1532), se dirigiu para Cajamarca, a fim de encontrar os estranhos homens que andavam por seu império, os espanhóis. Não existe informação precisa sobre quantos soldados acompanharam o Inca, mas acredita-se que entre 50 mil e 80 mil.

Atahualpa estava nas redondezas de Cajamarca quanto recebeu homens enviados por Pizarro, convidando-o para um jantar. O imperador inca foi ao encontro escoltado por seus soldados, e quando chegou à praça central de Cajamarca foi recebido pelo padre Vicente Valverde, que, através de um intérprete, exigiu que o Inca se convertesse ao cristianismo e aceitasse a autoridade da Coroa espanhola, entregando-lhe um breviário (livro de orações).

Atahualpa, que não entendeu e nem poderia entender o significado daquele livro, jogou-o no chão, provocando a ira dos espanhóis, que estavam escondidos nos prédios ao redor da praça e se lançaram contra os incas.

Uma batalha violenta foi travada entre incas e espanhóis. E estes, apesar de estarem em menor número, conseguiram, graças às suas armas de fogo, aniquilar os incas. Atahualpa foi poupado a mando de Pizarro e feito prisioneiro.

O imperador inca ofereceu a Pizarro uma fortuna em troca de sua liberdade: uma sala, como aquela em que ele estava confinado, cheia de ouro - e mais duas salas cheias de prata. Pizarro aceitou a oferta, mas não libertou o inca.

Enquanto estava preso, Atahualpa mandou que seus homens assassinassem Huáscar, temendo que seu irmão retomasse o trono. Assim que Huáscar foi morto, novas batalhas se iniciaram em Cuzco.

Os cronistas espanhóis da época contam que Pizarro tinha grande interesse por Atahualpa, e os dois conversavam muito, pois o imperador inca aprendeu o castelhano em menos de um mês. Mesmo assim, Atahualpa não foi poupado da morte. Acusado de heresia e poligamia, e também por ter mandado matar seu irmão e ordenado mais uma dezena de outros crimes, o imperador foi condenado à fogueira. No entanto, como aceitou se batizar, sua pena foi aliviada: enforcamento (1533).

Assim, sem o grande chefe político-religioso liderando os incas, foi mais fácil para os espanhóis a conquista de Cuzco. Como a guerra civil entre os partidários de Huáscar e os militares de Atahualpa havia se intensificado, os espanhóis souberam aproveitar essas disputas, fazendo alianças ora com um grupo, ora com outro.

Mas tais conflitos também acabaram por envolver os interesses dos conquistadores. Almagro e Pizarro não concordavam sobre quais atitudes deveriam ser tomadas para o definitivo controle do império e também sobre quais eram os limites do poder ou da influência de cada um deles.

Quando Almagro tentou tomar Cuzco, foi preso e condenado à morte (1538). Assim, a guerra civil também acontecia entre os espanhóis. Em 1541, o filho de Almagro, liderando um grupo de espanhóis, invadiu a casa de Pizarro, em Lima, assassinando-o.