Intoxicação por CO - Hemoglobina e monóxido de carbono têm alta afinidade
Texas, setembro de 2005. A passagem do furacão Rita deixa cidades sem eletricidade. Resultado: cinco pessoas mortas. Causa provável: intoxicação por monóxido de carbono (CO). Qual a conexão entre esses eventos?
É comum que geradores -utilizados em casos de falta de energia elétrica- queimem óleo diesel (C15H32), ou um combustível semelhante. Nas combustões completas, temos CO2 e água como produtos. Mas, se não há oxigênio suficiente, acontece a queima incompleta, algo comum nesses geradores: 2 C15H32 + 31 O2 30 CO + 32 H2O. Assim, todos os anos, milhares são vítimas do CO, um gás incolor, inodoro e, portanto, imperceptível. Pessoas dormindo em ambientes pouco ventilados com concentrações por volta de 100 ppm do gás acabam sendo alvos fáceis para esse silencioso assassino. Foi o que aconteceu no Texas.
Mas, como age o CO? Quando respiramos, o O2 é levado dos pulmões ao sangue, de onde é transportado para os tecidos pela hemoglobina (Hb), uma proteína. Cada molécula de hemoglobina acomoda quatro moléculas de O2. Acontece que o CO apresenta uma afinidade química 250 vezes maior pela hemoglobina que o O2. Assim, a oxigenação das células é comprometida na sua presença. Para piorar, a entrada do CO muda o comportamento da hemoglobina. As moléculas de O2 ainda conectadas à proteína ficam mais presas, o que atrapalha ainda mais a entrega de oxigênio para as células. Lentamente, a vítima morre asfixiada.
Em recente episódio da série de TV "ER", uma família, em situação parecida, teve melhor sorte que os texanos. Como a mãe estava grávida e a hemoglobina do feto apresenta maior afinidade pelo CO que a da mãe, ela acordou -em trabalho de parto!- antes que o gás a nocauteasse e pediu ajuda. A essa altura, seu marido e filho já estavam inconscientes. No hospital, foram tratados com inalação de altas dosagens de O2. Até o recém-nascido, tratado em uma câmara hiperbárica, sobreviveu.
Pena que, no Texas, o final não tenha sido como o da televisão.
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