Reino de Espanha - O primeiro império global da era moderna
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No início do século XV a Espanha ainda não era a Espanha. Era apenas um conjunto de reinos com uma enorme mistura de povos e culturas, e seu território estava dividido em regiões independentes: Galícia, Astúrias, Leon, Castela, Navarra, Aragão e Catalunha; enquanto no extremo sul o Reino de Granada era dominado pelos mouros.
Nos portos e centros urbanos desses reinos conviviam espanhóis, mouros, italianos, portugueses e uma das maiores comunidades de judeus de toda a Europa. E por muito tempo foi assim, até que Isabel, futura rainha de Castela, conheceu o rei Fernando II, de Aragão, e um casamento aconteceu.
Para contar sobre esse casamento e o que ele significou para a consolidação do reino da Espanha, vamos voltar um pouco no tempo para descobrir como foi o início da vida dessa rainha, que mais tarde receberia a alcunha de "a católica".
Isabel foi a terceira filha do rei Juan II e estava com três anos de idade quando seu pai faleceu. Enquanto Henrique, seu irmão mais velho, herdava o trono de Castela, ela teve que ir morar na aldeia de Arévalo.
Dez anos se passaram até que Isabel pudesse voltar para a corte sob a tutela de seu irmão Henrique. Mas não demorou muito para que o rei fosse deposto e seu irmão mais novo, Afonso, tomasse seu lugar. Essa conspiração ocorreu somente por que Afonso tinha apenas 11 anos de idade e seria facilmente manipulado pelos nobres que desejavam o poder.
A princesa das Astúrias
Esse arranjo, entretanto, durou apenas três anos e terminou com a morte inesperada de Afonso. Os conspiradores voltaram então seus olhos para Isabel e a coroaram "princesa das Astúrias", pensando que uma menina com apenas 16 anos poderia ser controlada com facilidade. Mas estavam enganados.
Castela e Aragão eram os reinos católicos mais influentes da região e, desde o início da Guerra da Reconquista no século VIII, lideravam os hispânicos contra os invasores mouros. Isabel sabia que precisava de um aliado poderoso para conseguir reinar com segurança e por essa razão, dentre vários pretendentes, escolheu o rei Fernando II de Aragão. Casaram-se em 1469 e deram início à formação do Reino da Espanha.
Desde o princípio, o processo de centralização política que propuseram foi lento e marcado por conflitos, pois as ligas dos nobres, chamadas banderías, se recusavam a aceitar o domínio castelhano e aragonês. Mas Isabel e Fernando, que eram chamados de os Reis Católicos, souberam canalizar os interesses militaristas e religiosos dos hispânicos para a Guerra da Reconquista contra os inimigos mouros.
Enquanto esse objetivo não era alcançado, os Reis Católicos cuidavam de outras frentes e em 1474 enviaram uma expedição para conquistar as Ilhas Canárias, primeira etapa da expansão marítima espanhola. Em razão desse episódio, foi assinado com Portugal em 1479 o Tratado de Alcáçovas, que garantiu para o reino espanhol o domínio marítimo atlântico até aquele arquipélago.
Se esse acordo abria as portas para futuras conquistas espanholas, vale lembrar que ele também influenciou bastante a expansão marítima portuguesa, ao estabelecer que a partir do sul das Ilhas Canárias o direito de exploração fosse de Portugal.
Quando o reino mouro de Granada foi tomado pelos espanhóis, em janeiro de 1492, Fernando e Isabel puderam enfim celebrar o triunfo da união espanhola e, assim, avançar nas suas pretensões de um reino unificado.
Estratégias para a unificação
O Estado espanhol que se formava era católico e intimamente ligado ao papa Alexandre VI, um espanhol eleito papa em 1492. Essa aliança entre os reis e a Igreja fez que a Inquisição se instaurasse com grande força na Espanha, exercendo muitas vezes o papel de perseguidora política, em defesa dos interesses dos Reis Católicos.
Por outro lado, a Universidade de Salamanca, em Castela, era um importante centro de estudos humanistas e foi responsável pelas maiores contribuições para as leis que garantiam a centralização política espanhola.
A Universidade de Salamanca foi também importante para o desenvolvimento de estudos náuticos e geográficos, que seriam muito úteis para a expansão marítima da Espanha, assim como, após a conquista da América, formularia as leis garantindo os direitos espanhóis sobre as terras e os povos conquistados.
Ao mesmo tempo em que procuravam aumentar seu poder por meio de conquistas territoriais e expansão marítima, no âmbito interno os Reis Católicos buscavam uma identidade cultural entre os hispânicos, incentivando o preconceito, principalmente contra os negros, mouros, judeus e ciganos. Fiéis à sua estratégia para unificação do reino, em 1492, no mesmo ano em que venceram os mouros em Granada, decretaram a expulsão dos judeus e dos mouros que não aceitavam se converter ao catolicismo.
Nessa mesma época, Fernando II iniciou expedições militares rumo à Itália e suas vitórias levariam Nápoles e a Sicília a se submeterem à Espanha. Dessas campanhas participaram vários futuros conquistadores da América, entre eles Hernán Cortes.
Coroando um ano excepcional, foi também em 1492 que os reis espanhóis financiaram Cristóvão Colombo em sua busca das Índias. Colombo daria para o reino espanhol o poder que nenhum outro reino europeu possuía: colônias riquíssimas em ouro e prata, além de terras férteis e povos para serem explorados.
Direto ao ponto
Em resumo, o reinado de Isabel e Fernando II ficou marcado na história por seu empenho pela unificação e expansão da Espanha e ao fazer isso os seus atos sempre estiveram envolvidos com as seguintes questões:
- luta pela centralização política e unificação cultural, baseada na intolerância religiosa e no militarismo;
- desenvolvimento científico e humanista amparados pela Universidade de Salamanca;
- guerras pela conquista de regiões italianas;
- expansão marítima e comercial atlântica incentivadas pela concorrência com Portugal.
Entretanto, mais do que representar o reinado de Isabel e Fernando II, essas questões são essenciais para compreender a própria Espanha do século XV e, principalmente, como a partir de suas conquistas se transformou no maior império da Idade Moderna.
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