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Short story - Conheça uma versão moderna de um conto infantil

Celina Bruniera, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Quem não conhece a história de Chapeuzinho Vermelho? A história da menina que vai à casa da avó e é surpreendida pela presença lobo mau? Pois é, essa história é muito antiga. Na internet, é possível até encontrar algumas versões dela em inglês que datam da Idade Média.


Chapeuzinho Vermelho, assim como outras histórias conhecidas como contos maravilhosos, tem passado de geração a geração e, por muito tempo, foi apenas transmitida oralmente. Isso ocorria quando não havia a imprensa e, portanto, a possibilidade de reprodução das histórias em forma de livro.

Nas mais diversas versões, é possível reconhecer os valores, o modo de vida, os preceitos morais que marcam os diferentes contextos históricos e sociais em que os textos foram escritos. A cada nova versão surge um outro sentido possível para uma história que já é considerada um clássico da literatura mundial.

Para ler numa sentada
Vamos apresentar aqui uma versão contemporânea de Chapeuzinho Vermelho. É uma versão que data da década de 1980 e que foi escrita em inglês. Antes, porém, pedimos que você tente rememorar a história que lhe foi contada, muito provavelmente, quando você ainda era uma criança. Você se lembra dela?

É, também, importante retomar as características de um gênero textual que você deve conhecer muito bem: o conto narrativo. É um texto ficcional marcado pela presença de determinados elementos. São eles: personagens, tempo, espaço, foco narrativo e enredo em que, geralmente, o personagem principal vivencia um conflito. São histórias curtas que, como dizia Edgar Allan Poe, um famoso contista americano, são feitas para serem lidas numa sentada.

No conto maravilhoso, você encontra todos esses elementos e ainda conta com a presença de um ensinamento que se quer transmitir aos outros, sobretudo às crianças. Vale ressaltar que nos textos ficcionais há também a procura pela beleza da forma e de uma linguagem que deixe o texto agradável, gostoso de ler.

Vejamos, então, a versão de 20 anos atrás. Logo abaixo, você encontra um pequeno glossário que poderá ajudá-lo.

The little girl and the wolf

One afternoon a big wolf waited in a dark forest for a little girl to come along carrying a basket of food to her grandmother. Finally a little girl did come along and she was carrying a basket of food. 'Are you carrying that basket to your grandmother?' asked the wolf. The little girl said yes, she was. So the wolf asked her where her grandmother lived and the little girl told him and he disappeared into the wood.

When the little girl opened the door of her grandmother's house she saw that there was somebody in bed with a nightcap and a night gown on. She had approached no nearer than twenty-five feet from the bed when she saw that it was not her grandmother but the wolf, for even in a nightcap a wolf does not look any more like your grandmother than the Metro-Goldwyn lion looks like Calvin Coolidge. So the little girl took an automatic out of her basket and shot the wolf dead.

Moral: It is not so easy to fool little girls nowadays as it used to be.
Author: James Thurber

Elemento surpresa
Surpreso com o fim da história? O elemento surpresa é construído pelo autor. Observe que nos surpreendemos no final porque, logo no início, nos deparamos com personagens e com a configuração de um ambiente muito semelhantes ao que conhecíamos da versão tradicional. É um recurso usado pelo autor para nos remeter à versão conhecida.

Esse recurso faz com que a história que conhecemos venha a nossa cabeça e oriente a leitura dessa outra versão. Cada texto que é produzido, oralmente ou por escrito, é resultado de uma combinação de muitos outros textos. E cada leitura que fazemos de um texto também é um diálogo com os outros textos que lemos ao longo de nossa vida. Essa aproximação entre os textos se chama intertextualidade.

Foi justamente porque o texto foi bem elaborado que nos surpreendemos. A menina é pequena (little), o lobo é grande (big) e o ambiente é aparentemente perigoso (a dark forest). Com isso, não esperávamos que a menina estivesse preparada para reagir à simples presença do lobo na cama de sua avó.

Uma outra história
No entanto, o texto dá sinais de que a história não será a mesma muito antes da menina tirar a pistola da cesta e atirar no lobo. Já no primeiro parágrafo, temos um lobo que espera muito tempo por uma menina ("Finnaly" a little girl did come along). E por qualquer menina ("a" little girl to come). Isso mostra que o lobo não estava numa situação muito confortável.

No segundo parágrafo, a menina mal entra na casa da avó e já nota que havia alguém na cama (there was "somebody" in bed) e, de longe, percebe que se tratava do lobo (She had approached "no nearer than twenty-five feet" from the bed when she saw that it was not her grandmother "but the wolf"). Isso mostra o quanto a menina era esperta e veio preparada para enfrentar qualquer coisa.

Pois é, as meninas de hoje não são enganadas como antigamente costumavam ser. E isso não aparece somente na moral da história, mas já em "for even in a nightcap a wolf does not look any more like your grandmother". Quer dizer nem a touca de dormir faz com que o lobo se pareça com a avó.

Essa versão contemporânea de uma história, considerada um conto infantil nos dias de hoje, retrata os dilemas vividos pelas crianças do nosso tempo. E revela, também, as soluções que as crianças encontram para resolverem seus dilemas.

O texto não estaria fazendo uma crítica exatamente a isso, ao fato de as crianças não poderem ser crianças, de estarem resolvendo seus problemas sem a presença de um adulto (não há adultos na história) e por meio da violência?

Se for assim, a presença de elementos da cultura americana no texto (um presidente e uma produtora de filmes e desenhos animados) não é por acaso.

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