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História geral

Império português - o reino de Portugal - Da Guerra da Reconquista à dinastia de Avis

Érica Turci

Na Antiguidade, quando Portugal era chamado de província Lusitânia e fazia parte do Império Romano, a cidade do Porto era um importante centro comercial que se localizava na foz do rio Douro, no litoral atlântico.

Na Alta Idade Média, essa cidade foi palco de inúmeros conflitos políticos, durante o período em que os suevos controlaram a região (entre os séculos 5 e 8). Ali também se formou uma importante diocese da Igreja Cristã Romana, em meados do século 6.

Quando, a partir do século 8, os árabes dominaram a maior parte da Península Ibérica, a cidade do Porto caiu sob domínio dos invasores. Os povos ibéricos cristãos (intolerantes aos "infiéis" muçulmanos) mantiveram o controle sobre as Astúrias (norte da península), e a partir dali passaram a lutar contra os invasores, no processo que ficou conhecido como Guerra da Reconquista. Durante essa guerra, a cidade do Porto foi retomada pelos cristãos em 868.

A partir de então, a região passou a ser chamada de Portucale. Ainda hoje, os especialistas discutem sobre a origem desse nome. A explicação mais aceita é a de que a palavra seja composta de portus (do latim, "porto") e kalos (do grego, "belo"), portanto, "Porto Belo".

Durante a Guerra da Reconquista, Portucale foi um importante centro de expansão cristã. As terras tomadas dos muçulmanos a partir dali passaram a se chamar Terras Portucalenses. Mas, no contexto dos conflitos entre cristãos e muçulmanos, os reinos de Leão e Castela (que formariam, futuramente, a Espanha) lideraram a organização da guerra, ficando as Terras Portucalenses sob controle desses reinos.

O Condado Portucalense

No final do século 11, com o início das Cruzadas, convocadas pelo papa Urbano 2o, a Guerra da Reconquista atraiu nobres de vários cantos da Europa, que chegavam à região em busca de prestígio (relação de suserania e vassalagem, típica da Idade Média: apoio militar em troca de terras e títulos de nobreza).

Em 1077, d. Afonso 6o se tornou rei de Castela e Leão. Fervoroso cristão, esse rei fez aliança com a Ordem de Cluny (ordem religiosa da Borgonha francesa, que tinha como um de seus propósitos a luta contra os infiéis) e com o papado, a fim de ter apoio na Reconquista. Inclusive, casou duas de suas filhas com sobrinhos do papa Urbano 2o.

Dom Henrique de Borgonha, apesar de ser sobrinho do papa, era o filho mais novo de sua família, portanto sem direito a herança, e resolveu se arriscar na guerra da Península Ibérica. Depois de vitórias contra os muçulmanos acabou por ganhar em casamento dona Tareja (filha mais nova de d. Afonso 6o), e pouco tempo depois recebeu as Terras Portucalenses, que passaram a se chamar Condado Portucalense. Dom Henrique ganhava, assim, o título de conde.

O conde d. Henrique ampliou a importância do condado durante as guerras contra os muçulmanos e buscou ampliar sua autonomia em relação aos castelhanos e leoneses.

O condado, por essa época, já tinha sua população distribuída e organizada a partir de suas prioridades econômicas (e essa divisão será um marco na história de Portugal): no litoral se localizavam os pescadores, os mercadores e os pequenos artesãos, e no interior se localizava a nobreza feudal, de origem castelhana e leonesa. D. Henrique tinha grande apoio entre a população do litoral, que lutava por autonomia, mas era mal visto pela nobreza do interior, que estava ligada por laços sanguíneos a Castela e Leão.

O reino de Portugal e a dinastia de Borgonha

Quando, em 1112, dom Henrique faleceu, dona Tareja passou a governar o condado de acordo com os interesses da nobreza, gerando o descontentamento de mercadores e artesãos do litoral (a burguesia). Dessa forma, seu filho, d. Afonso Henriques, com apenas 14 anos, pegou em armas contra sua própria mãe, a fim continuar o processo de autonomia iniciado por seu pai.

Em 1128, d. Afonso Henriques venceu a nobreza aliada à dona Tareja (Batalha de São Mamede) e, em 1139, venceu os muçulmanos (Batalha de Ourique), declarando a independência da região, que passou a se chamar reino de Portugal (1143), iniciando assim a dinastia de Borgonha.

A dinastia de Borgonha (1142-1385) foi responsável pela centralização política do reino português: conseguiu o reconhecimento de sua soberania perante os outros reinos europeus e o papado, submeteu a nobreza dona de terras, criou impostos para obter parte dos lucros dos mercadores, venceu e expulsou os muçulmanos do território português e anexou o Algarve (sul de Portugal).

Mas a soberania portuguesa se viu ameaçada em 1383, quando morreu d. Fernando, sem deixar herdeiro homem ao trono, sendo que sua única filha era casada com d. Juan 1o, rei de Castela. Nessa situação, a nobreza portuguesa passou a defender que os castelhanos governassem o reino. Ao mesmo tempo, contudo, os comerciantes do litoral (que queriam a manutenção da autonomia portuguesa) defendiam que d. João, Mestre de Avis, irmão ilegítimo de d. Fernando, fosse o novo rei.

Iniciou-se uma guerra entre Castela e Portugal, que foi vencida pelos portugueses, com a ajuda dos ingleses (levados à guerra, principalmente, por causa das relações comerciais estabelecidas com os mercadores de Portugal).

Terminava a dinastia de Borgonha. A nova família real, a dinastia de Avis, além de receber amplo apoio dos mercadores portugueses, passava a governar um Estado centralizado e bem administrado. E foram esses os mais importantes fatores que possibilitariam, no século seguinte, a expansão econômica portuguesa através dos mares.

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