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Império português - a conquista da África - Fernão Gomes, Diogo Cão e Bartolomeu Dias

Érica Turci

Em 1453, os turcos tomaram Constantinopla, capital do antigo Império Romano do Oriente, e em poucos anos dominaram a região dos Bálcãs, ameaçando o leste europeu. Por causa disso, os preços dos produtos que vinham do Oriente para a Europa subiram em torno de 800%.

Então, o papa Calisto 3º pediu que se fizesse uma nova cruzada contra os invasores. D. Afonso 5º, rei de Portugal, começou a organizar suas tropas, mas durante os preparativos o papa morreu e a cruzada não se realizou. Aproveitando os recursos militares reunidos, os portugueses passaram a atacar, novamente, o norte da África, conquistando Tânger (1471), importante centro comercial muçulmano.

Tratado Alcáçovas

Após a morte do infante d. Henrique (1460), o rei d. Afonso 5º entregou, em 1469, ao comerciante português Fernão Gomes, o direito de explorar a costa africana por 5 anos. Em troca, Fernão Gomes deveria pagar uma renda de 200 mil réis (moeda da época) e avançar 100 léguas em direção ao sul, a cada ano de concessão.

Durante esse período, os portugueses entraram em contato com as ricas praças de comércio da Guiné Equatorial e de Gana, descobrindo, também, as ilhas de São Tomé e Príncipe, Ano Bom e Fernando Pó, garantindo uma grande quantidade de escravos e de ouro para o reino português - e um título de nobreza a Fernão Gomes.

Ainda durante o reinado de d. Afonso 5º, um importante acordo foi firmado entre portugueses e espanhóis: o Tratado Alcáçovas (1479), que definia que as ilhas Canárias pertenceriam à Espanha (depois de muitos anos de disputa entre os 2 reinos), mas as terras ao sul desse arquipélago, "descobertas ou por descobrir", pertenceriam a Portugal.

Em 1474, o infante d. João (que em 1481 se tornaria o rei d. João 2º - o Príncipe Perfeito) tomou para si as atividades ultramarinas, com o claro objetivo de chegar às Índias através da rota marítima africana.

Diogo Cão e Colombo

Entre 1482 e 1486, D. João 2º contou com os serviços de um dos maiores navegadores portugueses: Diogo Cão. Em sua primeira viagem, Diogo Cão chegou até o sul de Angola, confirmando o que antigos mapas gregos já informavam: a costa africana a partir dali passava a se direcionar para leste.

Em sua segunda viagem, prosseguiu por mais 1.300 km e, mesmo não tendo encontrado a passagem para o Oceano Índico, deixou informações valiosas, que permitiram a Bartolomeu Dias, outro famoso navegador, conseguir atravessar o Cabo das Tormentas em 1488 (atual Cabo da Boa Esperança).

Por essa mesma época, Cristóvão Colombo, navegador genovês, procurou d. João 2º e propôs uma expedição para as Índias, que partiria em direção ao ocidente e contornaria o globo até a Ásia. D. João não aceitou a proposta de Colombo. Apesar de a viagem ser extremamente ousada, talvez outros motivos tenham levado o rei de Portugal a não patrocinar Colombo.

Pouco se sabe sobre os descobrimentos portugueses dessa época. Por motivos diplomáticos, todas as viagens, mapas e rotas eram mantidos em sigilo. Os documentos portugueses que poderiam nos dar alguma informação foram soterrados por um terremoto que destruiu Lisboa no século 18. Sabe-se hoje que outros navegadores a serviço do rei (como por exemplo, Duarte Pacheco Pereira), fizeram algumas viagens. Mas não existem documentos que comprovem tais expedições.

Dessa forma, acredita-se que d. João 2º recusou os serviços de Colombo pelo fato de já possuir mais informações (sobre a travessia para as Índias) do que os documentos que temos hoje comprovam.

Tratado de Tordesilhas

Quando Colombo chegou à América (1492), d. João 2º, valendo-se do Tratado de Alcáçovas e da bula papal Romanus Pontifex, conseguiu negociar com a Espanha um novo acordo, o Tratado de Tordesilhas (1494), que dividia o mundo a partir de um meridiano traçado a 370 léguas a oeste de Cabo Verde. Assim, as terras a oeste desse meridiano pertenceriam à Espanha e as terras a leste pertenceriam a Portugal.

Apesar das tentativas de d. João 2º, os portugueses só chegaram às Índias no reinado de d. Manuel 1º, o Venturoso. Enquanto os reis de Portugal contavam com grande apoio da burguesia, a nobreza portuguesa se opunha ao projeto de chegar à Ásia, pois tinha seu status e seus rendimentos garantidos com as regiões que já dominava: o norte da África e a Guiné. Ao mesmo tempo, a expansão pelo Oceano Índico aumentaria o gasto com a manutenção da rota e das novas praças comerciais.

Um dos maiores escritores da Língua Portuguesa, Luís Vaz de Camões, conta isso no livro Os Lusíadas, no episódio "Velho de Restelo" (que representava o ideal dos nobres):


"A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo d'algum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
De ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias?

A essas questões respondeu, vários anos depois, outro grande escritor português, Fernando Pessoa, no livro Mensagem:

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o Céu.

Nessa grande obra, Fernando Pessoa enaltece o heroísmo português. Afinal, como tal povo foi capaz de tamanha epopeia?