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Povos africanos na América Espanhola - Revolta e independência do Haiti

Érica Turci

Desde o início da colonização espanhola, quando a fome, as doenças e o trabalho excessivo exterminaram grande parte das populações indígenas da América, os colonizadores recorreram ao uso da mão de obra escrava africana.

Se as populações indígenas sofriam com a exploração e o preconceito espanhol, os africanos eram ainda mais explorados. Longe de sua terra natal, de seu povo, de seus costumes, o africano era um marginal na sociedade americana.

Vistos como infiéis, pois muitos deles já tinham tido contato com a religião muçulmana (uma herança da intolerância gerada pela Guerra da Reconquista), os africanos nem sequer contavam com a defesa dos religiosos. Bartolomé de Las Casas, por exemplo, um frei que ficou famoso por defender os indígenas contra o sistema de encomienda, sugeriu à Coroa espanhola que utilizasse povos vindos da África na exploração da América.

Da mesma forma que a elite criolla temia as rebeliões indígenas, também se preocupava com os africanos. Estima-se que, no início do século 19, a população americana era de 16,9 milhões de habitantes; e desse total somente 3,2 milhões eram europeus (chapetones) ou descendentes deles (criollos).

Haiti: revolta africana e independência

A colônia francesa de São Domingos foi a primeira colônia da América Latina a conseguir se tornar independente de sua metrópole europeia, adotando o nome de Haiti. E, ao contrário da maioria dos movimentos de independência da América, no Haiti a liderança não coube à elite dona de terras, mas aos escravos africanos.

A colônia de São Domingos (ilha que, na língua indígena, se chamava Ahti), em 1697 passou a pertencer exclusivamente à França. Ali, a produção açucareira, por meio da exploração da mão de obra escrava africana, rendeu fortunas aos franceses.

As condições de trabalho dos escravos eram péssimas, assim como em outras colônias da América (por exemplo, o Brasil), mas, em São Domingo, o número de escravos era muito maior que o número de colonos franceses. As revoltas escravas eram combatidas com extrema violência.

Quando, em 1789, estourou a Revolução Francesa, os ideais de liberdade e igualdade entraram em choque com os interesses da elite colonial de São Domingos, que queria manter a escravidão. Levantes de mulatos na colônia foram reprimidos, mas na metrópole francesa muitos defendiam o fim da escravidão.

Diante dessa situação contraditória, rebeliões de escravos passaram a varrer São Domingos a partir de 1791: fazendas eram queimadas e latifundiários executados.

Toussaint L'Ouverture, ex-escravo, foi um dos grandes líderes nesse processo. E como os colonos franceses se recusavam a fazer um acordo com os escravos rebeldes, a situação ficava cada vez mais tensa na colônia.

Em 1794, uma lei francesa pôs fim à escravidão em suas colônias. Mas a rebelião dos escravos acabou se transformando numa luta pela independência. Depois de um longo período de guerras contra as tropas francesas enviadas por Napoleão, Jean-Jacques Dessalines, um ex-escravo, proclamou a independência do Haiti em 1804.