Maias - Uma história de mistérios que ainda não acabou
Érica Turci
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A civilização Maia foi uma das mais importantes civilizações das Américas e as ruínas das suas cidades foram encontradas por exploradores europeus e norte-americanos em meados do século XIX. Como não existiam informações precisas sobre essa civilização, sua história acabou sendo envolvida por um grande mistério: como cidades tão grandiosas, com construções esplêndidas poderiam ter sido esquecidas e recobertas pela floresta? A partir de então, inúmeras teorias surgiram para explicar quem teria sido os povos que ali viviam, muitas delas sem nenhum fundamento científico. Somente a partir de 1960 a civilização Maia começou a ser desvendada.
Ao contrário do que se pensa, os maias não eram um único povo, mas sim vários povos (etnias) que tinham a mesma origem linguística e cultural, e habitavam a América Central (sul do México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador). Ainda não se sabe exatamente quando foi o início da ocupação desse território, as pesquisas arqueológicas demonstram que a agricultura já era praticada ali desde o 3º milênio a.C.
No 2º milênio a.C., as aldeias agrícolas começaram a se agrupar em torno de centros cerimoniais, para ali celebrarem suas festas religiosas e comerciarem, criando o que seriam as primeiras cidades da região. O trabalho agrícola durava quatro meses por ano, o que permitia que os camponeses pudessem se dedicar a outras atividades, principalmente a construções de templos e praças de comércio para o funcionamento dos centros cerimoniais.
Em torno do século 1 d.C., essas primeiras cidades faziam comércio entre si, e também com a distante Teotihuacan, no Vale do México, governada pelos olmecas. Muitos estudiosos acreditam que os olmecas influenciaram o desenvolvimento das cidades maias, já que muitas delas copiaram a estrutura arquitetônica e a organização política dos teotihuacanos.
As cidades-Estado
Com o tempo, tais centros urbanos se transformaram em centros administrativos e passaram a controlar as aldeias vizinhas. Os sacerdotes e os guerreiros assumiram o controle social e político dessas cidades. Eram sustentados pelos camponeses das aldeias, obrigados a pagar tributos, tanto em alimentos, quanto trabalhando na construção de templos, palácios, pirâmides, estradas, símbolos do poder da elite. Os comerciantes também faziam parte da elite dominante e controlavam o rico comércio de jade, obisidiana e cacau (esse fruto era muito importante na Mesoamérica, pois com ele fabricava-se o xocoatl, uma bebida exclusiva dos reis, e as suas sementes eram utilizadas como moeda pelos maias).
Esses inúmeros centros urbanos independentes, sustentados por dezenas de aldeias agrícolas ao seu redor, são a base da organização politica da Civilização Maia. Mesmo durante o período de maior desenvolvimento dos maias, o Período Clássico (entre os século 3 e 9 d.C.), não ocorreu a unificação entre as cidades, chamadas de cidades-Estado.
Hoje se conhecem mais de 40 dessas antigas cidades, ente elas: Tikal, Palenke, Calakmul, Uaxactun, Cobá, Copán, Piedras Negras, Uxmal. Muitas delas tombadas como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco. As cidades-Estado maias guerreavam constantemente umas com as outras, a fim de ampliar suas zonas de influência e, também, com o intuito de obter prisioneiros de guerra, que eram escravizados ou sacrificados em rituais religiosos.
A partir de 800 d.C., as mais importantes cidades-Estado maias foram sendo abandonadas uma a uma. Não se sabe com certeza quais as razões que levaram a isso, mas os historiadores acreditam que um conjunto de problemas atingiu os maias, obrigando-os a abandorem seus centros de poder:
- o aumento populacional gerou necessidade de maior quantidade de alimento. Como a agricultura maia era feita através de queimadas e rotação de solo, rapidamente houve uma diminuição da fertilidade da terra, causando ondas de fome;
- o fenômeno El niño e o desmatamento das florestas teriam causado uma série de mudanças climáticas na região, ocasionando a seca, que aumentou ainda mais a fome que já atingia as populações;
- a fome ampliou as guerras entre as cidades, que lutavam por regiões férteis;
- Teotihuacan, a cidade mexicana parceira comercial dos maias, entrou em declinio (não se sabe por que), o que teria atingido o comércio maia;
- uma série de rebeleiões populares, devido à fome e à pobreza, teria ocorrido em várias cidades-Estado;
- os guerreiros toltecas vindos do México conquistaram as cidades maias Chichén-Itzá e Uxmal, controlando quase todas as outras cidades em pouco tempo.
Entre os séculos X e XVI, umas poucas cidades tentaram manter o controle sobre os povos maias, mas as guerras constantes e as crises econômicas não possibilitaram o "renascimento" da cultura maia, como tinha sido no Período Clássico. De qualquer forma, ao contrário do que se acredita, os maias jamais desapareceram. As grandes cidades foram abandonadas, mas as aldeias continuaram a abrigar os camponeses. Hoje em dia a língua maia ainda é falada por 7 milhões de pessoas e a cultura maia é presevada por centenas de povos da América.
A cultura maia
Por inúmeros motivos os maias são chamados de "Gregos do Novo Mundo". Como vimos antes, assim como os gregos antigos, os maias nunca formaram um Estado unificado. Além disso, o grande desenvolvimento artístico e científico fez com que os maias fossem comparados aquele povo antigo europeu.
A arquitetura das grandes cidades maias conta com grandes templos, palácios e pirâmides em degraus. Apesar de essas construções conterem uma série de imperfeições (como paredes tortas, ângulos nem sempre corretos), o efeito que causa a sua grandiosidade serve aos seus propósitos: deixar o visitante pasmo com o poder do povo que ali habitava.
A cerâmica maia está entre as mais refinadas do mundo. Os trabalhos feitos em pedras são primorosos, ainda mais por que os maias não utilizavam nem os metais para a confecção de seus monumentos e nem a roda para transportar as pedras (já que consideravam que a utilização de meios que facilitavam o trabalho retiraria dele seu valor sagrado).
A escrita maia é uma das mais complexas do mundo, composta por fonogramas (símbolos que representam sons) e por ideogramas (símbolos que representam ideias). Pela complexidade acredita-se que somente a elite maia tinha acesso à leitura e a confecção da escrita, mas de qualquer forma, a escrita fazia parte do cotidiano nas grandes cidades. Estelas contando a história ou o feito de um rei faziam parte do cenário das praças públicas maias. Os livros maias (chamados hoje de códices) deveriam ser muitos no Período Clássico, mas quando os espanhóis dominaram a região destruiram todos os códices que encontraram. Hoje restam somente três códices conhecidos: o de Dresden, o de Madri e o de Paris.
Atualmente 85% da escrita maia já foi decodificada, mas a cada nova descoberta arqueológica, novos símbolos aparecem, o que dificulta o trabalho dos pesquisadores.
O mais famoso livro maia é o Popol Vuh, livro escrito por um dos povos maias, os quichés, e conta a origem do mundo segundo a religião maia.
Os maias desenvolveram a matemática, chegando a conceber o conceito do número zero, muito antes que os europeus, que eles representavam com o símbolo de um cesto vazio. Também eram excelentes astrônomos, e sem qualquer instrumento de medição do tempo ou de observação, conheciam com exatidão o movimento da Terra, da Lua e de Vênus. Os maias desenvolveram três calendários, que eram usados simultaneamente:
- o calendário lunar, que era utilizado pelos sacerdotes para as suas previsões e celebrações;
- o calendário solar, dividido em 18 meses de 20 dias, ao que se somava cinco dias no final (chegando aos 365 dias);
- o calendário venusiano (de Vênus), de contagem longa, a partir do qual calculava-se o tempo histórico, que segundo os maias teria se iniciado no ano 3114 a.C do calendário cristão.
A religião
"(...) Tratemos agora de criar seres obedientes, respeitosos, que nos sustentem e alimentem". (Popol Vuh, parte I, capítulo 2).Essa frase teria sido dita pelos deuses Tepeu e Gucumatz (também chamado de Kulkucán, a "serpente emplumada"), respectivamente o Criador e o Formador, quando resolveram criar o Homem. Depois de algumas tentativas, os deuses perceberam que os homens precisavam "de sangue, de substância, de umidade" para existirem plenamente, e dessa forma foi doado aos homens o sangue divino.
A base da religiosidade maia pode ser entendida a partir dessa obrigação que os deuses tinham lhes imposto: os povos deveriam obedecer, respeitar e alimentar os deuses. E o alimento que mais contentava os deuses era o sangue, que eles próprios doaram aos homens, por isso os sacrifícios de animais e de seres humanos eram comuns. Às vezes nem era necessário que o homem fosse morto num ritual, o furo nas orelhas, na língua, nos dedos e a oferenda do sangue já era suficiente para alimentar as divindades.
Outra característica da religiosidade maia era a crença num mundo cíclico, pois tudo se repetia eternamente. A cada 52 anos, quando os calendários solar e lunar voltavam conjuntamente ao ponto inicial, os mais acreditavam ter se encerrado um ciclo, e a partir da nova contagem de tempo tudo se repetiria.
Hoje em dia muito se fala do final de mundo previsto pelos maias (em dezembro de 2012). Mas o que na realidade a cultura maia acreditava era que um ciclo terminaria nessa data, e outro se iniciaria.