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História geral

Unificação italiana - Casa da Savoia e Garibaldi foram personagens centrais

Vitor Amorim de Angelo

É comum ouvirmos que alguns países da Europa, como a Itália, unificaram-se tardiamente. Mas o que significa isso, afinal? Para entendermos essa questão é preciso voltar um pouco na história - mais precisamente ao início do século 19 -, para verificar como se deu o processo de reorganização política da Europa após a derrota do imperador francês Napoleão Bonaparte.

O Congresso de Viena, encerrado em 1815, teve como objetivo restabelecer o equilíbrio político no continente com a restauração das antigas monarquias derrotadas por Bonaparte. Nesse acordo, o que hoje conhecemos como Itália foi dividido em vários estados. Dentre eles, o único independente era o Piemonte-Sardenha, localizado ao norte da península italiana e governado pela dinastia de Savoia.

O restante dos estados ao norte pertenciam à Áustria ou eram governados sob sua influência, como era o caso dos reinos da Lombardia e de Veneza e dos ducados de Parma, Módena e Toscana. Ao centro, havia os Estados Pontifícios, governados pelo papa; e, ao sul, o reino das Sicílias, entregue à dinastia de Bourbon. Observe-se, então, que, enquanto o Congresso de Viena representou a retomada dos territórios para muitos monarcas, para a Itália, ao contrário, o acordo significou sua fragmentação.

Nacionalismo e risorgimento italianos

Foi com esse pano de fundo, portanto, que ocorreu o processo de unificação italiano. Um elemento fundamental para compreendê-lo é o nacionalismo, ou seja, um forte sentimento identitário difundido entre a população, embora esta se encontrasse dividida. Fatores como a língua e o passado histórico comum foram canalizados politicamente na direção de uma luta contra os governantes externos.

Teve grande importância, nas primeiras tentativas de unificação, o movimento Jovem Itália, que defendia a constituição de uma república democrática. Seu fundador, Giuseppe Mazzini, contou com o patrocínio do rei de Piemonte-Sardenha, Carlos Alberto de Savoia. Este, por sua vez, inspirava-se no risorgimento, movimento em defesa da liberdade italiana em relação ao domínio estrangeiro. O nacionalismo, o risorgimento e as propostas do Jovem Itália se tocavam em muitos pontos.

Essa primeira tentativa foi sufocada pela invasão de tropas estrangeiras. O rei Carlos Alberto, que declarara guerra à Áustria e fora derrotado, abdicou do trono em favor de seu filho, Vitor Emanuel 2º. O novo rei nomeou o conde de Cavour como seu primeiro-ministro.

Foi então que teve início mais uma tentativa de unificação. Contudo, não por um movimento popular, mas, sim, capitaneado pela própria casa de Savoia - semelhante ao que ocorreu na unificação alemã. Nos anos 1850, Cavour aproximou-se da França. Primeiro, enviando tropas do reino para auxiliá-la na Guerra da Crimeia. Em seguida, prometendo a Napoleão 3º, então imperador francês, os territórios de Savoia e Nice (pertencentes ao reino de Vitor Emanuel) em troca de apoio numa nova guerra contra a Áustria.

O conflito, que se estendeu até 1861, garantiu o controle de praticamente todos os reinos da península itálica, incluindo parte das possessões da Igreja e os territórios localizados no extremo sul. Um dos grandes nomes desse período foi Giuseppe Garibaldi, que terminou se afastando do processo de unificação por discordar dos rumos tomados pelo movimento.

A conquista dos últimos territórios

É evidente que a luta pela unificação foi, também, uma disputa entre concepções e projetos políticos diversos. Socialistas, monarquistas e nacionais-democráticos eram alguns dos grupos que disputavam o poder.

Ao final, o regime político adotado pela Itália expressou a vitória de um deles: a burguesia industrial nortista. Esta havia crescido bastante com o desenvolvimento econômico do norte italiano, em contraste com a parte sul da península. A ela interessava um processo de unificação rápido, que levasse à formação de um estado forte. Daí, portanto, seu apoio à investida promissora da casa de Savoia.

Em 1861, Vitor Emanuel 2º foi proclamado rei da Itália, transferindo a capital para a cidade de Florença. Restavam ainda dois importantes territórios a serem conquistados: Veneza e Roma. A anexação do reino de Veneza aconteceu em 1866. Naquele ano ocorreu a Guerra Austro-Prussiana. Com a vitória da Prússia, a Itália, que havia lutado contra a Áustria no conflito, recebeu em troca o território de Veneza.

Quanto a Roma, sua anexação foi mais complexa, num processo que só terminou no século 20. Na primeira tentativa de tomada da cidade, Napoleão 3º viera em socorro do papa. Mas em 1870 seus esforços estavam concentrados na Guerra Franco-Prussiana, o que abriu caminho para os italianos ocuparem a cidade. A Igreja, que já tinha perdido vários territórios, ficou, então, restrita ao Vaticano.

A derrota da Áustria na Primeira Guerra Mundial também garantiu à Itália as cidades de Trieste e Trento. E em 1929, pelo Tratado de Latrão, o impasse com a Igreja foi solucionado com a criação do Estado do Vaticano. A Itália, assim, ganhava sua feição atual.

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