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Segunda Guerra Púnica - Batalha de Cannae - Romanos sofrem sua maior derrota

Érica Turci

A mais famosa batalha da 2ª Guerra Púnica foi a de Cannae (ou Cannas), em 216 a.C., que entrou para a história como a maior derrota romana. O general cartaginês Aníbal, vitorioso nessa batalha, é considerado por historiadores e militares como o "pai da estratégia".

Depois das vitórias cartaginesas na Itália, Fábio Máximo, ditador romano, resolveu não enfrentar o exército de Aníbal, mas manter tropas em seu encalço, limitando seus movimentos. Tal estratégia (conhecida como Estratégia Fabiana), não agradou aos romanos e seus aliados, que queriam a expulsão dos cartagineses de seu território. Por esse motivo, o mandato de Fábio não foi renovado.

Caio Terêncio Varrão e Lúcio Emílio Paulo, eleitos cônsules, logo organizaram o maior exército que Roma tinha reunido até então: 8 legiões romanas (cada legião tinha em torno de 5 mil homens), mais a mesma quantidade de soldados aliados. A cavalaria tinha em torno de 6.500 homens, totalizando uma força de quase 87 mil soldados. Reunido, esse exército partiu para enfrentar as tropas cartaginesas que se encontravam no sul da Itália, próximas à cidade de Cannae, na Apúlia.

O exército cartaginês contava com 46 mil homens a pé (infantaria) e 8 mil cavaleiros - e era composto por diversos povos: cartagineses, númidas, gauleses, hispânicos, celtas, entre outros, o que poderia causar problemas para a liderança de Aníbal. Mesmo assim, a genialidade de Aníbal superou todas as expectativas. Além disso, seus homens o admiravam, seus generais eram-lhe fiéis, e depois das muitas vitórias que já tinham obtido, o moral das tropas estava alto.

A estratégia de Aníbal

A batalha ocorreu às margens do rio Ofanto e iniciou-se na manhã de 2 de agosto de 216 a.C. O exército cartaginês se posicionou com o sol às suas costas, deixando para os romanos o problema de ter a luz solar atrapalhando a visão.

Enquanto as tropas marchavam para o combate corpo a corpo (a linha de frente romana ocupava mais de um quilômetro de comprimento), a poeira levantada tornou-se muito densa, o que mais uma vez atrapalhou os romanos, pois o vento levava o pó em sua direção.

Ambos os exércitos posicionaram, como de costume, a infantaria no centro e a cavalaria dividida nos flancos (direita e esquerda) da linha de frente. Rapidamente, a cavalaria cartaginesa próxima ao rio Ofanto derrotou a cavalaria romana, permitindo que tropas cartaginesas passassem a cercar os romanos. Ao mesmo tempo, a infantaria cartaginesa começou a recuar numa formação em "U", obrigando a infantaria romana a avançar.

Os romanos não se deram conta de que, aos poucos, os cartagineses estavam se fechando em torno deles e passaram a enfrentar os inimigos por todos os lados, sendo espremidos no centro do círculo formado por Aníbal. Dessa forma, a quantidade imensamente superior de soldados só atrapalhou os romanos, pois não tinham espaço para se movimentar.

Consequências da batalha

Políbio, historiador da Antiguidade, conta que 70 mil romanos morreram e 11 mil foram feitos prisioneiros nessa batalha que durou um dia. Cannae está entre as 50 batalhas mais sangrentas de toda a história (e eles nem conheciam a pólvora!).

Com essa vitória, Aníbal passou a controlar o sul da Itália. Siracusa, principal cidade da Sicília, se tornou aliada de Cartago. A Macedônia, que desde muito tempo via em Roma uma ameaça, se aliou aos cartagineses.

Ao mesmo tempo, em Roma, o desastre provocado pela derrota foi enorme: não existia nenhuma legião inteira que pudesse defender a cidade, pois um quinto dos homens em idade e condição de servir ao exército tinha morrido.

Nessa situação de grande vantagem, Maharbal, comandante da cavalaria númida que servia aos cartagineses, propôs a Aníbal o ataque a Roma, mas este recusou. Aníbal sabia que seus homens estavam cansados e que, para chegar a Roma, teriam que vencer uma série de cidades aliadas dos romanos. Maharbal teria dito a Aníbal: "Sabes como vencer, mas não sabes fazer uso de sua vitória".