Poesia visual - De Apollinaire aos concretistas
Guillaume Apollinaire (1898 - 1918) representou um marco na literatura francesa, como um dos vanguardistas da poesia visual. A expressão caligramas designa poemas escritos representando imagens, valendo-se da noção de "caligrafia" e de "ideograma", tendo sido empregada pela primeira vez por Apollinaire.
Integrado ao seu tempo, o poeta conviveu, em princípios do século 20, com a arte Naïf, o cubismo e o surrealismo. Conheceu Pablo Picasso, Max Jacob, Modigiliani, Georges Braque e Matisse, familiarizando-se com o efervescente ambiente artístico da região de Montmartre, em Paris, onde artistas se reuniam em ateliês e cafés para falar e promover eventos sobre arte e literatura.
A escrita de Apollinaire propõe motivos clássicos, elegíacos e líricos, combinados à modernidade de sua época, urbana e industrial. Nesse contexto, o autor cria uma poética que dialoga com o passado e com o presente, ora para homenagear o primeiro, ora para aventurar-se no segundo, incorporando à sua poesia plasticidade, melodia e uma disposição espacial inovadora.
Em seus caligramas, Apollinaire convida o leitor não somente a ler, mas a conversar com a obra. O lirismo visual de seus poemas sugere uma exaltação ao novo, preservados os sentimentos de melancolia e solidão.
Esses aspectos tão marcantes devem-se, em grande parte, ao fato de o autor ter imprimido em seu trabalho aspectos de sua vida afetiva e seu particular cosmopolitismo: de um lado, Apollinaire encarna o mal-amado (mal aimé), resultado das suas investidas amorosas que obtiveram pouca, ou nenhuma, reciprocidade; de outro, ele é um estrangeiro, um homem de origens múltiplas e que viveu em diversos lugares, mantendo sobre sua origem um certo mistério.
Vejamos dois caligramas de Apollinaire:
E o caligrama "A gravata", nas versões original e traduzida:
Grafismo no Brasil
Essa exploração do grafismo na poesia chega ao Brasil nos primeiros decênios do século 20, inspirando poetas brasileiros na conformação da Poesia Concreta, que iria afirmar-se como movimento a partir da década de 1950.
Os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari definiriam a poesia concreta como uma "tensão de palavras-coisas no espaço-tempo" (ver o ensaio "A escrita icônica", de Marina Eller Caetano), referindo-se à conformação de uma arte poética calcada não mais no verso, mas, sim, na palavra.
Essa ruptura com a poesia versificada promoveu o enriquecimento de uma "poética da linguagem" em oposição a uma "poética da língua", sublinhando a imagética como elemento fundamental nas produções concretistas.
Dos temas da poesia concreta brasileira, observamos a conciliação entre humor e crítica social, tal como nos exemplos a seguir: o primeiro ("Beba coca cola") de Décio Pignatari, e o segundo ("De sol a sol") de Haroldo de Campos.
Além dos caligramas de Apollinaire, a obra de Mallarmé intitulada Un Coup de Des (Lance de Dados) e os movimentos futurista e dadaísta formam alguns dos principais aspectos que inspiraram artistas brasileiros a desenvolver o movimento concretista no país.
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